A caricatura dos tucanos em cima do muro é piada antiga e sem graça. Os políticos do PSDB, no entanto, insistem em trazer a imagem à tona. Poucas vezes fizeram isso com tanto esmero quanto no início do segundo mandato de Dilma Rousseff. A presidente iniciou seu governo de forma desastrosa, contrariando promessas de campanha e naufragando nos índices de popularidade. O país pedia um partido de oposição, e o PSDB – que obteve votação estrondosa no último pleito presidencial – tinha tudo para ser essa força oposicionista. Ficou, no entanto, com o perdão da repetição, em cima do muro. Deixou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) – que formalmente integra a aliança do governo –, emergisse como o principal opositor de Dilma. O PSDB apoiou Cunha convencido de que se tratava do caminho mais curto para o impeachment da presidente. Na semana passada, os tucanos romperam com Cunha e – com o perdão da expressão, usada aqui pela última vez – desceram do muro. Mas será mesmo?
Tudo começou na sexta-feira, dia 6, quando o presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, disse em entrevista a uma rádio da Bahia: “A partir do momento em que surgem as denúncias, nossa bancada tem de votar contra as provas, e as provas são contundentes contra Cunha”. Veio o final de semana e a situação de Cunha só piorou com as entrevistas que ele deu a jornais e telejornais – e em nenhuma delas conseguiu dar explicações consistentes sobre o dinheiro que guarda na Suíça. À medida que as redes sociais propagavam o noticiário com as explicações de Cunha, os cabeças pretas do PSDB – grupo de jovens parlamentares que se opõe aos velhos caciques do partido – compartilhavam mensagens de desaprovação. Estava criado o caldo de cultura de rompimento de uma aliança que arrastara os tucanos para a órbita do peemedebista, fazendo-os girar em torno do tema único do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
O alinhamento a Cunha fez com que o PSDB perdesse o rumo e a identidade no início do segundo mandato de Dilma. Muitas vezes, o partido deixou de lado suas convicções políticas e votou contra projetos que sempre defendera, apenas para se firmar de forma contrária ao governo – além de se manter próximo ao que defendia Cunha. Exemplo disso foi a forma como a sigla votou na apreciação de projetos como o fator previdenciário, regra criada durante o governo do tucano Fernando Henrique Cardoso. À época, o ex-presidente chegou a afirmar em entrevista que o comportamento da bancada abalava o prestígio do partido. Outro exemplo é a resistência que o partido vinha mostrando para aprovar medidas do pacote de ajuste fiscal encaminhado pelo governo ao Congresso. O PSDB sempre defendera o corte de gastos públicos e a modernização do Estado – e resistiu em aprovar medidas que possam melhorar a situação das contas públicas do país. A sigla, que no passado cultivou a fama de fiscalista, votou também a favor da proposta que reajustava em até 78% os salários dos servidores do Judiciário.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus