Erasmo Carlos não foge da vida. E nem de perguntas.
Responde tudo com humor e franqueza. Parece não haver assunto proibido
para cantor e compositor, uma das referências do rock brasileiro e
criador, ao lado do parceiro Roberto Carlos, de inúmeros sucessos. Aos
73 anos ele se lança em novo desafio: nos dias 22 e 23 sobe ao palco do
Tom Jazz, em São Paulo, para gravar o DVD Meus Lados B, com músicas que
compôs ou gravou, sobretudo nos anos 1970, que foram atropeladas por
grandes hits, mas jamais esquecidas pelos fãs. É o caso de Os grilos e
Maria Joana, uma verdadeira homenagem à maconha. “Era a época do
desbunde. Eu queria seguir a filosofia hippie”, diz.
A música Maria Joana é homenagem à maconha. Teve problemas na época que a compôs?
Tive. Eu não podia cantá-la em shows, não podia tocar no rádio. A
censura não deixava. Eu a havia escolhido para ser a música de trabalho
do disco, mas... Eu tentei driblar os censores, disse que Maria Joana
era uma homenagem à filha do Nelson Motta (jornalista e produtor
musical) que estava para nascer. A filha dele nasceu, mas se chamou
apenas Joana. Eu quis dar uma de malandro, mas não deu.
É a favor da legalização da maconha?
Sou e não sou. É um assunto que já deveria ter avançado. Veja o caso do
Uruguai. Aliás, outro dia eu estava vendo uma entrevista do presidente
do Uruguai (José Mujica – ele legalizou a droga no país). Que homem
maravilhoso, esclarecido. Sorte dos uruguaios de ter um presidente como
ele.
Você ainda fuma?
Eu fumava sempre (risos). Mas agora não...Nem beber mais eu bebo.
Conseguiu superar a morte do seu filho?
Superar a perda do Gugu ( Carlos Alexandre, o Gugu, morreu em maio
vítima de um acidente de moto) a gente não supera. Vou vivendo,
seguindo. Trabalho muito. O cara que não tem uma ocupação no mundo de
hoje está condenado a ficar maluco. É como dizem: mente vazia, oficina
do demônio.
Como viu essa polêmica da minissérie do Tim Maia?
O problema é que me botam no meio da confusão. Não tenho nada a ver com
a história do Tim com o Roberto. Posso falar da minha com o Tim.
Tivemos bons momentos juntos, como amigos. Agora, achei exagerado como o
diretor (Mauro Lima) encaminhou a cena do dinheiro (no filme, um
assistente de Roberto Carlos atira, a mando do cantor, uma bola de
dinheiro para Tim, que, na porta do camarim, dizia que precisava falar
com Roberto). Estou há 53 anos na estrada e nunca vi nenhum artista ou
produtor que fosse capaz de fazer algo parecido. O Tim não está aí para
contar como verdadeiramente tudo aconteceu.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus