Vinicius de Moraes emendava romances como quem acende um cigarro no outro. Só os casamentos foram nove, e cada uma das mulheres inspirou famosos sonetos ou canções. Nada mais apropriado do que encerrar a semana de homenagens ao artista no DIA — nascido há exatos 100 anos e morto em 9 de julho de 1980 — com seus grandes amores. “Ele vivia as coisas até as últimas consequências, até o esgotamento, e foi assim com as paixões”, analisa o escritor José Castello, autor de ‘Vinicius de Moraes — O Poeta da Paixão’ (ed. Companhia das Letras).
“Quase todas as mulheres que
entrevistei tinham uma ponta de suspeita de que chegaria uma hora em que
aquilo acabaria, mas isso não importava: viviam com aquele sentimento
de eternidade em que ele era capaz de envolvê-las.” Para ele, Vinicius
vivia em estado radical de paixão não só pela mulher amada, mas por
tudo. “Ele tinha essa capacidade de emprestar eternidade às coisas, às
mulheres, aos amigos, parceiros, ao mundo. De viver cada momento como se
fosse o último. Essa era a paixão dele: pela existência.”
Receita de mulher
O primeiro casamento (o único no civil) foi com
Beatriz Azevedo de Mello (1911-1995), a Tati. Quando se conheceram, em
1938, ela estava noiva. Como Vinicius foi viver na Inglaterra,
casaram-se por procuração e depois ela foi para lá morar com ele.
Tiveram dois filhos: Susana, em 1940, e Pedro, 1942. Foi o casamento
mais longo do Poetinha: durou 11 anos. Para Tati, ele escreveu ‘O Soneto
de Fidelidade’.Em 1945, ele se envolveu com uma funcionária do Itamaraty, Regina Maria Pederneiras (1926). Vinicius saiu de casa e eles se casaram em Petrópolis. Menos de um ano depois, ela deixou o poeta, que entrou em profunda depressão. Acabaria perdoado por Tati.
Em 1951, ainda casado, ele se envolveu com Lila Bôscoli, irmã de Ronaldo Bôscoli. Ficou para a história a maneira como foram apresentados pelo escritor Rubem Braga: “Esta é Lila Bôscoli, este é Vinicius de Moraes... e seja o que Deus quiser.” Tiveram duas filhas: Georgiana, em 1953, e Luciana, em 1956 (morta em 2011). Ficaram juntos até 1957. Foi para ela que ele escreveu o ‘Poema dos Olhos da Amada’ e o ‘Soneto do Amor Total’, entre outros.
Maria Lúcia Proença foi a quarta.
Sobrinha do amigo Octávio de Faria, havia conhecido o Poetinha quando
era adolescente. Dezoito anos depois, se reencontraram. Ela era casada e
tinha um filho, mas se encantou por Vinicius. Em Paris, ele longe de
Lila, ela longe do marido, combinaram de jantar. “Mas é Sexta-Feira
Santa...Talvez seja melhor ficar para outro dia”, ela lembrou, ao que
ele rebateu: “É Sexta-Feira da Paixão.” Casaram-se em 1958 e ficaram
juntos até 1962. Ela inspirou poemas como ‘Para Viver um Grande Amor’ e
‘Apelo’.
Nelita Abreu Rocha foi a quinta mulher. Aos 20 anos, em
1962, foi apresentada por uma prima a Vinicius, cinquentão. Por sugestão
de Carlos Lyra, fugiram para Paris. É a musa da canção ‘Minha Namorada’
e da prosa poética ‘Para Uma Menina Com Uma Flor’. Ficaram juntos até
1968, quando ele se envolveu com Cristina.
Cristina Gurjão (1938- 2011) conheceu o
Poetinha quando fez uma viagem ao lado da amiga Lila Bôscoli. Grávida de
cinco meses de Maria, em 1969, descobriu que Vinicius a traía com Gesse
Gessy. Irada, o atingiu com um candelabro. Relutou a deixá-lo ver a
filha. A música ‘Pela Luz dos Olhos Teus’ é para Cristina.A baiana Gesse Gessy e Vinicius se conheceram através de Maria Bethânia. Casaram-se em 1970, no Uruguai, e em 1973 na Bahia. O Poetinha foi viver com ela em Salvador. “Uma mulher — que os amigos, às vezes, tratam como deusa e os inimigos como bruxa”, descreve José Castello, autor de ‘Vinicius — Poeta da Paixão’ (ed. Companhia das Letras). Ficaram juntos até 1976. Ganhou do poeta o ‘Soneto de Luz e Treva’.
A argentina Marta Rodrigues Santamaria, a Martita, entrou na vida de Vinicius em 1975. Tinha 22 anos e o poeta, 52. Um ano depois, casaram-se. Viveram entre Rio e Punta del Este, no Uruguai. Foi presenteada com o ‘Soneto de Marta’.
A relação com Marta não ia bem quando Vinicius encontrou a estudante Gilda de Queirós Mattoso, de 23 anos, que vivia em Paris. Morava com ela, em Botafogo, quando morreu, de problemas respiratórios, na banheira de casa, em 1980. Ela inspirou a música ‘Gilda’.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus