No começo da minha vida cristã, lendo e estudando a Palavra de Deus, nunca vi o sobrinho de Abraão, Ló, com bons olhos. A impressão tão negativa ocorreu por conta de algumas pregações cujos instrumentos sempre o descreviam de maneira contrária.
Mais tarde, eis que me deparo com um texto no novo testamento, de autoria do nosso irmão Pedro (2 Pd 2:7), que faz menção da destruição de Sodoma, exorta-nos sobre os falsos mestres e cita-o do seguinte modo: “... e livrou o justo Ló, enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis (porque este justo, habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, pelo que via e ouvia sobre suas obras injustas).
Diante disso, até hoje penso em Ló, ou Lot, de forma mais parcimoniosa.
Bem! Quando lemos sobre a chamada de Abraão entendemos que o convite era apenas para o tio de Ló com muita clareza: “Ora, o SENHOR disse a Abrão: Sai-te da tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei”.
Sai da tua parentela.
Quando Deus chama alguém para sua obra, é para priorizá-la, deixar tudo e todos no sentido de abraçar a carreira proposta, sem qualquer comprometimento de relação familiar sob pena de sempre amarrar-se em lembranças. Com isto, não queremos dizer virar as costas de maneira total e definitiva.
No caso de Abrão, o futuro reaproximou as famílias quando teve que buscar uma noiva para Isaque.
O fato de Ló ter sido declarado justo na própria Palavra de Deus, não significa que, como todo ser humano, não tivesse defeitos no uso da sua natureza humana e pecaminosa.
É preciso ter em conta que nem todas as nossas fraquezas nos lançam no inferno, mas, são cobradas de maneira vigorosa e em muitos casos até com a morte, como temos exemplos mostrados em Atos 5 com Ananias e Safira e com o jovem aproveitador em 1 Co 5.3-4.
O cristão sensato não deve transgredir apostando na misericórdia do Senhor, pois, o inimigo de nossas almas, vive em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar.
A vida de Ló e os danos causados pela péssima escolha; a liberdade de escolher a direção a ser tomada para evitar os conflitos entre seus pastores de gado, deixaram transparecer o lado frágil da sua personalidade, que era egocêntrica, descuidada e inconsequente. Ao ir morar nas campinas de Sodoma, logo ocupou uma casa dentro da cidade permitindo assim que sua mulher e filhas vivessem confortavelmente no ambiente pecaminoso da cidade.
Nós pagamos por nossas péssimas escolhas e não adianta reclamar depois.
O fato de Deus enviar dois anjos para tirar Ló de Sodoma e sua família antes da destruição da cidade mostra a complacência de Deus com nossas fraquezas e com nossas escolhas, o respeito com o nosso “livre arbítrio”.
A mulher de Ló é figura da pessoa inconsequente cujo coração foi totalmente dominado pelos hábitos de Sodoma. Deu no que deu! O Apóstolo João teve boa razão quando nos exortou: “Não ameis o mundo nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” - 1 Jo 2:15.
Que lição tiramos da história de Ló? Que qualquer de nós, cercados de fraquezas de uma ou de outra forma, não devemos nos ocupar em viver julgando as pessoas por seus atos impensados, mas, fazer como Abraão, interceder, sabendo que as misericórdias do Senhor, são a causa de não sermos consumidos, Lm 3:22.
Não devemos olhar para as pessoas como se todas as oportunidades lhes tivessem sido tiradas. Somente a morte risca para sempre as chances de reabilitar a comunhão com Deus.
Mesmo em condições ruins, não devemos julgar por não sabermos o que se passa no coração e na alma de alguém que sinta não ter mais chances de viver. O malfeitor ao lado de Jesus, aproveitou muito bem, seus últimos momentos.