PCrônica
PAULO CESAR BRITO-POETA/ESCRITOR AREIABRANQUENSE
Ás vezes, o passado aflora nas lembranças de forma tão acentuada, que somos impelidos a registrá-lo como se fosse o dono da situação ou outra coisa qualquer. Hoje, por exemplo, refletindo sobre coisas e fatos da época de minha infância, não houve como deixar de lembrar-se do forró de Izabel e Zé Viriço que saudades...
Ouvir historia de pessoas mais velhas que eu, e também li crônicas e livros de escritores conterrâneos, sobre grandes festas na época de outrora como: a valsa do Mouco, Forró na casa de Chico Buchudinho e Gaíba de Chica Gata, pastoril de Anastácio Porciano (meu avô) e Bastinho e outras danças típicas de nossa terra ou trazidas de fora por imigrantes. Porém ainda não houve quem escrevesse se quer algumas linhas falando sobre o tão famoso a época o forró de Izabel e Zé Viriço.
Lembro-me bem, quando ainda criança, de vez em quando eu passava em frente aquela casa e tinha em mente certa curiosidade de conhecê-la melhor. Pois nos finais de semana era bastante freqüentada por homens e mulheres que no âmbito daquela casa buscavam momentos de prazeres e diversão, através das danças, namoros e aperitivos.
Um dia por curiosidade resolvi ver de perto aquela casa noturna de lazer com aquela festança toda. Da porta sinceramente confesso, ficava um pouco assustado com o olhar para dentro da casa, e subitamente com o olhar para a rua com medo que a policia chegasse e mandasse-me ir embora para minha casa. Pois naquela época criança morria de medo dos homens de fardas, ou seja, a nossa policia. Eu olhava admirado, homens e mulheres dançando coladinhos, com o suor descendo quente sobre os rostos deles, e que em voz baixinho sussurravam palavras amorosas em seus respectivos ouvidos, convidando-a para logo sair dali em direção a um local adequado para outros fins amorosos.
Ah! o regional? Esse sim eu não poderia deixar de comentar. Era pequeno e atrevido, com um som de qualidade que animava a noitada toda, até o amanhecer. Entre eles lembro-me bem da fisionomia de, Expedito, Dondim, Bibi e Oliveira (Os Sanfoneiros), Assis e Adi (Panderistas), Valdecir Soares e Zé de Cangáia (Bateristas) Manel de Grossos (Cavaquinho) Caxico, hoje Amado Pedro (violão), Edmilson irmão de Toinho do Boné in Memória (Contra-Baixo) e Titico de Chico Preto (cantor). Eram uns músicos e tanto.
Isso o forró rolava a solta no salão onde tinha um homem que era uma espécie de cobrador que tirava a cota (dinheiro) entre os dançarinos para pagar ao regional ali presente. Resolvi olha com mais freqüência lá pra os fundos da casa, ou seja, no quintal onde via homens e mulheres em plena alegria, onde ali rolava as soltas bebidas, tira gostos e uma boa conversa entre os casais da noite. Muitos dos homens que ali freqüentavam eram maiorias comprometidas. Mais esse não era o problema levado em consideração, o momento era propicio para se divertir, em abundancia.
As mulheres chegavam todas as “carradas” trazidas por seus amantes e namorados em bicicletas, carros, lambretas e até a pé. Muita das mulheres que ali freqüentavam, eram advindas de famílias pobres, porém bem vestidas com seus cabelos molhados, cheirosas com a essência da fragrância dos perfumes e colônias da época, alma de flores, toque de amor, charisma, patchouli e topázio. Parece até que eu estou sentindo adentrando em minha narina aquela mistura viva da fragrância advinda da natureza.
Naquele momento a preocupação não era ter dinheiro em grande quantidade, e sim, o suficiente para pagar as suas despesas. Dançavam, e bebiam esbanjando alegria, e juntos homens e mulheres saiam dali do forró com umas doses a mais na mente em direção as suas casas, ou casas de recursos como eram chamadas, para fazerem amor ardente de paixões dentro da relatividade do prazer.
Não esquecendo que em meio à festança toda haveria tempo para deliciar-se de uma gostosa “pipoca” torrada na areia quente, e feita em espécie de rosário, que eram colocadas nos pescoços dos freqüentadores daquela casa festiva. Enquanto os “torreiros”, parte do milho alho que não foram transformados em pipocas, eram vendidos em embrulhos de papel e comercializados muitas das vezes para serem transformados em fubás.
Hoje, ao passar em frente aquela antiga casa de forró e de momentos de alegrias, só me traz grandes recordações e que recordações. Pois muitos dos freqüentadores como, dançarinos, cotadores e regional já se foram... Hoje pergunto ao tempo responsável por toda seqüela, cadê Izabel e Zé Viriço? Os forrozeiros? A velha guarda? O regional? Em fim só me resta guardar as imagens do passado na minha memória e ver uma de suas filhas Lizete com seu esposo Cláudio Melão (O rei do milho Verde) e seus filhos zelando por aquele patrimônio histórico tombado com orgulho por nós saudosistas, ainda hoje existe somente a casa toda modificada pela evolução do tempo. Mas a essência da coisa que era o forró não. A casa serve hoje somente para moradia, e vender algumas guloseimas como, milho verde (assado e cozido), pamonha, canjica e apetrechos como carvão.
Quando dizem que Areia Branca é a terra do “já teve”, concordo plenamente. Pois o forró de izabel e Zé Viriço foi-se para não mais voltar. No entanto fica somente a saudade para os velhos saudosistas assim como eu. Só lembranças e nada mais...
Postado Por:Paulo Cesar Bito
Nenhum comentário:
Postar um comentário