Aliados no governo federal e no comando da capital da República, PT e PMDB vivem um momento de esgarçamento na relação entre os dois por conta da CPI do Cachoeira. As duas legendas atravessam uma crise de confiança que pode se agravar com as eleições municipais, que serão realizadas em paralelo com as investigações no Congresso.
Por enquanto, uma perda computada para cada lado. A comissão quebrou o sigilo bancário da construtora Delta, o que pode expor o governador do Rio, Sérgio Cabral. Também convocou o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, para explicar uma possível ligação com o esquema montado pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Segundo apurou o Correio, as duas derrotas surgiram de sentimentos de vingança nutridos de parte a parte. O PT não gostou da postura moderada do PMDB em relação aos rumos da CPI.
Os petistas resolveram, então, dar o troco e apoiaram a quebra do sigilo da construtora Delta Nacional. Alegaram que não havia mais como impedir as investigações, mesmo queisso viesse a prejudicar o governador fluminense, Sérgio Cabral. "Além disso, eles estavam quietinhos deixando para nós a tarefa de defender Cabral", reclamou um petista sobre o comportamento considerado "omisso e acomodado" do PMDB. O revide veio na sessão da última quarta-feira na CPI, quando o PMDB estimulou outras legendas da base de apoio do governo a aprovar a convocação de Agnelo Queiroz para prestar esclarecimentos na comissão. "Qual será a próxima vingança?", questionou um analista político.
Em Brasília
A relação ruim se repete no Distrito Federal. Há meses existe um clima de desconfiança entre aliados do governador Agnelo Queiroz (PT) e do vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), principalmente na base. Preocupado com a repercussão dessa análise em sua convivência no Governo do DF, o vice-governador Tadeu Filippelli passou a quinta-feira tentando contestar essa versão. Ele responsabiliza uma falha do próprio PT pela convocação de Agnelo.
Filippelli culpa o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP),a quem chama de "Jilmar sem tato" pela desarticulação política no momento da votação da convocação. "Basta analisar o placar de votações para ver quem traiu e quem foi leal. O PMDB votou nos três requerimentos de convocação de governadores rigorosamente da mesma forma que o PT e o PCdoB", disse ontem. "Quem votou a favor das convocações foram parlamentares do PTB, PP, PSB, PDT e PSD. Como pode ser culpa do PMDB?", reclamou.
O vice-governador disse que o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), não só votou contra, como também deixou o comando da comissão com o vice-presidente, Paulo Teixeira (PT-SP), para não criar dificuldades para a atuação dos petistas contra a convocação de Agnelo.
A preocupação de Filippelli tem motivos. Ele tenta manter uma boa relação com Agnelo em meio a intrigas dos dois lados. Há uma desconfiança de espionagem política das duas partes. O vice-governador teme ter sido alvo de grampos e chegou a pedir informações sobre suposta investigação a esse respeito ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) e à Procuradoria-Geral da República.
O grupo de Agnelo, por sua vez, não digeriu bem as escutas feitas pela Polícia Federal em que há referências sobre suposto pagamento feito por Filippelli para financiar ataques a Agnelo em blogs. O vice-governador nega essa possibilidade. Mas a nuvem da dúvida permanece.
No ano passado, Agnelo e Filippelli se desentenderam algumas vezes, principalmente em relação ao comando do setor de obras, uma fatia do Executivo que caberia ao PMDB na aliança fechada antes das eleições de 2006. O petista, aos poucos, tirou do peemedebista o poder de comandar todo o setor. Uma das parcelas do governo ainda sob o comando total de Filippelli é a Secretaria de Transportes.
Com o início das disputas municipais, a tendência é que as divergências se acentuem. PT e PMDB buscam espaços para demonstrar força em 2014. "Eleição para prefeito não influencia a eleição presidencial. Mas define a eleição de deputados, que formarão a base de apoio para o futuro presidente", disse um interlocutor palaciano.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus