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PAULO CESAR-POETA/ESCRITOR AREIABRANQUENSE
Era um galpão triste no fim da vista dum cercado para as bandas da salina pertencente a Renato. Ali por traz da Escola Especial, não que se diga fosse tristeza soturna, pois era a tristeza comum das coisas solitárias. As portas sempre fechadas, com se ali não morasse ou trabalhasse ninguém.
A caminho do beco do carago, hoje a Rua Francisco da Silveira Martins, em um bairro residencial por nome de Cohab, quando me dava na veneta de ir mais um grupo de amigos, tomar banho nas portas d’água da salina aos domingos, me chamava atenção aquele velho galpão rodeado de silêncios, tão longe aos meus olhos de menino, que parecia plantada na linha do horizonte. Parte dos meninos dizia que ali habitava um homem que virava lobisomem em noite de lua cheia. Sempre me tocou a curiosidade do mistério, tinha vontade de vê-lo perto. Mas tinha medo. Era ali naquele galpão de tabuas, cinzentas pelo tempo, que se reuniam os salineiros todas as madrugadas para bater e retirar o nosso ouro branco o “sal”. E onde eram guardadas as ferramentas dos velhos desbravadores das salinas.
Sabia disso porque seu Pedro Bernardo, um velho salineiro e pai de um grande amigo meu de infância de nome Dedé, falava daquele velho galpão solitário. Eu ficava ali do lado ouvindo as conversas. Tinha vontade de perguntar a seu Pedro se naquele galpão triste, realmente tinha um homem que virava lobisomem. Mais quem disse que menino naquele tempo se metia em conversa de gente grande, minha mãe, então. Não permitia que puxasse conversa com os mais velhos, menino deveria era conversar com meninos. Essas coisas dos costumes de outrora. Pedir benção, aos mais velhos, e pronto, saísse dali. Menino só conversava besteira.
Um dia, já bem taludo, criei coragem junto a outros amigos mais afoitos que eu, e fomos conhecer aquele galpão de perto. Quis voltar do meio do caminho, mas criei coragem e continuei a caminhada rumo ao galpão. A solidão acentuada pelos cantos perdido das gaivotas e marrecas, o medo me tocou conta da imaginação, confesso-lhe. A distancia parecia que aumentava, e a tristeza do galpão ficava a cada passo mais triste. Chegando lá no galpão, encontramos as portas abertas e lá dentro somente ferramentas como, pá, chibanca, picareta, carro de mão, cantis d’água vazios, pertencentes aos salineiros, além de um monte de peças de ferro já corroído pela ferrugem dos veículos que prestava serviço àquela grande salina.
Hoje, derrubaram aquela porta d’água, que era o nosso point de encontro de felicidades aos domingos e quando era época de inverno em Areia Branca. Eu nunca mais pisei o chão onde se encontra aquele velho galpão, que para mim até hoje, ainda é misterioso.
Postado Por:Paulo Cesar de Brito
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