Na visão do papa Francisco, o problema da economia mundial é o mesmo da Torre de Babel, famosa passagem bíblica cujo enredo consiste basicamente em um grupo de homens que construiu um monumento para tentar alcançar o céu. Nela, o santo padre chama atenção para uma desumana inversão de valores. "Quando caía um tijolo, era uma catástrofe, mas quando caía um operário, nada acontecia", lamenta sua Santidade.Da mesma forma, compara o Papa, ocorre no mundo em que vivemos, que, segundo ele, caiu na "feroz idolatria" do dinheiro. "Há crianças que não têm o que comer, há doentes que não têm acesso a tratamento, há homens e mulheres mendigos de rua que morrem de frio no inverno, e nada disso é notícia. No entanto, quando as bolsas (de valores) de algumas capitais caem três ou quatro pontos, isto é tratado como uma grande catástrofe mundial", alertou o pontífice, em entrevista exclusiva ao jornalista Gerson Camarotti, do canal a cabo Globo News, exibida no último domingo.
Desapego material
O discurso não surpreende. Desde que assumiu a liderança da Igreja Católica, em março deste ano, Francisco vem recebendo aplausos pelo seu desapego a bens materiais.
Para seu trono, preferiu uma cadeira de madeira à tradicional dourada. Dispensou os sapatos papais para continuar com seu antigo par; trocou a cruz de ouro por uma de aço; abriu mão do anel de São Pedro de ouro por um confeccionado em prata; entre outros acessórios.
No Brasil, durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), a postura não foi diferente. Para se locomover pelo Rio de Janeiro, em vez do luxuoso papamóvel blindado da Mercedes, com valor de mercado estimado em R$ 250 mil, o santo padre optou pelo modesto Fiat Idea, de cerca de R$ 45 mil.
Além disso, dispensou uma suíte de 77 m², num casarão da Igreja no alto do Morro do Sumaré, usada por João Paulo II em suas passagens pelo País, para se hospedar em outra de 44 m², na mesma residência, com uma mobília também mais modesta.
Em entrevista à revista Época, Evangelina Himitiam, a biógrafa do Papa, disse, com certo exagero, que tudo o que ele tem na vida cabe numa mala.
São discos, livros, um pôster de seu time do coração - o San Lorenzo, de Buenos Aires - e um crucifixo que ganhou dos avós.
O homem como centro
Discurso semelhante sobre o dinheiro chegou a ser adotado por seu antecessor, o agora papa emérito Bento XVI, na edição de 2011 da JMJ, realizada em Madrid, na Espanha.
À época, o ex-líder da Igreja pediu uma economia centrada "no homem" e não "no lucro". Francisco, no entanto, se prolongou mais sobre o tema, alertando para as graves consequências deste modelo entre jovens e idosos, vítimas, segundo ele, de desemprego e marginalização.
´Descartes´
"Quando reina este mundo da feroz idolatria do dinheiro, se concentra muito no centro; e as pontas da sociedade, os extremos, são mal atendidos, não são cuidados e são descartados. Até agora, vimos claramente, como se descartam os idosos. Não servem, não produzem. Os jovens também não produzem muito, porque é uma parcela que precisa ser formada. O que estamos vendo agora, é que a outra ponta, a dos jovens, está em um processo de descarte", disse.
O pontífice declarou ainda que é preciso recuperar estas duas parcelas da população, pois, sem elas, o mundo desaba.
"O futuro, quem nos vai dar são os jovens, que seguirão adiante; e os idosos, que precisam transferir sabedoria aos jovens", afirmou Francisco.
Diante de tais provocações levantadas pelo Papa, o Diário do Nordeste procurou especialistas em economia, sociologia e teologia para discutir os rumos da economia mundial e seus efeitos sobre as sociedades.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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