segunda-feira, 18 de março de 2013
Etnografia do brega
Dirigido por Ana Rieper, "Vou rifar meu coração" investiga o brega como crônica do romantismo popularTalvez por preconceito, a indústria fonográfica nunca soube bem o que fazer com os artistas bregas. Os cantores românticos dos anos 60 e 70 saíram dos holofotes mais intensos sem perder o apelo popular. Trinta, 40 anos depois de seu auge de vendas de discos, gente como Odair José mantém uma agenda intensa, por casas de show das capitais e por cidades Brasil adentro. Na última década, deu-se uma operação inusitada: o tipo de som rotulado de brega, sobretudo aquele feito pelos veteranos da cena, ganharam um status cult. Animam festinhas descoladas, servem de inspiração para novos nomes da música independente, são estudados na academia e cinebiografados em produções como "Waldick sempre no meu coração" (2007), de Patrícia Pilar."Vou rifar meu coração", documentário de Ana Rieper, é mais uma cria deste momento - que não é uma redescoberta do brega, porque este nunca deixou de ser ouvido; melhor falar numa descoberta por parte de uma parcela da cultura brasileira que sempre o ignorou. O filme da diretora carioca se sobressai ao propor uma abordagem diferente do universo brega. Em seu filme, famosos e anônimos se misturam, não para registrar a relação entre artista e o ouvinte, mas numa proposta de pensar o primeiro como cronista da vida do segundo."O cancioneiro destes artistas é o retrato da cultura popular do amor. Essas músicas são uma expressão da subjetividade dos cantores, gente que veio do ´povão´ e dialoga com milhares e milhares e milhões de pessoas que gostam de suas músicas", explica a realizadora, Ana Rieper. Depoimentos de Odair José, Agnaldo Timóteo, Lindomar Castilho, Nelson Ned e Amado Batista se intercalam com cenas registradas na periferia de grandes cidades e do interior do Nordeste sobretudo de Sergipe. Em residências pobres, bares de beira de estrada e prostíbulos, o filme vai buscar uma tradução desta lírica ultrarromântica, temperada de certo machismo.O projeto do filme nasceu antes do boom cult do brega. A primeira versão do roteiro é de 2003. "Era um tempo em que o material não era tão abundante quanto é hoje", conta Rieper. "Durante todo o tempo de realização, tive uma referência muito mais etnográfica. Minhas fontes foram o campo, os lugares por onde passei, pessoas com quem falei", esclarece. A diretora morou por quatro anos em Aracaju, e fez diversas incursões pelo interior sergipano. Lá, conheceu um cancioneiro que não chegava até ela, no Rio de Janeiro. A referência etnográfica vem dos trabalhos anteriores da realizadora na direção de documentários. "O filme é uma tentativa de entender o Brasil, a partir do que é intimo, pessoal, cotidiano do sentimento amoroso", define a documentarista.Entre as referências "não etnográficas" do filme, merece destaque o livro "Eu Não Sou Cachorro, Não", do jornalista e historiador Paulo César Araújo (autor da censurada biografia "Roberto Carlos em Detalhes"). A obra reconstitui as tensões entre os ídolos românticos e a ditadura militar, que os persegui tanto quanto aos artistas da MPB engajada. Ana Rieper disse que sua leitura mudou o "recorte" do brega no filme. "Minha proposta inicial era falar de um brega contemporâneo. Mas, a partir do livro do Paulo César, percebi a importância do que chamo de ´brega clássico´".Os realizadores de "Eu vou rifar meu coração" buscaram, em campo, personagens tornados célebres em canções populares. É o caso daqueles que descobriram a infidelidade de quem amam; de gente desiludida, que decidiu não mais se apaixonar; do homem que vive em mais de um casamento - e das mulheres que sofrem por isso; o cliente que se apaixona pela garota de programa - e vice-versa.
No filme, Odair José é responsável por uma análise crítica da recepção da música bregaNão faltam nos depoimentos quem recorra a uma canção para explicar seu drama. No início do longa, um frentista busca os versos de Amado Batista para falar da esposa que o deixou, do sentimento de desolação de chegar em casa e não encontrá-la mais. "Era uma tarde triste quando ela partiu. Ele é como folha seca que vai onde o vento quer", repete a letra triste da canção "Folha seca".Entre goles de cerveja, três amigas lembram quem melhor lhes traduz os sentimentos. "Sou uma mulher ferida. Uma mulher sofrida. Tem uma música da Roberta Miranda que sempre quando toca, eu lembro da minha vida", confessa uma delas. É o eco da afirmação de outra personagem do filme: "Acho que cada música que um cantor brega compôs relata o que aconteceu na vida dele. Quem ouve aquela música tem alguma coisa em comum (com ela)".O problema maior de "Vou rifar meu coração" é esta vocação panorâmica, de investir em muitos personagens, sem se aproximar mais deles. Quando faz este exercício de aprofundamento, o filme se sai melhor. É flagrante no caso de Osmar Farias, ex-prefeito de Monte Alegre (SE), que vive com três mulheres. Elas abrem suas casas e revelam suas dores, e mostram que a vida é mais complexa que uma canção de amor.
