 Tão logo tomou posse para seu segundo mandato, a presidenta Dilma 
Rousseff (PT) anunciou que o lema de seu governo seria ‘Brasil, Pátria 
Educadora’. Para transformar o slogan em realidade, o convocado foi 
Roberto Mangabeira Unger, que retornou ao cargo de ministro-chefe da 
Secretaria de Assuntos Estratégicos. 
                      
Professor da Universidade de Harvard, nos 
Estados Unidos, ele volta ao posto que ocupou entre 2007 e 2009 num 
momento definido por ele como “mais cheio de dificuldades e de 
limitações”. Enxerga, porém, “oportunidades para iniciar um novo ciclo 
de desenvolvimento do país”.
Tão logo tomou posse para seu segundo mandato, a presidenta Dilma 
Rousseff (PT) anunciou que o lema de seu governo seria ‘Brasil, Pátria 
Educadora’. Para transformar o slogan em realidade, o convocado foi 
Roberto Mangabeira Unger, que retornou ao cargo de ministro-chefe da 
Secretaria de Assuntos Estratégicos. 
                      
Professor da Universidade de Harvard, nos 
Estados Unidos, ele volta ao posto que ocupou entre 2007 e 2009 num 
momento definido por ele como “mais cheio de dificuldades e de 
limitações”. Enxerga, porém, “oportunidades para iniciar um novo ciclo 
de desenvolvimento do país”.                        
                      
                      
Um dos fundadores do PMDB, Unger crê 
que a estratégia de crescimento nacional utilizada pelo PT nos últimos 
governos se esgotou, e é necessário “casar descontentamento com 
imaginação” para buscar soluções. Mergulhado na proposta da Pátria 
Educadora, ele defende a renovação das instituições brasileiras, critica
 a proposta de reforma política e elege o fim do financiamento 
empresarial de campanhas políticas como primeiro passo.
                        A ideia da SAE é auxiliar a Presidência para pensar o Brasil a longo prazo. O que o senhor prevê para o futuro do país?
                      
                      Não acredito em previsões, só em propor e agir.
 O que tenho procurado é definir iniciativas para apresentar um novo 
caminho para o Brasil. A proposta da Pátria Educadora é nesse sentido. 
Trabalhamos em três grandes áreas: uma revolução educadora, a 
democratização das oportunidades econômicas e ajudar a presidenta a 
pensar políticas regionais. Precisamos acalentar vanguardas alternativas
 no Brasil, vir ao encontro dos agentes que já existem e dar-lhes 
oportunidades. Nesse último ponto, vejo que o Rio de Janeiro pode ser 
uma grande frente no Brasil, servir como paradigma de desenvolvimento.
                      
                        Em um dos seus textos, o senhor fala da 
existência de uma “ditadura de falta de alternativas”. Defender um novo 
modelo de desenvolvimento significa dizer que a aposta do PT em manter 
baixos os níveis de inflação e apostar em políticas de inclusão social 
se esgotou?
                      
                      Não foi só o PT que apostou nesse modelo. A 
verdade é que tivemos grandes conquistas de desenvolvimento. Não pode 
ser considerado pouca coisa tirar milhões brasileiros da pobreza. Mas o 
potencial dessa estratégia se exauriu, nós precisamos de uma nova 
estratégia.
                      
                        Que diferenças o senhor vê entre 2009, quando deixou a SAE, e agora em seu retorno?
                      
                      
Agora é um momento mais difícil e 
cheio de dificuldades, até por conta do ajuste fiscal que temos de 
fazer. Mas é uma situação mais rica em oportunidades, porque o país 
começa a compreender a necessidade de entrar em uma nova fase, ampliando
 oportunidades econômicas e educacionais.
                      
                        Na economia, o que pode ser feito para começar novo projeto de desenvolvimento?
                      
                      
Um dos vários requisitos dessa nova 
estratégia é facilitar a importação de tecnologias avançadas. Temos um 
grande preconceito de que exportar é bom e importar é ruim. Mas isso é 
apenas uma parte do projeto: a essência é dar braços, asas e olhos para a
 energia humana que fervilha no Brasil. O povo precisa de mais 
oportunidades.
                        Em linhas gerais, uma das formulações 
que a proposta da Pátria Educadora traz é a de criar um Sistema Nacional
 de Ensino. Como isso seria possível num país tão diverso como o nosso?
                      
                      O ensino brasileiro é paradoxal. Não há um 
sistema nacional, mas as práticas de educação e de ensino público são 
bem semelhantes: há um conformismo com a mediocridade. O primeiro passo 
da construção de um sistema nacional eficiente é estabelecer cooperação 
entre estados e cidades.
                      
                        Dentro dessa cooperação está prevista a intervenção federal em escolas que não conseguirem apresentar bons resultados?
                      
                      Nunca se falou nisso, há um mal entendido. A 
minha convicção é que a qualidade do ensino que uma pessoa recebe não 
pode depender do acaso do lugar onde ela nasce. Nós temos que 
reconciliar o nosso país grande e desigual à gestão local das escolas 
com padrões nacionais de investimento e qualidade. Só quando isso não 
for possível é que se deve atuar para resgatar as escolas. Do contrário,
 vão dizer que o problema é da criança.
                      
                        Fala-se sobre reforma nos currículos escolares.
                      
                      Este é o segundo eixo da proposta da Pátria 
Educadora. Precisamos de uma reorientação profunda na maneira de ensinar
 e aprender no Brasil. Aqui, é só “decoreba” e enciclopedismo raso. 
Precisamos focar em interpretação e raciocínio lógico, de forma 
capacitadora. As escolas têm que trabalhar com as famílias e o ensino 
organizado cooperativamente.
                      
                        A ideia do Exame Nacional do Ensino 
Médio (ENEM) é justamente essa: testar para a capacidade de análise do 
aluno. Tendo a prova como gancho, qual análise o senhor faz da educação 
nesses três mandatos completos do PT?
                      
                      Primeiro, me permita uma correção. Eu não sou 
filiado ao PT, o governo não é do PT, é uma coalizão progressista, de 
forças progressistas. Estamos nos primeiros passos para um bom projeto 
para educação. Precisamos inspirar modernização.
                      
                        Como levar adiante os projetos do senhor para SAE em tempos de arrocho e pouca verba disponível para projetos?
                      
                      Dinheiro é importante, mas é menos importante 
que ideias. Com muito dinheiro e nenhuma ideia, não se faz nada que 
preste. Mas com muita ideia e pouco dinheiro, muita coisa pode ser 
feita. É preciso ter um entendimento correto do ajuste fiscal. Não é 
agenda: é preliminar a uma agenda de desenvolvimento. Não é para ganhar 
confiança financeira, é acertar as contas para que nosso desenvolvimento
 não dependa da confiança financeira.
                      
                        Pensar em novas soluções para o desenvolvimento para o país é mais difícil num momento político conturbado como o atual?
                      
                      Tem que ter projeto forte.Quando ficar claro 
que há projeto forte, a situação política vai mudar completamente. Toda 
essa pequena confusão política prospera no vazio de ideias. Na época do 
Vargas, havia projeto e os partidos se polarizaram em torno dele. É isso
 que vai acontecer novamente no Brasil. Havendo projeto forte, o pequeno
 vai se curvar ao grande, o Brasil vai voltar a pensar grande. A agenda 
do país vai se voltar para nossas grandes tarefas.
                      
                        Em seus escritos, o senhor fala da 
necessidade de reformar a democracia e as instituições. Atualmente, o 
Congresso debate uma proposta de reforma política. O que podemos esperar
 dela?
                      
                      Há um problema da organização que não podemos 
adiar: o financiamento empresarial de campanhas eleitorais que é a porta
 da corrupção da política brasileira. Temos que tirar já a política da 
sombra corruptória do dinheiro. E o outro ponto é que se a reforma 
política for conduzida pelas oligarquias atuais, corre o risco de ser 
perversa. É grande o risco de que ela seja encaminhada prematuramente e 
entre em descaminho. A reforma política fecunda só pode acontecer na 
medida em que o país se levantar e participar desse grande debate.
                      
                        É possível uma repactuação entre PT e PMDB?
                        
                      
                      As pequenas desavenças políticas prosperam e se
 multiplicam nesse grande vazio de programas. Quando ficar claro que há 
projeto, teremos outro cenário. Não haverá consenso, nem as divergências
 irão sumir, mas elas serão subsidiárias ao que realmente importa para o
 país.
                      
                        Hoje, no Congresso, discute-se baixar a idade penal, terceirizações, revogação do estatuto do desarmamento.
                      
                      O Congresso reflete o país em sua diversidade. É
 natural que haja uma agenda conservadora. Nós, os progressistas, temos 
de definir a nossa agenda. Quando a tivermos, o apoio será majoritário.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus