Após nove horas, terminou na noite desta quinta-feira, o depoimento do goleiro Bruno, no Fórum de Contagem, Minas Gerais. Durante a audiência, o atleta revelou ter mentido em sua primeira entrevista à imprensa (no dia 1° de julho) e confessou ter dado R$ 30 mil para Eliza Samudio. O atleta ainda contou como foram os dias que passou com a ex-amante, acusou o delegado que coordenou a investigação de ter pedido R$ 2 milhões de propina para livrá-lo no inquérito e ainda deu detalhes sobre a agressão sofrida por Eliza.
Ao responder sobre seus dados pessoais, disse ter "duas filhas e possivelmente um outro filho". Questionado pela juíza Marixa Fabiane sobre quem seria o possível filho, o atleta respondeu: "o Bruninho" (filho de Eliza Samudio). Bruno afirmou que não planejou nem orquestou a morte da jovem. "Não pedi ninguém para matar essa senhora. Não planejei nem orquestrei matar Eliza", disse.
Nas primeiras horas do depoimento o goleiro deu sua versão para a mancha de sangue encontrada em seu carro durante uma briga entre Elizae o menor de 17 anos, que também teria envolvimento no caso. De acordo com o réu, a modelo teria falado mal dele dentro do veículo em que também estava Luiz Henrique Romão, o Macarrão. O adolescente teria ficado revoltado com a atitude da jovem e, por isso, a teria agredido.
"Macarrão me avisou que a Eliza estaria lá na casa. Não fiquei surpreso. Conversei com ela numa boa. Macarrão explicou que ela iria fazer escândalo. Ela falou mal de mim e houve agressão de ambas as partes: agressão física entre eles (Eliza e o menor). Macarrão desesperado e a criança no bebê conforto. Voltando do jantar, Macarrão quase bateu o carro, parou e separou a briga entre eles. Ela foi agredida e teve até sangue dela no meu carro. Nem sabia. Só soube depois", disse Bruno.
AmeaçasBruno disse também que Eliza teria procurado Macarrão, no dia 5 de junho, para pedir dinheiro. A ex-amante do goleiro fez ameaças de levar o caso à imprensa afirmando precisar de R$ 50 mil para pagar dívidas em São Paulo. Macarrão teria oferecido 'apenas' 30 mil, o que não foi aceito pela modelo que ainda afirmou não confiar no atleta. Bruno ainda afirmou à juíza que sua vida financeira é controlada por Macarrão e que seu amigo tinha total autonomia sobre seu dinheiro.
"Ela queria R$ 1,5 mil. Vinha recebendo por mês. Pagava desde que estava grávida. Eu não depositava. Passava em espécie. Depois da confusão falou que queria R$ 50 mil. Macarrão disse que tinha R$ 30 mil. Poucas pessoas sabem, sem querer falar mal de ninguém, ela tinha muitas dívidas".
O ex-goleiro do Flamengo disse durante o depoimento que pediu para que Eliza ficasse no Rio, que ele depositaria os R$ 30 mil. Ela teria dito que não e decidira viajar para Minas. "O dinheiro estava em Belo Horizonte. Falei: 'Fica no Rio, deposito o dinheiro e fica tudo certo!' Ela disse que não confiava em mim. E ela decidiu viajar conosco para pegar o dinheiro aqui (Minas). Ela iria pegar o dinheiro e viria embora", completou.
Mais tarde, o réu afirmou que deu R$ 30 mil em notas de R$ 50 e R$ 100 para a ex-amante que precisava resolver problemas na capital paulista.
AbortoBruno também negou que tenha obrigado Eliza a fazer um aborto, mas admitiu que queria que ela fizesse um exame de DNA. "Estava pagando (pensão) há algum tempo. Mesmo estando na casa de outras pessoas, sempre a ajudei. Mesmo tendo dúvidas se o filho era meu ou não. Dava dinheiro pra pré-natal, exame. Em momento algum disse que teria que abortar, mas queria fazer, sim, o exame", afirmou.
ContradiçãoDe acordo com o jogador, ele esteva com a sua ex-amante quando esta ligou para o goleiro Marcelo Marinho, do Atlético-MG. Ainda segundo Bruno, uma pessoa que estava em cárcere privado não ficaria com o celular. Já as provas técnicas obtidas pela Polícia Civil, entretanto, desmentem a versão do atleta. O telefonema que Eliza deu para Marcelo aconteceu às 21h11 do dia 4 de junho.
TáxiO réu contou que o amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e o menor J., seu primo de 17 anos, deixaram a estudante em um ponto de táxi no caminho entre o sítio de Esmeraldas e a casa de sua mãe, em Ribeirão das Neves, por volta das 20h do dia 10 de junho. Depois deste dia, a ex-amante do goleiro, com quem ele teve um filho, jamais foi vista.
Entrevista à imprensaBruno admitiu ter mentido em primeira entrevista à imprensa, no dia 1° de junho. "Na imprensa, disse que não via Eliza havia três meses. Era helicóptero e 500 câmeras em mim. Não estava tranquilo. Posso até ter tentado segurar a barra", revelou o réu.
"Menti talvez por medo. Sabia que tinha passado na minha casa. Fiquei com medo. Falei até sem pensar. Depois fui para casa e pensei: por quê não falei a verdade?", confessou Bruno acrescentando que não estava conseguindo viver.
MenorO atleta confirmou a versão de que resgatou o menor J. do crime. O adolescente foi o responsável pela denúncia de que Eliza Samudio havia sido sequestrada e agredida por 'amigos' do goleiro. O réu admitiu que sabia que o menor vendia drogas, mas afirmou ter ficado surpreso quando teve conhecimento de que ele usava entorpecentes.
PropinaBruno afirmou que o delegado que coordenou a investigação pediu R$ 2 milhões de propina para livrá-lo no inquérito. "Não sei se aqui é o lugar certo. Quero fazer uma queixa de Édson Moreira. Ele me pediu R$ 2 milhões. Isso se chama corrupção. Pediu para uma terceira pessoa, o Marcos Aparecido, o Bola, para me tirar, tirar o Bola, e colocar tudo em cima do Macarrão e do menor", disse.
Ércio Quaresma dorme no tribunalO advogado do goleiro Bruno, Ércio Quaresma, protagonizou mais uma cena constrangedora, na tarde desta quinta-feira, durante o depoimento de seu cliente, no Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Nos fundos do plenário, ele começou a dormir, roncou alto e a juíza Marixa Rodrigues chamou a atenção, pedindo que ele acompanhasse o depoimento. Quaresma disse que não teria problema, que iria roncar mais baixo e voltou a dormir.
Amizade com MacarrãoBruno falou de Macarrão referindo-se a uma amizade de 18 anos. O goleiro afirmou que o amigo fazia tudo para ele, inclusive a construção de seu sítio, erguido em três meses no ano de 2008. "Macarrão não é como um amigo, ele é um irmão. Pessoas falam que é um monstro. Não é nada disso. É excelente pessoa. Pai de família", disse Bruno.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus