No Brasil, a correlação entre diploma universitário e emprego é alta: 9 em cada 10 homens com ensino superior entre 25 e 64 anos estão empregados. As informações são do relatório "Education at a Glance 2012" (Um olhar sobre a Educação), divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). O relatório diz ainda que, somadas às mulheres, o índice de empregabilidade é de 85,6%.
Além de trabalho, a formação universitária permite vantagem financeira. O salário é quase quatro vezes maior do que a renda de quem não concluiu o ensino médio. O Brasil é o país com a maior diferença verificada dentre os 32 pesquisados.
Especialistas em educação, consideram que o resultado aponta para a hipervalorização do ensino superior, que ainda tem acesso restrito - apenas 11% da população entre 25 e 64 anos possuem esse nível de escolaridade.
"O Brasil não conseguiu, como fez a Coreia do Sul, fazer com que uma geração mais jovem alcançasse o ensino superior em grande quantidade. Assim o diplomado tem um diferencial de mercado, mesmo quando o diploma não representa qualidade de ensino", disse Daniel Cara, coordenador geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
Os dados do relatório dizem ainda que 68% das pessoas que completaram o curso superior ganham mais do que duas vezes o rendimento médio da população.
Para Cara, também deve ser considerado que o mercado de trabalho brasileiro paga baixos salários aos jovens, muitos deles contratados em condições de subemprego. Segundo o relatório da OCDE, 29% dos que possuem ensino médio incompleto recebem menos da metade do rendimento médio da população.
Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper-SP (Instituto de Ensino e Pesquisa de São Paulo), acredita que o aumento de vagas de acesso ao ensino superior pode levar a uma diminuição da diferença entre salários de universitários em relação àqueles com formação até o ensino médio, nos próximos anos. "A diferença tem caído desde 2007 devido ao aumento do número de formados", disse.
Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo acredita que "os dados tendem a fazer com que o jovem valorize a escolarização. Quem é formado consegue emprego, mesmo trabalhando em atividades que não demandariam aquela formação".
Apesar de a educação ser valorizada pelos jovens, o professor Alavarse analisa de forma crítica que o sistema educacional brasileiro é extremamente seletivo, evitando que muitos que desejam ter uma formação não consigam.
"O Brasil é o quinto país que mais reprova no mundo. Mais de 40% dos jovens no ensino médio ainda estudam à noite. Isso mostra que a nossa escolarização ainda têm uma oferta restrita ou em condições precárias", completa.
Investimentos ainda são escassos
Apesar do aumento no investimento em educação apresentado pelo Brasil, que passou de 10,5% dos recursos públicos em 2000 para 16,8% dos recursos em 2009, o estudo da OCDE mostra que o país ainda investe apenas 5,5% do PIB na educação, abaixo da média obtida nos demais países pesquisados, de 6,23%.
Daniel Cara destaca que os recursos, além de insuficientes, são mal distribuídos entre os diferentes níveis de ensino. "Hoje o ensino fundamental fica com quase 60% dos recursos e o ensino superior com 15%, o restante vai para ensino médio e ensino infantil. Ainda estamos muito distante de chegar às médias da OCDE e de garantir um padrão mínimo de qualidade".
Enquanto no ensino pré-primário o Brasil investiu 1,696 dólares por aluno, a média dos países da OCDE foi de USD 6,670; no ensino primário o país gastou USD 2,405 e a média da OCDE foi USD 7,719; com a educação secundária o investimento brasileiro foi de USD 2,235 e a média dos países da OCDE foi de USD 9,312.
"O Brasil tem um processo de escolarização muito atrasado e uma necessidade de melhoria da estrutura das escolas, o que projeta para o país, ao menos ainda uma década, com maiores investimentos", avalia Alavarse.
A organização
A OCDE é uma organização internacional para cooperação e desenvolvimento dos países que a compõem. Fazem parte da OCDE: Austrália, Áustria, Bélgica, Canadá, Chile, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Israel, Itália, Japão, Coreia, Luxemburgo, México, Holanda, Nova Zelândia, Noruega, Polônia, Portugal, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Suécia, Suíça, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos.
O relatório "Education at a Glance 2012" ("Olhar sobre a Educação") é desenvolvido para analisar os sistemas de ensino dos 34 países membros da organização, assim como os da Argentina, Brasil, China, Índia, Indonésia, Rússia, Arábia Saudita e África do Sul.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus