Não cobiçarás
"Que diremos pois? É a lei pecado?
De modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu
não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás" - Romanos 7.7.
"Não cobiçarás..." - Êxodo 20.17. O
verbo cobiçar expressa a ideia de encontrar prazer em alguma situação
ou coisa. No versículo em apreço, a raiz primitiva em hebraico significa
sentir predileção, deleitar-se em beleza, desejar intensamente, querer
coisas valiosas, amar de maneira apaixonada. É inerente ao ser humano
ter desejos e vontades, não existe erro algum nesta característica. O
que o décimo mandamento proíbe é a ambição imprópria, como desejar a
esposa, a casa, entes de outras pessoas.
O Salmo 39.11 assinala o desejo ou anseio excessivo. As palavras
"beleza" (ARC), "precioso" (ARA), "valioso" (NVI) e "mais amamos" (NTLH)
são extraídas do vocábulo hebraico que tem o sentido de algo ou alguém
cobiçado e conquistado. Assim o salmista declara que o ser humano é
vaidade e que aquele que comete o pecado da cobiça fora dos parâmetros
determinados no Decálogo é castigado por Deus.
O Talmude, livro sagrado do judeus, identifica o coração e o olho como
agentes de pecado. Considera que quando uma pessoa permite que a mente
se encha de pensamentos contrários à vontade do Senhor, se expõe
deliberadamente à tentação.
E viu a mulher que... (Gênesis 2.6).
Neste texto bíblico vemos que Deus permite que o proibido exerça a sua
atração total sobre o ser humano. Assim como Eva foi conduzida pela
serpente, Adão foi conduzido por Eva, ao invés de exortá-la a obedecer
ao Criador. Os atos simples de tomar o fruto proibido nas mãos e comê-lo
teve resultado penoso ao casal. Após homem e mulher provarem o sabor,
descobriram que a declaração da serpente era mentirosa, conheceram o
afastamento do Criador, a pobreza e a morte.
A narrativa da queda de Adão e Eva é o primeiro exemplo bíblico do
processo do pecado, do estágio da cobiça que rapidamente se transforma
em ato de desobediência, pois Eva deu ouvidos a uma criatura em lugar do
Criador, seguiu suas impressões pessoais contra as instruções recebidas
e estabeleceu para sua meta a autorealização. O desejo veemente de
conseguir alguma coisa é a raiz do qual surge o pecado contra si mesmo e
contra o próximo, tanto no pensamento quanto na prática.
A beleza é uma porta para a entrada da cobiça. A Palavra de Deus oferece orientações claras com a finalidade de oferecer escape aos que temem ao Senhor. Explica que por causa de uma mulher prostituta o homem passa a mendigar uma porção de pão, age tal qual um suicida pois caminha como um animal em direção ao matadouro sem tentar livrar-se da morte iminente.
No capítulo 6 de Provérbios encontramos advertência ao homem a não cobiçar a formosura da mulher do próximo. A pessoa que entrar numa relação adúltera e escolher a insensatez em vez da sabedoria piedosa certamente sofrerá as consequências dessa escolha, o preço da desobediência é altíssimo, até sua alma será destruída (Provérbios 6. 25, 29, 32; 7.1-27).
Bate-Seba, a cordeirinha roubada (2 Samuel 11. 1-27). Quando o rei Davi em vez de liderar seu exército em batalha resolveu desfrutar do conforto de seu palácio cometeu o pecado da cobiça, desejando a mulher do próximo.
Após descansar durante o calor do dia, Davi saiu para aproveitar a brisa do calor da noite em seu terraço. Aparentemente, o palácio era mais alto que as outras construções em volta, permitindo uma vista privilegiada dos pátios e terraços de outras construções em Jerusalém. Nestas condições, os olhos de Davi encontraram a bela esposa do heteu Urias em sua intimidade. Ele viu Bate-Seba no momento em que tomava banho na privacidade de seu lar e seu coração a cobiçou. Então, ordenou que a trouxessem diante de sua presença e adulterou com ela. Neste encontro adúltero ela ficou grávida. Davi quis esconder seu pecado e trouxe o marido de Bate-Seba da guerra para sua casa, para que houvesse conjunção carnal entre o casal e todos pensassem que a criança fruto de cobiça lasciva seria o filho do marido de Bate-Seba. Mas como Urias não aceitou voltar para seu lar e os braços da mulher à batalha emitindo ordem expressa que ficasse em um ponto arriscado. Urias morreu guerreando.
A luxuria de Davi causou a morte de um leal comandante do seu exército e a tristeza de Bate-Seba pelo estado de viuvez e perda de um filho (2 Samuel 11.26; 12.24).
É importante frisar que na parábola do profeta Natã, Bate-Seba é descrita como vítima, é comparada a uma cordeirinha roubada (2 Samuel 12.3-4). Apesar de nenhum texto bíblico informar que tenha resistido aos avanços do rei, também não diz que ela tentou seduzi-lo. Portanto, não é correto descrevê-la como uma mulher sensualmente provocativa, que usou sua beleza física para morar no palácio, tal interpretação de texto não possui fundamentos bíblicos.
A vinha de Nabote (1 Reis 21.1-19). O rei Acabe poderia ter a terra que desejasse, porém tomado pela cobiça desejou a bela plantação de videiras do jizreelita Nabote, que se recusou a vendê-la ou trocá-la porque era herança de seus pais, e entristeceu-se a ponto de não querer comer. Deu plena liberdade para que sua esposa, Jezabel, cometesse abuso de poder, mentisse, usasse métodos degradantes para que dessa forma se apoderasse do que era de seu próximo.
Jezabel havia aprendido o suficiente da lei judaica, era conhecedora que nenhum homem deveria ser condenado à morte sem duas ou três testemunhas de seu crime então usou o conhecimento da prescrição da lei para transgredi-la, ao chamar duas testemunhas falsas para dizer que Nabote havia blasfemado contra Deus e o rei, visando a morte de um homem inocente por apedrejamento (Deureronômio 17.6). Nabote morreu. Quando Acabe estava para se apossar da vinha, recebeu o recado do profeta Elias anunciando que sua casa seria exterminada e cães lamberiam seu sangue e devorariam Jezabel. A profecia se cumpriu (1 Reis 22.38; 2 Reis 9.34-37).
Conclusão
A cobiça é o resultado da maldade humana. Os Dez Mandamentos preservam os cristãos de todas as espécies de cobiça e todos os outros pecados existentes (Provérbios 6. 24, 25, 26, 29).
O mundo continua a oferecer coisas que façam o ser humano agir contra as determinações do Senhor (1 João 2.16). O Diabo tem sido eficiente na vida de muitos crentes ao ter sucesso na estratégia de fazer crer que a Palavra de Deus não é significante nos dias atuais, vende a falsa ideia do mal como se fosse uma coisa que está além do bem; da sabedoria, como sofisticação; e, de grandeza, como ambição. É capaz de fazer de tudo para levar o cristão a desfrutar de um pouco de prazer mundano, mas, na sequência do pecado vem a cobrança caríssima.
Nunca devemos confiar unicamente em nossa consciência para ser salvo da condenação pela prática do pecado. O interesse da carne em pecar encobre a doce e calma voz da consciência. A função da Lei de Deus é apontar a sujeira que possa estar oculta na alma humana. É imprescindível que se exponha a Lei espiritual, porque somente quando o crente vê suas falhas à luz da santidade de Deus e da Lei é que ele terá a sua consciência despertada e aceitará a direção do Evangelho de Cristo.
Jamais caia na armadilha de pensar que a Lei de Deus não tem mais importância. Além de ser a tutora que nos leva até Cristo, ela também nos oferece o conhecimento que nos guiará por toda a vida. Não é edificante desprezar os ensinamentos bíblicos (Gálatas 3.24).
Por:Damiana Sheyla