O ex-ministro e ex-deputado Antonio Delfim Netto defendeu que a presidente Dilma Rousseff apresente em 2 de fevereiro projetos de reforma constitucional e infraconstitucional ao Congresso, como forma de reagir à crise e evitar maiores danos ao país. Em entrevista ao jornal “Valor Econômico”, disse que se não tomar atitude semelhante, o país viverá um “caos”, com dois ou três anos de recessão e um longo período de “crescimento muito baixo”.
Delfim levou seu posicionamento ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em almoço que contou com a presença do economista e aliado Luiz Gonzaga Belluzzo e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Para Delfim, “o presidencialismo não funciona sem presidente”, por isso, em sua avaliação, “é tempo de a gente entender (que) não tem mais impeachment”, devido ao fato de caber ao Senado — onde Dilma tem maioria — dar a palavra final sobre eventual impedimento.
“Só tem uma saída: é a Dilma assumir de volta a Presidência ou é o caos e vamos ter que esperar mais três anos”, disse Delfim.
O ex-ministro sugeriu que a presidente apresente quatro reformas para o país: da Previdência Social, da flexibilização do mercado de trabalho, da desindexação e da desvinculação das verbas do Orçamento. “Com isso, abre-se o espaço para o setor privado operar”, afirmou.
“Em algum momento temos que saber quem é o responsável pelo Brasil. São os dois (Dilma e o Congresso). Mas como podemos fazer um experimento fundamental? Apresentando as reformas para o Congresso e vamos ver se ele tem coragem de dizer não”, sugeriu Delfim.
Delfim não foi localizado ontem. Um dos presentes no almoço entre Delfim e Lula onde as propostas do ex-ministro foram apresentadas, Luiz Gonzaga Belluzo disse ontem, ao GLOBO, considerar “impróprio o relato de um encontro privado” e criticou o fato de o teor das conversas ter “vazado”.
Segundo ele, a pauta da conversa foi a economia “em geral” e tudo o que Delfim menciona em sua entrevista foi realmente discutido pelo grupo, “com convergências e divergências”:
— A gente dá opinião livremente — afirmou.
— Dissemos que de fato era preciso uma reforma a ser conversada com as forças políticas e econômicas brasileiras. Mas a opinião do Delfim não foi unânime. O presidente (Lula) acha que é preciso algumas reformas estruturais, mas não essa coisa tecnocrata, de cima para baixo.
PARLAMENTARES DIVERGEM
Nem líderes oposicionistas nem governistas acreditam que Dilma terá condições de atender ao conselho do ex-ministro e ex-deputado. A dúvida é em relação à viabilidade de Dilma levar ao Congresso um pacote de reformas, já que suas bases sindicais e de movimentos sociais já se posicionaram contra, principalmente, em relação à da Previdência.
Vice-líder do governo, o deputado Paulo Teixeira (PT-SP) confirma que Dilma não tem condições no dia 2 de fevereiro de apresentar um pacote de reformas, sem antes ter um consenso no foro sindical e em suas bases:
— A presidente não pode cair nessa conversa de pacote do ex-ministro Delfim Netto. Não se resolve isso com uma varinha mágica, tirando a solução de uma cartola. No caso da reforma da previdência, ela precisa construir consensos no foro apropriado, com as centrais sindicais. Qualquer passo em falso nessa área pode voltar como um bumerangue contra o povo e o governo.
Líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE) diz não acreditar que Dilma seja capaz de confrontar suas bases.
— Acho a receita da defesa das reformas contraditória com a postura do governo, que todos os dias desmente a necessidade de reformas. Se a presidente quer negociar com a oposição uma reforma da Previdência, quero conhecer direito essa proposta. Ela não tem credibilidade para enfrentar os interesses dos movimentos sociais, que é o que existe de mais anacrônico no país.
Líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB) diz que não há reforma constitucional que impeça o caos, se não houver troca de governo.
Já o senador Blairo Maggi (PR-MT) defendeu a posição de Delfim:
— Foi uma entrevista muito lúcida e está em linha com o quadro que os senadores constaram no recesso. Dilma deve ir ao Congresso se tiver o que dizer para tirar o Brasil do marasmo.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus