O número de católicos brasileiros diminuiu nos últimos anos. No mesmo período, a quantidade de evangélicos cresceu. Dados de uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostram que, hoje, os católicos representam 68,43% da população do Brasil. Em 2003, eles correspondiam a 74%. Os evangélicos somam 20,2%. Um crescimento de quase 4% no mesmo período. Em Natal, um estudo feito por um professor do departamento de Ciências Sociais, aponta para a proliferação de templos evangélicos em bairros periféricos do município. Somente em Felipe Camarão, na zona Oeste da capital, o número de igrejas dobrou na última década.O levantamento faz parte de um estudo que serviu de base para o livro "Mythos Logos - Uma Epistemologia dos Estudos da Religião" que foi lançado na última segunda-feira. O professor Orivaldo Pimentel Lopes Júnior coordenou o estudo e a elaboração do livro. Desde os anos 80, ele acompanha o crescimento e surgimento das igrejas evangélicas, especialmente no Nordeste. "Até o começo de 1980, a presença dos evangélicos era muito pequena. Apenas 3,4% da população nordestina era evangélica. Esse era o índice do Brasil em 1950. Isso me intrigava. Queria saber porquê havia essa disparidade. Com o tempo, essa resistência foi quebrando e abrindo para uma pluralidade de igrejas", diz. "As cidades maiores, como Salvador e Recife, foram a porta de entrada para o movimento evangélico na região mais pobre do país", completa.
As igrejas evangélicas são divididas em três grandes grupos: Tradicionais, Pentecostais e Neopetencostais. As Tradicionais foram as primeiras a chegar no Brasil e são adeptas da "Teologia da Reforma Protestante".
Nos últimos anos, tem crescido o número de igrejas pentecostais. Segundo o professor, a novidade trazida por essas igrejas é a chamada "experiência com o Espírito Santo". Na igreja tradicional, explica Orivaldo, o batismo ocorre na conversão. "Na pentecostal você se converte e só depois tem uma experiência com o Espírito Santo", completa.
PROLIFERAÇÃO
Foi dentro das igrejas pentecostais que ocorreu a maior proliferação de outras denominações e formação de outros templos. "Houve três grandes ondas nas igrejas pentecostais. A primeira onda venho com a Assembleia de Deus. Em 1950, começa uma nova onda pentecostal com o surgimento de novas igrejas com ênfase nas curas divinas, grandes concentrações e utilização do rádio e televisão para pregar a Bíblia Sagrada. A terceira onda é o que se denomina pentecostalismo de cura divina", explica o estudioso.Já nos anos 70, surge um novo movimento com uma mensagem diferente. Negava alguns costumes e implantou a Teologia da Prosperidade. São os primeiros passos das chamadas igrejas neopentecostalismo. É nesse ambiente que surgem as igrejas no formato de células. "A ideia de igrejas em células foi importada da Colômbia. Funciona no sistema de pirâmide, onde grupos ficam sob orientação de uma pessoa. São sempre grupos de 12, por isso o nome G12", diz Pimentel.
Igrejas em células é novo movimento pentecostal
Em Natal, as igrejas em células ganharam notoriedade quando, semana passada, a prefeita Micarla de Sousa converteu-se ou "recebeu a Palavra", como dizem alguns pastores, em um batismo realizado nas águas da lagoa do Bonfim. Atualmente, a chefe do Poder Executivo municipal congrega na Comunidade Cristã Carismática (CCC).
A igreja funciona num prédio localizado no bairro Capim Macio, região nobre da capital, e, diferente de outros templos, não ostenta placas nem faixas identificando o local. Algumas cadeiras plásticas e faixas onde lê-se "Ganhar", "Consolidar", "Discipular" e "Enviar" completam o ambiente ao lado de frases bíblicas, microfone e púlpito completam o visual. Os cultos são realizados aos domingos e no comando está o pastor Theo Cassimiro Gomes.
A mudança de religião da prefeita Micarla causou polêmico no meio político. Na sessão da última quinta-feira, o vereador Adenúbio Melo (PSB), que também é evangélico, saiu em defesa da prefeita. Segundo o edil, "as pessoas estavam criticando o fato da prefeita escolher uma igreja pequena para congregar. Isso é uma decisão pessoal dela e eu louvo a Deus por Natal ter uma prefeita evangélica", declarou.
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE tentou entrevistar o pastor Theo. Na última terça-feira, por telefone, o religioso chegou a confirmar uma entrevista para o dia seguinte. Porém, faltando uma hora do horário combinado, declinou do encontro. Por telefone, explicou o motivo da desistência: "Não quero falar. Não quero alarde com minha igreja", disse.
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Daniel Filho de Jesus