Destaques
Ainda assim, não faltam momentos de brilho no filme. E fica claro que, alguns personagens, rendem mais que outros e, portanto, merecem um espaço mais generoso.Amado Batista e Wando, por exemplo, mantêm a pose e se resumem a reforçar a lenda. Odair José e Lindomar Castilho, não. O primeiro ataca o preconceito à música romântica/brega. Alfineta a "música popular de Ipanema" e diz que a dor de cotovelo é a mesma, independentemente das classes sociais. "A diferença é que o pedreiro vai chorar numa casa de merda e o médico numa virada pro mar", dispara.Castilho, numa crise de ciúmes, assassinou a tiros a ex-mulher, a cantora Eliane de Grammont. No filme, ele fala de maneira oblíqua e atormentada sobre o caso: "o ser humano é passível de ter um amor e um ciúme exacerbado, e é capaz de não segurar esse ciúme. (...) Se uma pessoa gosta da outra pessoa, ela tem ciúme sim. Ela não quer perder aquela outra pessoa. O cara pode morrer de paixão".
Homossexualidade
Agnaldo Timóteo também vai além de sua habitual rabugice, de seu autoelogio quase delirante. É dele um dos depoimentos mais fortes do documentário. O cantor abre o coração e passa por cima da caricatura que se tornou ao protagonizar uma "gafe" no programa Superpop - ele ficou sem ter o que responder quando um debatedor disse que, assim como Agnaldo, ele era "(homossexual) assumido". A negação desajeitada de Agnaldo o fez motivo de chacota.No filme, não há comicidade quanto à questão da sexualidade. "Não me dou o direito de ter solidão", vaticina o cantor, de olhar firme e melancólico. "A música ´Aventureiros´ retrata a liberdade sexual de homossexuais de lá e de cá. Aquela é uma letra irretocável. É a vida de milhões e milhões de pessoas mundo afora. E olha lá se não são bilhões. ´Existem milhões de aventureiros/ Que não se identificam com ninguém/ Que buscam aventuras passageiras/ Na esperança de encontrar alguém´... Isso é uma realidade, de milhões e milhões de pessoas, que vão para as saunas, que vão para as avenidas, para encontrar alguém, pra ir pra cama. Como queria. Depois, quando acabar, acabou. Um abraço! Se tiver que pagar, paga. É difícil. São aventuras mesmo".A diretora questiona: "Essa música tem a ver com a sua história?". E Agnaldo Timóteo responde sem medo: muito. "Eu sempre fui e continuo sendo um grande aventureiro", confessa com o mesmo olhar penetrante.A questão da diversidade, aliás, é um dos pontos altos do filme. Há sensibilidade suficiente na cena em que um casal de rapazes dança agarrado (ao som de "Deslizes", de Fagner!) numa boate precária do Interior. É esse abraço apaixonado coroado com um beijo -, aliás, que ilustra a capa do DVD. Mais adiante, há o depoimento de uma mulher transexual que faz programas à beira da estrada, e discorre sobre os riscos e a importância de encontrar um amor.
DVD
Vou rifar
meu coração
Direção: Ana Rieper
Canal Brasil
2013, 78 minutos
R$ 44,90
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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PROG.COISAS DA GENTE DE SEG Á SEXTA FEIRA DAS 5:00 AS 06:00Hs.
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SE VOCÊ NÃO SABIA FIQUE SABENDO...O NOME COMPLETO DE D.PEDRO 1
Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon
Ordem: 1.º Imperador do Brasil
Início do Império: 7 de Setembro de 1822
Término do Império: 1831
Aclamação: 12 de outubro de 1822, Capela Imperial, Rio de
Janeiro, Brasil
Predecessor: nenhum
Sucessor: D. Pedro II
Ordem: 28.º Rei de Portugal
Início do Reinado: 10 de Março de 1826
Término do Reinado: 2 de Maio de 1826
Predecessor: D. João VI
Sucessor: D. Miguel I
Pai: D. João VI
Mãe: D. Carlota Joaquina
Data de Nascimento: 12 de Outubro de 1798
Local de Nascimento: Palácio de Queluz, Portugal
Data de Falecimento: 24 de Setembro de 1834
Local de Falecimento: Palácio de Queluz, Portugal
Consorte(s): D. Leopoldina de Áustria,
D. Amélia de Leutchenberg
Príncipe Herdeiro: Princesa D. Maria da Glória (filha),
Príncipe D. Pedro de Alcântara (filho)
Dinastia: Bragança
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