‘Para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza’, dizia Vinícius de Moraes. Entre a dor que vai ficar pela derrota do Brasil e a alegria da celebração, o mundo testemunhou que um samba bonito passou pela Avenida.
Em clima de Quarta-feira de Cinzas, chegou a hora de
conhecer os campeões, e o brasileiro já sente saudade — palavra de
difícil tradução em outras línguas.
Para o estudante de Medicina Lucca
Jaeger, de 22 anos, voltar à rotina não vai ser fácil. Viciado em
futebol, seu perfil nas redes sociais virou mesa-redonda de resenha
esportiva. “Tinha até pessoal me chamando de jornalista no Facebook. Eu
moro em Copacabana. O bairro está agitado, cheio de estrangeiros. Vou
sentir falta disso”, lamentou.
Mas, para ele, não há nada tão ruim que não
possa piorar. “Vai começar o Campeonato Brasileiro. Sou vascaíno.
Acompanhar a série B vai ser difícil depois de tantas partidas
incríveis”.Até quem nunca ligou para futebol já sente a ressaca. Torcedora ocasional do Fluminense, a estudante de Filosofia Yasmin Haddad, 22, se deixou levar pelo clima de Copa e acompanhou quase todos os jogos. “Acho que todo o mundo ficou envolvido, inclusive as pessoas que não estavam animadas antes de a Copa começar”, disse.
Ela conta que suas amigas, que nem torcem para nenhum time, também ficaram loucas pela Seleção. “Estávamos falando mais sobre futebol do que os homens. Vamos sentir falta”, afirmou.
Em 1994, a jornalista Angélica Nascimento, de 50 anos, teve dois motivos para festejar. Enquanto o Brasil conquistava o tetracampeonato, nascia sua filha Júlia Besserman, de 20 anos.
Para elas, a Copa teve sabor especial. “Não esperava que nós ficássemos tão envolvidas. Fomos ver um jogo no Maracanã e foi superbacana”, comentou Angélica.
Segundo ela, já está batendo uma tristeza. “A gente ficava marcando coisas para antes e depois dos jogos e agora a vida segue”, disse.
Depois de tanta celebração, a estudante de Turismo Cora Luiza Nunes, 23 anos, já pensa em como vai preencher o sentimento de vazio pós-Copa. “Eu já estou com saudade da Copa”.
Agora, vai aproveitar o tempo para estudar na biblioteca e ficar amiga dos último gringos que restam nos bares. “É um momento que eu não sei se vou viver de novo. A primeira Copa no Brasil para a minha geração e também a dos meus pais”, afirmou, satisfeita.
Se, para fazer um bom samba, é preciso um bocado de tristeza, “a tristeza tem sempre uma esperança de não ser mais triste não”, diz outro trecho da canção citada no início. Daqui a quatro anos, não faltará tinta para reforçar o verde e amarelo que a chuva levar dos asfaltos e muros pintados pelas nossas ruas.
Decoração nas cores do Brasil vai ficar
É só olhar para o alto. Mesmo com a eliminação do Brasil da final e o fim da Copa hoje, quem anda pelas ruas do Rio não demora a encontrar varandas de apartamentos e fachadas coloridas de verde e amarelo. Os cariocas relutam para recolher a decoração que deu novas cores à cidade.
Se depender do engenheiro Ricardo Amaral, 55, as bandeiras no alto dos edifícios continuarão tremulando e guardando o espírito de Copa por mais algum tempo. “Vou deixar a bandeira na janela pelo menos mais algumas semanas. Para mim, é um sinal de orgulho. Foi um período muito especial e estou contente pelo meu país ter recebido os turistas tão bem e com tanta organização”, afirmou o engenheiro.
Antes de começar a Copa, o taxista Sidney Oliveira, 41, decidiu não fazer homenagens ao Brasil em seu carro de trabalho. Após a primeira semana de evento, ele se rendeu e correu para comprar a sua bandeirinha.
Oliveira conta que estava muito desconfiado com a Copa e achava que tudo daria errado e seria um desastre. “Em campo, até que foi um desastre mesmo, mas nas ruas foi uma festa bonita e hoje tenho orgulho de andar com a bandeirinha no carro. Queria mais uma Copa, vou deixar onde está”, disse o taxista.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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