Embora o esforço do homem de se instalar em determinado espaço e dele tirar seu sustento possa ser considerado uma verdadeira luta constante contra a natureza, os avanços mais recentes, no Nordeste, quanto à convivência do homem com o Semiárido têm tornado mais harmoniosa essa relação tão íntima entre o sertanejo e o ambiente onde vive, possibilitando ao produtor maior capacidade de inovar e aprimorar sua atividade.
Entre os especialistas que assistem a esse processo, porém, há o consenso de que ainda há muito a ser feito. Para a reitora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Suely Chacon, um dos fatores essenciais para aprimorar a convivência com o Semiárido é a consciência, por parte dos fazedores de políticas públicas, de que as medidas adotadas têm de ser elaboradas a partir de uma perspectiva ampla, sem se restringir, por exemplo, a questões exclusivamente ambientais, sociais, ou econômicas.
"As ações não podem visar minimizar apenas consequências de uma eventual seca, mas sim promover ações que levem ao alcance do desenvolvimento sustentável, à promoção da inclusão social, à real valorização do território do Semiárido", frisa.
DiálogoNesse contexto, complementa Suely, que é doutora em Desenvolvimento Sustentável, é preciso "buscar um diálogo" com o semiárido Nordestino, pensando nas características da caatinga. "Essa busca é, em si, um avanço. A velha estrutura era insustentável e geradora de miséria. E há novidades interessantes, como a valorização da ovinocaprinocultura, da apicultura, da fruticultura, de várias atividades urbanas, etc".
Entraves históricosEmbora as metas para se alcançar essa melhor relação com o ambiente já sejam consenso entre grande parte de gestores do Estado, entraves históricos permanecem como barreiras para mudanças mais profundas na relação entre o produtor rural cearense e o Semiárido. Uma delas, aponta a economista e especialista em Desenvolvimento Regional Tânia Bacelar, é a educação insuficiente de grande parte dos sertanejos. No Nordeste rural, ilustra, 29,8% da população de dez anos ou mais é analfabeta, enquanto a taxa média de analfabetismo do País é de 9%.
Uma das implicações do fato, destaca, é a realização de atividades pouco adequadas ao bioma da caatinga. Conforme a economista, a solução dessa problemática depende de uma assistência técnica capacitada para atender o produtor - o que está diretamente ligado à educação.
Tânia também salienta "a base latifundiária que se estrutura com as fazendas pecuárias no inicio do processo de ocupação da Região e que permanece até hoje bloqueando o acesso à terra a milhares de produtores da Região" como outro entrave.
Educação é necessáriaEntre os próximos avanços que os habitantes do Semiárido precisam alcançar, a economista ressalta, além dos esforços voltados à educação, investimentos ligados à segurança hídrica, garantindo o aproveitamento dos recursos acumulados nos períodos em que não há estiagem.
"Infelizmente as soluções simples não mobilizam grandes empreendedores. A maior segurança hídrica também desmobilizaria uma ´indústria´ muito bem plantada e que articula muitos interesses na região, a do carro pipa", critica. (JM)Visando debater a importância de ações para a difusão de tecnologias e para a viabilização de atividades no semiárido, O Banco do Nordeste realiza, nos próximos dias 18 e 19 de julho, o fórum "Semiárido Brasileiro e o Desenvolvimento Regional".
A ação, que faz parte do XIX Fórum Banco do Nordeste de Desenvolvimento, acontecerá simultaneamente ao XVIII Encontro Regional de Economia, promovido pela ANPEC, na sede da Instituição, em Fortaleza.Durante a programação, haverá sessões que abordarão temas como Políticas Permanentes de Convívio com a Seca, Desafios à Região Semiárida, Tecnologias de Convivência e Resultados do Banco do Nordeste para o Semiárido, entre outros. Além disso, na ocasião, também será apresentado o Portfólio de Tecnologias Agropecuárias da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
ParticipaçãoConforme a instituição, a cerimônia de abertura contará com a presença do presidente do Banco do Nordeste, Ary Joel Lanzarin; do secretário executivo da Associação Nacional dos Centros de Pós-graduação em Economia (Anpec), Maurício Serra; e ainda de representantes de entidades de classe. Compõem ainda o encontro estudantes, professores, economistas, iniciativa privada, organizações não governamentais, autoridades políticas, empresários e promotores de políticas de desenvolvimento em âmbito nacional e regional.
FórumO Fórum BNB de Desenvolvimento é realizado anualmente, desde 1995, em comemoração ao aniversário do BNB.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus