Mulheres já são maioria nas universidades

Aos 40 anos, Lena se mudou do Rio de Janeiro para Valença, no Sul Fluminense, a 162 quilômetros da capital, para cursar Medicina. Além dos livros e do jaleco branco, a moradora de Cosmos, na Zona Oeste da cidade, levou os três filhos menores. “Eu tinha vontade de realizar meu sonho de infância, mas também queria as crianças perto de mim”, lembra a médica, integrante da primeira turma de bolsistas do ProUni. Alugou uma casa com auxílio do programa e matriculou os filhos em colégios públicos. “Eles me ajudaram muito a concluir o curso”. Um ano após a formatura, Lena se desdobra em três empregos, mas se diz realizada. A trajetória de Lena ilustra o aumento da escolaridade das brasileiras, que já ocupam 58,2% dos postos de trabalho no País. Nos últimos 10 anos, a renda feminina subiu 67%, enquanto a dos homens cresceu 40%. Este ano, elas devem injetar na economia R$ 717 bilhões.A força e a determinação para superar dificuldades têm levado cada vez mais mulheres a bater nas portas do Ensino Superior. Elas são maioria nas universidades brasileiras e as primeiras a se formar. Em 2010, dos 973,8 mil estudantes que concluíram a faculdade, 60,9% eram mulheres. “As brasileiras estão assumindo seu lugar no mercado de trabalho e ocupando cada vez mais postos de chefia”, constatou Renato Meirelles, sócio-diretor do Instituto Data Popular.
A professora de Educação Infantil Lucivânia Soares, 30 anos, parou de estudar há 8 anos, quando engravidou. Sofreu complicações após o parto, que a deixaram um ano em tratamento. Encontrou na família a motivação que faltava para recuperar o tempo perdido. João Bernardo, 9 anos, cobrava da mãe que voltasse a estudar. Ano passado, Lucivânia entrou para a faculdade de Pedagogia. Mas optou pelo curso a distância para ter mais tempo de acompanhar os estudos do filho.
Ex-moradora da Vila Vintém, subúrbio do Rio, Andrea Teles, 39, é hoje uma empresária bem-sucedida e escritora. Vive com a família em um apartamento próprio no Recreio dos Bandeirantes. Com um passado de violência e abusos na infância, aprendeu duras lições para uma vida de superação. A ex-doméstica contou com a ajuda dos patrões para concluir os estudos. Morava com eles, trabalhava de dia e estudava à noite. Aos 29 anos, sonhou que tinha de abrir uma escola. “Vendi o carro, o apartamento, pedi empréstimo no banco e abri uma pré-escola. No primeiro ano, eram 20 alunos”, diz. Andrea já é dona de três escolas em Jacarepaguá, onde atende 1.200 crianças e jovens com a ajuda de 130 funcionários — 95 são mulheres. “Com força e persistência, podemos tudo”, ensina.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus