Mais de 120 mil antílopes saiga já morreram desde o início deste mês no
Cazaquistão, num evento ainda misterioso que está sendo tratado como
“catastrófico” por autoridades e organizações ambientais. O número de
animais mortos representa praticamente a metade da população global da
espécie, que está classificada como “em perigo crítico de extinção” pela
União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos
Naturais.Essa perda é um grande golpe para a conservação do saiga no
Cazaquistão e no mundo, já que 90% da população da espécie está no nosso
país — disse Erlan Nysynbaev, vice-ministro de Agricultura do
Cazaquistão. — É muito doloroso testemunhar essa mortalidade em massa.
Nós estabelecemos um grupo de trabalho que inclui todos os
especialistas, incluindo internacionais, para identificar as causas e
empreender todos os esforços para impedir que tais eventos voltem a
ocorrer.
Análises preliminares indicam que a mortandade foi causada
por uma combinação de fatores biológicos e ambientais. Desde a metade do
mês, quatro grandes rebanhos foram erradicados, sendo que maior parte
das carcaças é de mães e filhotes. A pedido do governo local, uma equipe
da Convenção sobre a Conservação das Espécies Migratórias de Animais
Silvestres (CMS, na sigla em inglês) foi enviada ao país de forma
emergencial, com especialistas da Royal Veterinary College, do Reino
Unido, e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO, na sigla em inglês).
Os animais começaram a morrer no dia 10 de maio. Quando o
número de mortos alcançou 27 mil, em questão de dias, o governo pediu
ajuda internacional. Os especialistas chegaram ao país na última
sexta-feira e se assustaram com o cenário.É muito dramático e traumático, com 100% de mortalidade —
disse Richard Kock, do Royal Veterinary College, em entrevista ao site
New Science, explicando que os animais morrem de diarreia severa e
dificuldade para respirar. — Eu não conheço um exemplo na história com
esse nível de mortalidade, matando todos os animais e suas crias.
De acordo com os especialistas enviados ao campo, está ficando claro que dois patógenos oportunistas, especificamente a Pasteurella e a Clostridia,
estão contribuindo para a mortandade rápida e bastante difundida.
Entretanto, a busca pelas causas fundamentais para a mortalidade em
massa continua, porque essas bactérias são letais apenas para animais
que já estejam com o sistema imunológico enfraquecido.
— Especialistas estão trabalhando contra o relógio para
investigar os impactos em termos de saúde selvagem das chuvas da
primavera, a composição da vegetação e outros fatores potenciais, como
vírus. Nenhum dos dados analisados até agora indicam que os combustíveis
de foguetes estão relacionados com a mortandade — disse Aline
Kühl-Stenzel, especialista em espécies terrestres da CMS.
O Cazaquistão abriga o cosmódromo de Baikonur, a maior base
de lançamento de foguetes do mundo. Foi de lá que missões históricas
foram lançadas, como a do primeiro satélite artificial, o Sputnik 1, e a
do primeiro voo orbital de Yuri Gagarin. Mesmo após o fim da União
Soviética, o cosmódromo continua em operação e é o principal centro de
lançamento de veículos que abastecem a Estação Espacial Internacional.
A
população de saigas superava um milhão de espécimes até os anos 1990,
mas desde então caiu drasticamente. O animal já foi extinto na China e
na Mongólia. Pequenos grupos ainda existem na Rússia, no Turcomenistão e
Uzbequistão, mas o Cazaquistão concentra os maiores rebanhos. O país
vem criando novas áreas de proteção e patrulhas para combater a caça
ilegal. Um levantamento aéreo conduzido no início deste ano, antes da
mortandade, estimou em 250 mil o tamanho da população no Cazaquistão.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus