Está nas ruas, além do povo, a campanha para a Presidência de 2014.
Enquanto Dilma Rousseff costura como vai responder à voz das ruas,
políticos se apressam em tirar da manga um ‘saco de bondades’ para
tentar mostrar que estão atentos aos protestos.
De um lado, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) marcou
território ontem como líder da oposição, cobrando transparência nos
gastos do governo e exigindo “política de tolerância zero com a
inflação”.
De outro, o presidente da Casa, Renan
Calheiros (PMDB-AL), surpreendeu ao prometer votar em 15 dias
iniciativas que atendam às reivindicações populares e propor passe livre
para estudantes. Renan deixou claro o quanto Dilma depende do partido
aliado para tirar do papel seus ‘pactos’ pelo país.
Aécio reclamou porque a oposição não foi chamada a discutir
o que fazer para dar uma resposta aos protestos e fez propostas, como
permitir a divulgação dos gastos das viagens internacionais da
presidenta e liberar o acesso às despesas com cartões corporativos da
Presidência da República. O senador também sugeriu “auditar todos os
gastos realizados com a promoção da Copa” e cobrou a conclusão de “todas
as obras de mobilidade urbana” relacionadas ao campeonato, “deixando
legado definitivo para a população”. Em sua lista coube, ainda, a
cobrança de “investimento mínimo de 10% do PIB em Educação”.
Ao defender o passe livre para os
estudantes, Renan argumentou: “Quem paga efetivamente do bolso, pessoa
física, é o estudante. Nada mais justo de que, no momento em que
colocamos os royalties todos para financiar a Educação, que nós possamos
conceder o passe livre para o estudante brasileiro regularmente
matriculado e com a frequência comprovada nas escolas.”
O presidente do Senado também propôs o Pacto pela Segurança
e o Pacto Federativo, que se somariam aos cinco apresentados por Dilma
na segunda-feira — Responsabilidade Fiscal; Reforma Política; Saúde;
Educação; e Transporte. A ideia de Renan é destinar verba da União,
estados e municípios exclusivamente para a Segurança Pública por cinco
anos e aumentar a pena para os traficantes. O peemedebista também falou
da importância de se aprovar a obrigatoriedade de investimento de 10% do
PIB em Educação e uma nova lei que trate corrupção como crime hediondo.
Dilma desiste de Constituinte
A presidenta Dilma Rousseff desistiu da idéia de
convocar uma assembléia constituinte para fazer a reforma política. A
decisão foi anunciada ontem pelo ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, depois que Dilma se reuniu com os presidentes do Supremo
Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa; da Câmara, Henrique Eduardo
Alves (PMDB-RN); do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) ; e com o
vice-presidente Michel Temer. O motivo foi ganhar rapidez na promoão da
reforma, um dos temas mais usuais nas passetas.
A idéia é que a população seja diretamente
consultada, em votação plebiscitária, sobre os temas da reforma, entre
eles o financiamento de campanhas e a representação política.
“O povo tem consciência, sabe que precisa
reformar. Esse é o recado que as ruas estão demonstrando, e as urnas
terão que encontrar com a rua. Para isso, tem que ter reforma política.
Se ela é o instrumento que viabiliza este encontro, nós não queremos
postergar essa agenda”, concluiu o ministro.
O BRASIL ESTÁ CANSADO DE ‘CONCHAVOS’
O “Brasil está cansado de reformas de cúpula”, de
“conchavos”. A frase não foi grito de guerra em algum protesto pelo
país. Foi dita ontem pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF),
ministro Joaquim Barbosa, em entrevista coletiva que concedeu na sede do
Conselho Nacional de Justiça (CNJ) logo depois de se encontrar com a
presidenta Dilma Rousseff.
Barbosa fez a análise depois de lembrar
rapidamente os principais momentos da História do Brasil — Independência
e Proclamação da República, por exemplo —, quando, segundo ele, o “povo
foi excluído”.
“O que temos que ter é a consciência clara de que
há necessidade no Brasil de incluir o povo nas discussões sobre
reformas. O Brasil está cansado de reformas de cúpula. Temos, sim, que
trazer o povo para a discussão e não continuarmos com essa tradição de
conchavos de cúpula”, disse o ministro.
Quando um jornalista lhe falou sobre pesquisa de
opinião em que seu nome apareceu espontaneamente como possível candidato
à Presidência, o ministro respondeu sem hesitar.
“Não tenho a menor vontade de me lançar candidato
à Presidência da República”, disse, lembrando que as pessoas
consultadas não representavam a sociedade brasileira. O presidente do
STF fez questão de dizer que, pelas críticas que faz a certas “práticas”
é “uma voz minoritária no Judiciário brasileiro”.
O ministro também opinou sobre a possibilidade de
a legislação permitir as chamadas “candidaturas avulsas”, não atreladas
a partidos políticos.
“Há sentimento difuso na sociedade, e eu, como
cidadão, penso assim. Há vontade do povo brasileiro, principalmente os
mais esclarecidos, de diminuir ou mitigar o peso – não suprimir –, o
peso dos partidos políticos sobre a vida política do país. Essa parece
ser uma questão chave em tudo que vem ocorrendo no Brasil.”
Postado Por:Daniel Filho de Jesus