O setor agropecuário vive um momento difícil com a estiagem prolongada, aumento do custo de produção e redução em mais de 10% do rebanho potiguar no ano passado, segundo o presidente da Associação Norte-Riograndense de Criadores (Anorc), Antônio Teófilo. “São quatro anos de seca. E se continuar assim, se não chover no próximo ano não vai morrer só o gado, vão morrer humanos, porque essa crise hídrica é violenta”, afirma. Em entrevista à Tribuna do Norte, ele defende a implementação de políticas públicas urgentes para resolver as questões da agropecuária do Nordeste. “No caso específico do nosso Estado, ter um preço mais justo para os produtos e subsídios para os insumos”, afirma. Antônio Teófilo avalia os efeitos da seca, da reformulação do Programa do Leite e a realização da festa do Boi, que será encerrada hoje. Confira a entrevista.
Vamos por detalhes. Primeiro, pelos dados do Idiarn, o rebanho não cresceu. Diminuiu em mais de 10% de 2013 para 2014. E não reduziu mais ainda porque vem gado de Maranhão, Piauí e Tocantins que os criadores importam para fazer engorda nesses estados. Já a questão do leite é outra história, cresceu.
Os dados vão de encontro ao que IBGE divulgou. A que se deve essa diferença?
Isso você deve questionar ao IBGE. Houve queda do rebanho e não crescimento. Cresceu a produção leiteira, que é outra história.
E que fatores levaram a essa queda?
São quatro anos de seca. E se continuar assim, se não chover no próximo ano não vai morrer só o gado, vão morrer humanos, porque essa crise hídrica é violenta. A água que se consome em alguns municípios já é de péssima qualidade, salobra.
E o que levou ao crescimento da produção leiteira no Estado?
Essa é outra história. Teve crescimento porque temos uma excelente genética leiteira e, em consequência disso, o rebanho pode diminuir, mas aumenta a produção leiteira por animal. Quando aumenta a produção por animal, aumenta a produtividade, apesar da perda de rebanho.
Com a perda do rebanho, é possível contabilizar o prejuízo?
Não. Esperamos não ter prejuízos. Estamos trabalhando para não ter prejuízos. Estamos numa batalha grande para equacionar tudo isto.
Esse trabalho passa pelo quê?
Inclusive estendemos um dia de festa [do Boi] para evitar que tenhamos prejuízos.
A realização da Festa do Boi pode reverter possíveis perdas, estes prejuízos, é isso?
Com a festa do boi, que estendemos por mais um dia, ia terminar no sábado e agora vai até o domingo. Isso ameniza.
O senhor pode fazer um balanço da festa do boi, qual era expectativa em negócios e quanto já foi realizado?
A expectativa era de R$ 850 milhões, mas eu não tenho a menor condição de dizer hoje [quinta-feira] se vai ficar nesse valor, mais ou menos. Até porque esses dados não saem ao término da festa. Quando se fala em recursos que giraram em torno da festa do boi não se restringe a vendas de animais e máquinas, mas a toda a movimentação financeira que existe dentro da festa. Muitas transações econômicas começam dentro da festa e terminam 20, 30, 60 dias depois, que é quando se tem condição de dizer quanto bateu a comercialização. A participação está excelente, grande quantidade de pessoas e no final de semana aumenta ainda mais. E no domingo (neste domingo) faremos o Dia das Crianças no Parque, para compensar já que no dia foi fechado.
Já que o senhor tocou nesse assunto, a interdição do Parque Aristófanes Fernandes trouxe que prejuízos?
O ato da interdição é muito relativo, mas o prejuízo financeiro existiu. Mas o maior prejuízo foi o emocional. Porque somos gente, cidadãos de bem, a gente se abala. Além de pai, eu também sou avô e sequer conseguir ver meus netos porque estava tentando resolver todos os problemas. Os prejuízos financeiros não tenho como avaliar porque não houve a festa. A gente não avalia o rendimento por dia e, sim, o global. Para liberação, todas as adequações foram feitas. Fizemos um mutirão para resolver com a adequação de fogões por parte de barraqueiros, o isolamento da central de gás.
O programa de leite passou por uma reformulação. Como a Anorc avalia esse novo modelo que divide o fornecimento do leite também com o pequeno produtor?
O sol nasceu para todos e a sombra também. Ocorre que o pequeno produtor, aliás o agricultor familiar, já que quase todos os produtores do Estado são pequenos. Não posso afirmar, mas acho difícil que esses tenham condição de colocar esse leite no percentual da cota [50% de 88 mil litros/dia] deles. Mas como está a cargo da Emater, a Emater disse que irá adequando. Nós fazemos parte da Câmara do Leite e estamos acompanhando, discutindo soluções que poderão introduzindo e saber como vai se comportar.
A reformulação não alterou os preços praticados. Isso pode trazer mais dificuldade para o setor?
Eu acho que nós vendemos um leite barato. Mas temos que ver as situações reais para poder existir um reajuste.
E esta sendo avaliado pleitear um reajuste? De quanto?
Veja bem o seguinte não é um reajuste de quanto. É pegar a média nacional e aumentar aí pelo menos 20%. Por que isso? Porque o Rio Grande do Norte é a área mais distante dos centros produtores dos insumos que usamos na nossa pecuária leiteria, como soja, o farelo de algodão e outros.
Qual a média de preço nacional?
Está em torno de R$ 1,05 a R$ 1,10.
Em relação a cobertura de vacinação contra aftosa, como está o Rio Grande do Norte?
Desde o ano passado o Estado saiu da barreira fitossanitária de febre aftosa. Uma grande vitória e a vacinação será já no próximo mês contra aftosa.
Além da redução do rebanho, que outras consequências a estiagem prolongada tem causado ao setor?
Outro fator que colaborou para redução do nosso rebanho é crédito rural que hoje inexiste para os produtores. Uma dívida rural impagável, que eu acho que deve ser renegociada a longo prazo dando uma carência de dois a quatro anos para, a partir, daí o agropecuarista do Estado recomeçar a se organizar.
Como a variação de câmbio, com o aumento do dólar, tem afetado o custo de produção?
É aí onde entra a soja, um dos insumos para o gado leiteiro, que é uma commoditie exportada para vários países do mundo, principalmente a China. E o [preço] sobe com a alta do dólar. Hoje, o saco de soja está R$ 90,00. Caríssimo! Há 70 dias estava a R$ 62 a R$ 70, o saco, e isso afeta.
Houve ainda o aumento de energia, em quanto isso onerou?
Tudo subiu, não tenha dúvida. O custo de produção subiu. O preço do leite não subiu. E se o preço do leite não subiu isso quer dizer que os produtores estão em uma situação difícil que tem que ser resolvida.
E pode ser resolvido de que forma? Reajustando o preço na ponta, passar o leite mais caro para o consumidor final?
Eu não estou falando em repassar o preço para o consumidor. Eu não estou falando no consumidor, eu estou falando no produtor, vamos deixar isso claro. Eu estou falando no custo que é para o produtor. Se isso vai ser repassado para o consumidor final é outra história. Mas o produtor precisa que se tenha um preço mais justo. Ou então seja subsidiada a soja, o milho, a torta para não subir esse preço. O governo federal precisa ter políticas públicas urgentes para resolver as questões da agropecuária do Nordeste, no caso especifico do nosso estado, um preço mais justo para os produtos e subsídios para os insumos.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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