Foram muitas as promessas em troca de votos na eleição deste domingo (1º) para presidente da Câmara, mas a votação secreta preocupa o PT, que teme “traições” de parlamentares que oficialmente declararam apoio ao candidato do partido, o deputado Arlindo Chinaglia (SP).
Os 513 políticos deputados eleitos e reeleitos em outubro tomam posse às 10h deste domingo e, no final da tarde, vão às urnas para escolher quem comandará a Casa pelos próximos dois anos.
O principal adversário de Chinaglia é o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), que lançou o nome na disputa em novembro do ano passado e empreendeu uma agressiva campanha com viagens por todo o país em um jatinho fretado pelo partido. Também concorrem ao posto, o líder do PSB, Júlio Delgado (MG), conhecido como “candidato da oposição”, e o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), que faz carreira solo e só conta com o apoio do PSOL.
Até esta sexta (30), o PT obteve o apoio oficial de PCdoB, PDT, PSD e PROS. Parlamentares ouvidos pelo G1 preveem “baixas” significativas no PSD, principalmente entre deputados de Rio de Janeiro, de parcela do PDT e do PR, que devem votar em Eduardo Cunha.
“Eu só posso me beneficiar com traições. Alguém já viu alguém trair a amante? As pessoas traem a mulher. Eu sou a amante”, disse o peemedebista, que é desafeto da presidente Dilma Rousseff e liderou, em 2013, a criação do blocão, grupo formado por partidos da base insatisfeitos com o governo federal.
O fantasma das “traições” na eleição para presidente da Câmara ronda o PT desde 2005, quando o candidato do partido, Luís Eduardo Greenhald, perdeu para Severino Cavalcanti (PP-PE). Apesar de ter obtido o apoio formal da maioria dos partidos, Greenhald só teve 195 votos no segundo turno enquanto Cavalcanti foi eleito com 300 votos.
Temeroso de perder para Eduardo Cunha, o governo federal colocou o time de ministros em campo e ofereceu aos parlamentares cargos na Mesa Diretora e em comissões temáticas, além da liberação de emendas parlamentares - recursos que os deputados destinam no Orçamento a seus redutos eleitorais.O PT está disposto a fazer concessões na Mesa e nas comissões para agregar o bloco. Se formos eleitos, teremos seis cargos na Mesa Diretora e a presidência de oito comissões”, disse o vice-líder do partido, José Guimarães (CE).
'Jogo pesado'
Os adversários admitem que o PT “jogou pesado” e conquistou votos na reta final. Cunha chegou a acusar o governo de “ameaçar” deputados com “retaliação” se não apoiassem Chinaglia, o que foi negado pelo ministro de Relações Institucionais, Pepe Vargas (PT).“O governo não trabalha com ameaças nem compra deputados. Com esse tipo de declaração, o deputado ofende o Congresso Nacional”, rebateu.
Mas, ainda que haja algum tipo de ameaça de retaliação dos candidatos, o sigilo da votação resguarda os deputados de serem cobrados individualmente no futuro. “O líder pode até orientar a nossa bancada para votar no Arlindo Chinaglia, mas ele não garante que haverá fidelidade. O Eduardo Cunha é nosso Wladimir Putin [presidente da Rússia]. Pode falar o que quiser do Putin, mas sem ele os Estados Unidos fariam o que quisessem do mundo”, disse ao G1 um deputado do PR que não quis se identificar.
O líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), minimiza, porém, o impacto do voto secreto no resultado. “Nós confiamos dos deputados que se comprometeram conosco e que reconhecem que a candidatura do Arlindo é a melhor no momento”, disse. Na última sexta (30), após obter o apoio do PDT, Chinaglia disse não se preocupar eventuais traições.
“Se eu for me preocupar com as estradas vicinais, eu perco. Eu tenho uma viagem longa, mais importante, é isso que estou perseguindo. Desde quando eu comecei a campanha, curtíssima, você há de convir que a própria imprensa está recuando de um suposto favoritismo [de Eduardo Cunha]”, afirmou. Mas os petistas também apostam em ganhar alguns votos de dissidência na eleição de domingo, sobretudo do PRB, partido que apoia oficialmente Eduardo Cunha.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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