Mais de 40 anos depois de ter sido criado para combater a ditadura, o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) funda seu partido político: o Partido Pátria Livre (PPL), cujo cujo pedido de registro foi deferido ontem(terça feira)pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE). Muitos dos membros do partido são dissidentes do PMDB, que começou a acolher militantes do MR-8 em suas bases já no início da década de 1970. A fundação do PPL, no entanto, não é produto de qualquer conflito do movimento com os políticos do maior partido do Brasil, mas sim da crise internacional, desencadeada em 2008.
- Pelo que a gente conhece do Brasil, nosso país sempre conseguiu se desenvolver quando se abriram crises internacionais. Foi nessas fases que o projeto de nação possibilitou que o país se desenvolvesse. Hoje, com a profunda crise internacional do capitalismo, nós sentimos que é o momento de se abrir uma possibilidade de se desenvolver. Achamos que era necessário criar um partido que fosse mais definido nessa questão - afirmou o presidente regional do partido no Rio de Janeiro, Irapuan Santos, que entrou no MR-8 em 1977 e chegou a se candidatar a vereador pelo PMDB em 2008, naquela que foi sua primeira e única experiência nas urnas.
Nome 'Pátria Livre' vem da intenção de 'libertar a nação dos interesses do capital financeiro' O MR-8 vinha funcionando como um núcleo informal do PMDB desde a década de 1970. Irapuan, junto com outros colegas, saiu do partido há dois anos, quando começou a trabalhar na criação do PPL. Segundo ele, por mais que a maioria das pessoas filiadas ao partido venha do movimento, muitos tinham outras filiações, como o PSB, ou nunca tinham entrado na política partidária.
O nome "Pátria Livre" vem da intenção do grupo de "libertar a nação dos interesses do capital financeiro internacional", que consideram ser o principal entrave para acabar com a miséria no Brasil. Para o PPL, a libertação começou com Tiradentes, morto por participar da Inconfidência Mineira em 1789, como diz o seu programa. Por mais que o MR-8 da década de 1960 fosse inspirado nos passos de Ernesto "Che" Guevara - que morreu no dia 8 de outubro de 1967, na Bolívia, dando nome ao grupo brasileiro - hoje, a idolatria ao argentino deu espaço a outro representante: o ex-presidente Getúlio Vargas. O programa do PPL traz também nomes como o de Juscelino Kubitschek e João Goulart.
- O Pátria Livre é um partido de linha nacionalista, inspirado principalmente na experiência de Getúlio Vargas - explica Irapuan.
No último congresso nacional do PPL, foram firmadas cinco prioridades nesse sentido: ampliar o mercado interno, criando mais emprego e aumentando o salário; reduzir os juros; incentivar empresas "genuinamente nacionais", tanto privadas quanto públicas, com recursos do Estado; desenvolver os setores de tecnologia de ponta; e lutar por educação e saúde gratuitas e de qualidade para todos.
O partido critica principalmente a concentração de recursos públicos para o pagamento da dívida externa. No seu site oficial, a seguinte frase vem ao lado do nome do partido: "Os bancos receberam da União, em oito anos, R$ 1.858.679.200.827,38 (1 trilhão, 858 bilhões, 679 milhões, 200 mil, 827 reais e 38 centavos), sem incluir o refinanciamento da dívida ("rolagem")".
Novo partido vai tentar alianças com PT, PDT, PSB e PMDB Segundo Irapuan, o PPL ainda não tem candidatos certos para as eleições municipais de 2012. No Rio de Janeiro, o partido não deve concorrer à prefeitura da capital, mas sim tentar alianças com partidos de esquerda, como PT, PDT, PSB e o próprio PMDB. Em 2012, a legenda pretende apostar nas cidades de Duque de Caxias, Nilópolis, Campos, Macaé, Niterói, São Gonçalo, Volta Redonda, Resende, Friburgo, Teresópolis, Carmo e Sumidouro - e deve inclusive lançar candidatos a prefeito em alguns desses municípios. Contudo, se o partido ainda engatinha nas suas decisões políticas, a Juventude Pátria Livre (JPL) está a mil. Segundo Irapuan, a JPL já surge com dois dirigentes na União Nacional dos Estudantes (UNE), além de já estar na disputa pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFRJ, junto com outros partidos.
O PPL é o 29º partido do Brasil e sua criação foi criticada pelo presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, logo após o deferimento de seu registro. Para o jurista, a formação de um novo partido revela que o Brasil está inovando na ciência política.
- Estamos indo além do pluripartidarismo, estamos ingressando no hiperpartidarismo. É uma novidade que criamos no Brasil - afirmou.
Irapuan aceita a crítica, mas acredita que o fato de o PPL ter colhido um milhão e 200 mil assinaturas significa que o país quer um novo partido. Ele ressalta que a lei permite novos partido e que, por mais que existam tantos, somente alguns vão se firmar e continuar existindo no futuro.
- O número de assinatura para nós desmistifica duas questões: a de que existem partidos demais e a de que as pessoas não querem saber da política. Se essas coisas fossem verdade, não teríamos colhido tantas assinaturas - opina.
Membro do antigo MR-8 e afastado do grupo há muitos anos, Fernando Gabeira, hoje no PV, não sabia da formação do novo partido.
- Soa como algo de outra galáxia - brincou o verde.
Partido tem dificuldade para filiar possíveis candidatos às eleições de 2012
Os dirigentes do PPL dizem que concentraram seus esforços nos últimos meses em conseguir o registro do partido a tempo e, por isso, ainda não tiveram como decidir quem vai concorrer a o quê.
Eles também tiveram dificuldades em convencer pessoas a entrar na legenda sem oferecer garantias de que ela seria criada. Para participar dos pleitos municipais no ano que vem, é necessário ser filiado a um partido há pelo menos um ano. O Pátria Livre, portanto, tem dois dias para angariar todos os membros que serão candidatos, já que as eleições começam no dia 7 de outubro de 2012.
- Estamos com um plantão para receber pessoas que querem se filiar para se candidatar - afirmou Miguel Manso, secretário nacional do PPL.
Manso, no entanto, deu um prazo para a definição de candidatura: haverá definição de candidatos em cerca de 30 dias.
Ele preferiu não revelar nomes de potenciais candidatos antes que haja discussões mais profundas sobre o assunto internamente, mas adiantou que o PPL terá candidato à prefeitura de São Paulo. O objetivo é principalmente apresentar o novo partido ao Brasil. O secretário nacional informou, contudo, que a primeira-dama de Palmas, Tocantins, Solange Duailibe, atualmente no PT, já manifestou interesse de entrar no PPL.
Enquanto o novo partido de Kassab nasce quase com a terceira maior bancada do Congresso Nacional, atrás apenas de PT e PMDB, o PPL, com origem em um movimento com origens ainda na década de 1960, nasce pequeno.
- Você não é do seu tamanho, mas do tamanho das suas ideias e dos seus sonhos. Vamos ver quem vai ter grandes ideias e sonhos e será capaz de colocá-los em prática. Partidos nascem, crescem e morrem, se não tiverem a capacidade de se desenvolver - disse Manso.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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