O apóstolo Paulo e a administração da coleta de dinheiro na igreja
2 Tessalonicenses 3.6-13
Paulo pregou contra pecados. E um desses pecados era o pecado da
preguiça. Pediu que os cristãos de Tessalônica não convivessem com
preguiçosos e que quem não quisesse trabalhar não deveria querer comer
(2 Tessalonicenses 3.6-13). Este trecho bíblico é usado com
interpretação errada contra quem exerce o ofício de pastor em tempo
integral e é remunado para a função.
Sobre pastores preguiçosos escrevo logo mais em outro parágrafo deste artigo.
É um grande preconceito pensar que o exercício pastoral não seja
trabalho. É trabalho tão ou mais digno que o trabalho secular, pois o
pastor evangélico prepara almas para entrar no céu, enquanto que quem se
ocupa de tarefas dessa vida lida com o que é passageiro aos olhos de
Deus, coisas que um dia serão incineradas pelo fogo do Senhor, se não
perecerem antes com os desgastes naturais (2 Pedro 3.7,12).
Há gente preconceituosa que olha para a figura pastoral sem lembrar que o
próprio Jesus Cristo estabeleceu tal função nas igrejas, para o bem
coletivo: "E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e
ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da
estatura completa de Cristo" - Efésios 4.11-13.
Gente preconceituosa não considera que os pastores são pessoas
vocacionadas, que oram pelos membros da Igreja, aconselha-os, ajuda-os
em momentos complicados, estudam a Bíblia para compor o sermão que
servirá de alimento para os ouvintes da sua pregação. E, injustamente,
dizem a eles: "vão trabalhar, esqueçam o ganho fácil com os dízimos e
ofertas!".
Críticos do recebimento de dinheiro como salário pastoral, usam a
descontextualização bíblica e histórica para atacar pastores. Afirmam
que o ganho não tem aprovação de Paulo, que o apóstolo nos deixou
doutrina contrária à coleta de dinheiro com objetivo de que uma parte
dela servisse como salário aos pastores. Os tais não ponderam que na
Bíblia Sagrada encontramos textos normativos e textos narrativos.
Encontramos a narração bíblica informando que Paulo trabalhou
construindo tendas, mas não recebemos orientação na parte normativa
solicitando que as lideranças seculares tenham ocupação em atividade
secular. Pelo contrário, a norma bíblica apresentada por Paulo recomenda
aos cristãos liderados que sustentem financeiramente o seu líder.
Jesus e o trabalho de carpinteiro
Dias atrás, alguém dirigiu-se a mim dizendo que eu defendia o salário de
pastores porque eu era um deles. E continuou seu desfile de equívocos
ao usar Isaías 53, como base de contestação à remuneração pastoral.
Ora, essa pessoa não sabe, ou se fez que não sabia, o seguinte:
Jesus Cristo trabalhou como carpinteiro. Mas precisamos lembrar também
que Ele ao completar trinta anos, a idade de maioridade civil naquela
sociedade judaica de então, tomou rédeas de sua vida, afastou-se do lar e
abandonou a profissão para ser pregador das Boas Novas do céu. E além
disso, convidou mais doze homens a seguirem em sua jornada abandonando
suas profissões. Por três anos e meio o grupo de Jesus sobreviveu às
custas de ofertas de seguidores, inclusive mulheres (Lucas 8.3).
Portanto, pastores evangélicos sustentados pela membresia de congregação
são imitadores de Cristo, sim. Quem alega o contrário é desonesto ou
erra pela falta de conhecimento bíblico.
Paulo e a fabricação e venda de tendas
Em Atos 20, encontramos a narrativa de uma reunião de obreiros que Paulo
dirigiu em Mileto. Ele conta fatos vividos em viagens, experiências de
perseguição religiosa, profecias sobre seu futuro. E comenta que não
cobiçou riquezas das pessoas que ouviram sua pregação, que era uma
pessoa que mantinha ofício secular para sustentar-se.
Ao observar textos narrativos, como é o caso de Paulo, construtor de
tendas, devemos ter o cuidado de analisar os contextos histórico e
bíblico. Quanto a questão histórica, lembremos que Paulo agia como
missionário, era um viajante. Não é possível fazer um paralelo com o
cargo de um pastor que viva no tempo atual dentro de estruturas
eclesiásticas já estabelecidas na função de líder em uma comunidade.
Paulo chegava em localidades onde não havia estrutura de uma comunidade
cristã estabelecida. Ora, como sobreviver de ofertas assim? Ele
sobrevivia com seu labor pessoal em tarefas seculares e esperava o apoio
de cristãos de igrejas distantes, gente cristã disposta a patrocinar
sua missão (Filipenses 4.15-16). E após a nova comunidade cristã estar
estabelecida, ensinava os membros sobre o dever da contribuição
financeira e partia para outros horizontes, empossando sobre elas uma
liderança local (2 Corintios 9.4-12; Tito 1.5-9).
O apóstolo anuncia que há dignidade em o pastor receber salário cuja
origem seja a arrecadação de dinheiro da igreja. O texto normativo de
Paulo: "Dígno é o obreiro do seu salário" - 1 Timóteo 5.18.
Existe registro no Novo Testamento informando que Paulo recebeu ofertas para seu sustento:
"Não que procure dádivas, mas procuro o fruto que cresça para a vossa
conta. Mas bastante tenho recebido, e tenho abundância. Cheio estou,
depois que recebi de Epafrodito o que da vossa parte me foi enviado,
como cheiro de suavidade e sacrifício agradável e aprazível a Deus." - Filipenses 4:17-18.
Imitadores de Jesus
Aqueles que são contrários ao salário pastoral também se utilizam
equivocadamente de 1 Corintios 11.1 , quando Paulo solicitou aos
cristãos que conviviam com ele que o imitassem. Mas quem faz uso dessa
passagem nem se quer presta atenção no versículo em si. Paulo pediu para
ser imitado em seu propósito de ser um imitador de Jesus Cristo. O
advérbio "assim/como" (ARC, ARA) nos faz entender que precisamos
imitar a Jesus, tão-somente. Ou seja, todos os cristãos precisam imitar a
Cristo do mesmo modo que o cristão Paulo imitava.
Conclusão
Paulo não só era uma liderança, mas a maior entre todas lideranças de
missionários que o cristianismo conheceu. Jamais devemos criticar
qualquer liderança que faça o mesmo que Jesus Cristo e Paulo fizeram,
trocar a profissão secular pela liderança do ministério cristão e
receberem sustento por desempenhar ofício espiritual.
Enfim, é correto dizer que o obreiro é digno de seu salário. É honesto
que o pastor evangélico receba e viva de salário da igreja. É certo
esperar que o pastor assalariado desempenhe serviço espiritual em favor
da congregação que lidera. É natural esperar que o pastor assalariado
esteja disposto a visitar os membros, orar por eles, ter sempre horário
disponível em sua agenda para receber o congregado em seu gabinete. É
justo que o líder, mensalmente, preste contas aos ofertantes e
dizimistas sobre o destino de valores financeiros arrecadados. É sensato
que o liderado, o congregado, despreze pastores que não cumprem tais
expectativas de ofertantes e dizimistas. É ato inteligente o congregado
afastar-se do ministério de pastores omissos e ociosos e partir para
outro ministério em que haja pastor evangélico responsável e
trabalhador, devidamente enquadrado com a Palavra de Deus no que tange à
clareza no trato com o dinheiro.
Obedeça e sujeite-se apenas ao pastor que vela por sua alma, mas não tenha o
mesmo apreço por quem se diz pastor e não viva como tal (Hebreus
13.17).
Por:Damiana Sheyla