
Era uma vez, um menino de 5 anos encantado pelo universo feminino de fadas e princesas. Não gostava das brincadeiras de super-herói dos garotos de sua idade e ficava muito triste por não poder usar saias e vestidos. Esta é apenas uma história, mas pode ser realidade em muitos lares. E o comportamento, longe de ser ‘coisa de criança’, indica um sintoma do Transtorno de Identidade Sexual na Infância, doença que afeta meninos e meninas.
“A criança tem aversão ao gênero de nascença, raiva dos órgãos genitais e quer ser do sexo oposto. Mas isso não tem relação com homossexualidade. A noção de atração sexual só começa na adolescência”, explica Fábio Barbirato, chefe do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa de Misericórdia.
O transtorno surge no início da infância e antes da puberdade, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. A criança sofre por pertencer a um determinado gênero e deseja ser (ou insiste que é) do outro. Segundo a psicanalista Roberta Bueno Peixoto, os sintomas aparecem entre 3 e 5 anos de idade, mas o diagnóstico é feito, normalmente, entre 10 e 15. Ela explica que episódios de meninos que gostam de bonecas e meninas, de bola, não são suficientes para o diagnóstico.
“Os pais devem procurar ajuda quando há desejo compulsivo da criança em se comportar como o sexo oposto”, cita. Nesses casos, diz a especialista, é importante não reprimir, mas também não ceder às vontades dos pequenos. A saída é o diálogo, mostrando com carinho à criança que ela deve se comportar de outro modo. “Se perceber dentro do gênero com o qual nasceu faz parte da formação humana. Pais que ignoram isso prejudicam os filhos”, diz.
FAMÍLIA: RAIZ DO TRANSTORNO
Em crianças, o transtorno atinge um em cada 30 mil meninos. A proporção entre meninas é de uma para 100 mil. Para Roberta, fatores como pai autoritário ou ausente podem favorecer o transtorno em meninos. Em meninas, pode estar ligado à aversão de parecer mais frágil. O tratamento é feito em parceria com os pais. “Quando a figura masculina é negativa, o menino vai se identificar com a mãe e querer ser como ela.”
Já Alexandre Saadeh, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Identidade de Gênero e Orientação Sexual do Hospital das Clínicas de São Paulo, acredita que o transtorno está ligado aos níveis de andrógenos (hormônios que formam características masculinas) no organismo da mãe, durante a gestação. A substância está relacionada à formação do cérebro feminino ou masculino. “O menino ou menina nasce com um cérebro com características e habilidades do sexo oposto. É um quadro complexo e irreversível”, aponta.
Muitas vezes, a escola é que alerta os pais
Filha do casal Angelina Jolie e Brad Pitt, Shiloh Jolie-Pitt, ou John, como prefere ser chamada, optou por viver como um menino. A decisão foi apoiada pelos pais, que cortaram o cabelo da menina de 7 anos e só a vestem com roupas masculinas. Jolie defende que os seis filhos têm “total liberdade para se vestirem da maneira que quiserem”.
Também nos Estados Unidos, em fevereiro deste ano, os pais de Coy Mathis, 6, entraram com uma queixa na agência estadual de direitos civis, depois que a escola onde a criança estuda proibiu que ela use o banheiro feminino. Apesar das roupas e do cabelo longo, a escola argumenta que Coy é um menino. Porém, segundo a família, ele age como menina desde os 18 meses de idade.
Para a psicopedagoga Erica Côrtes, o tema deveria ser mais discutido no ambiente escolar. Ela lembra que, muitas vezes, é o colégio que alerta os pais sobre sintomas do transtorno. No caso de esportes, Erica não vê problema se, pontualmente, um menino optar por fazer atividades femininas ou vice-versa. “Não é recomendado deixar a criança usar o banheiro do sexo oposto. Envolve sexualidade.”
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
Nenhum comentário:
Postar um comentário