Em quase meio século dentro do futebol, Eurico Miranda, colecionou
inimizades, atraiu uma legião de seguidores e causou muita polêmica.
Perto de conquistar o 51º título da carreira, o presidente vascaíno abre
o jogo e revela nesta entrevista exclusiva um pouco da intimidade. Fala
sem rodeios da doença, diz que não pensa na morte e que, apesar da
idade, está mais jovem do que nunca.
O BLOG: Em 50 anos no futebol qual é o seu maior orgulho?
Eurico Miranda:
Já ocupei todos os cargos possíveis no Vasco e o principal é o de
presidente. Mas a coisa que mais me orgulho é ser representante, em
maiúsculo, do Vasco.
O BLOG: Do que não se orgulha?
Eurico Miranda:
Sou daqueles que não me arrependo de nada que fiz. Nada. Faria tudo de
novo. É evidente que tem muita coisa que a gente faz, que depois vê que
não era para fazer daquela maneira. Mas não me arrependo, porque no
momento que fiz visava um interesse maior.
OBLOG: O que senhor gosta de fazer na hora de lazer?
Eurico Miranda:
Na TV, gosto de tudo, menos comentários esportivos. Só vejo, se tirar o
som, pois a maioria entende pouco. Gosto de filmes de ação. Drama não
me interessa mais, mas sei apreciar as coisas boas. Ando sem tempo, mas
tinha uma mania, o quebra-cabeça. Estimulava alguns neurônios e me
fazia, naquele momento, esquecer todos os problemas.
O BLOG: Montava com seus netos?
Eurico Miranda: Eles são os únicos que podem mexer nas minhas peças. Os outros não têm permissão.
O BLOG: É como puxar o Casaca?
Eurico Miranda:
Casaca é um grito de guerra que ninguém tem. Não é algo vulgar. É um
grito de triunfo, orgulho. Não é cantado, é puxado. Mal comparando, é
como prestar continência à bandeira nacional. Não admito puxar o Casaca
com as pessoas sentadas. Agora, como venho com isso lá de trás, onde
estou, para puxar o Casaca tem que ser o presidente. Ou então não puxa.
O BLOG: Domingo dá Vasco?
Eurico Miranda:
Você não fica 25 jogos sem perder, em que ganhou dos seus três
adversários. Isso merece ser exaltado. Trabalhei com grupos
excepcionais, de qualidade. Mas este grupo é muito consciente. Posso
dizer que dos muitos que trabalhei não tem um que tenha essa integração
direta. Seria o coroamento de uma campanha brilhante.
O BLOG: O que o Vasco significa para o senhor?
Eurico Miranda: Tirando a minha família, realmente o Vasco é tudo. Aliás, ainda tira um um pouco da minha família. O Vasco é tudo.
O BLOG: O Eurico que a imprensa não conhece é divertido, carrancudo?
Eurico Miranda:
Não sou daqueles do riso fácil, não é o meu estilo. Aliás, isso é uma
das coisas que quando você quer fazer política tem que ser assim, e todo
mundo sempre diz que sou um mau político. Rio só quando tenho vontade,
mas não para ser mais simpático.
O BLOG: Muita gente o considera antipático. Como lida com isso?
Eurico Miranda:
Os que convivem comigo me acham até simpático demais. A questão não é
ser simpático ou não. Tem uma frase de para-choque de caminhão que fala
do grande problema do meio do futebol: “Inveja é uma merda”. É próprio
da natureza humana, entendo isso. Modéstia à parte, estou no meio do
futebol com conhecimento de causa e sei que em matéria de futebol é
muito difícil debater comigo.
O BLOG: Sua família não tem ciúme do Vasco?
Eurico Miranda:
Na vida tudo tem uma questão de compensação. Eu tenho uma bela família.
Quatro filhos, nove netos e eles já nasceram sabendo que têm que
conviver com a minha vida no Vasco.Quando tenho oportunidade, sempre
estou com meus netos.Eles assistem aos jogos, ficam comigo e é uma
satisfação. Deixo eles fazerem o que querem. Fico tão pouco tempo com
eles, que não tem isso de ‘não pode isso, não pode aquilo’. Não posso me
queixar tenho uma família maravilhosa, sou abençoado.
O BLOG: Como é a sua rotina?
Eurico Miranda:
Não é mais a de dois meses atrás, até porque fiz uma cirurgia. Estou
fazendo tratamento preventivo e mudou um pouco nesse sentido. Mas apesar
de fazer quimioterapia, não mudou nada a minha atividade aqui.
Dependendo do dia, posso passar de 12 a 24 horas no Vasco. Acompanho
tudo de perto. Uma coisa é certa, todo dia venho ao Vasco.
O BLOG: O senhor faz 72 anos em junho. Como encara o envelhecimento?
Eurico Miranda:
Sinceramente, não me sinto envelhecido. Fisicamente já não sou o mesmo,
isso é verdade, não sou praticante de exercícios, mas a cabeça, que é a
mais importante, não envelheceu. Armazenou muita coisa. De certa forma,
os anos foram passando, mas um coisa eu tenho certeza plena. Podem não
gostar de mim, mas me respeitam.
O BLOG: O senhor tem uma doença grave, que é de domínio público. Como lida com isso. Tem medo de morrer?
Eurico Miranda:
Você sabe que não penso nisso, sin<ceramente. Eu sei que vou morrer,
mas tenho enfrentado todas essas minhas coisas com naturalidade. Não
modifiquei em nada com essa doença que tive. Na verdade, extirpei dois
tumores.Hoje, faço quimioterapia, que é mais preventiva do que curativa.
Não é agradável, mas enfrento com naturalidade. Faço pelo menos uma
sessão, uma vez por semana. Das 12 sessões, já fiz dez, só faltam duas e
está tudo bem. Tenho muita proteção.
O BLOG: A doença mudou a sua forma de encarar a morte?
Eurico Miranda:
O que eu não gostaria era de morrer antes de ver o Vasco em uma
situação mais tranquila, antes de ver os meus filhos criados, de perder a
chance de conviver mais com os meus netos. Mas tenho certeza de uma
coisa: os meus (familiares) vão demorar a se esquecer de mim.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus