À frente do programa mais popular da Record Rio, o 'Balanço Geral', Wagner Montes concedeu à coluna uma entrevista durante um intervalo do trabalho que exerce como deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. No bate-papo, o hilário e bem-humorado apresentador, que imortalizou o bordão "escraaacha!", conta que já pegou mais mulher que Renato Gaúcho e diz que não teria problema se um de seus filhos fosse gay. "Não vou deixar de amá-lo por isso. Eu sou ligado à masculinidade, não sou ligado ao machismo", afirma ele, que é pai de Wagner Montes Filho, de 26 anos, e Diego Montez, de 22. Wagner falou, também, de seu carinho por Silvio Santos e das inúmeras profissões que teve antes de se tornar um dos nomes mais conhecidos do jornalismo policial na TV.
Como você consegue ter tanta popularidade falando sobre polícia e sobre crimes em seu programa de televisão?
Eu falo de polícia e de crimes, mas eu dou a minha opinião. Geralmente, a minha opinião bate com a do público do Rio de Janeiro.
A sua origem é humilde, né? Você acha que isso te favorece?
Ah, eu acho, sim. Acho que favorece bastante. Quando eu falo do metrô, eu sei do que estou falando. Na minha época nem existia, mas eu cansei de pegar trem, ônibus lotado na Baixada Fluminense... Eu sei muito bem o que o povo passa.
Você teve muitos outros trabalhos antes de entrar para a televisão, né?
Eu vendia revistas da semana anterior pela metade do preço ali em frente ao Copacabana Palace. Vendia 'Fatos & Fotos', 'Amiga', 'Sétimo Céu', 'Manchete'... A gente colocava dois caixotes e uma tábua e vendia as revistas do outro lado da rua, porque na porta do hotel a polícia não deixava vender.
E que outros trabalhos você teve?
Trabalhei como cominho, que é o auxiliar de garçom, na boate Zoom, em Copacabana. Limpava cinzeiros, trocava o balde de gelo e depois virei garçom. Nas segundas, eu cobria a folga do discotecário, que hoje é o DJ. Eram dois pratos de long play, não tinha mixagem nem nada. Eu só rodava o botão pra passar de uma música pra outra. Era sessão de música lenta e sessão de música rápida.
Você também trabalhou como vendedor e açougueiro, né?
Trabalhei no açougue Rainha do Sul, com o seu Astério e o seu Aristides, em Copacabana. Depois, eu vendi camisas Caravelle, em Nova Iguaçu. Eu pegava duas malas com dez caixas de camisa cada uma. Ia da Praça Mauá até a Saara e saía vendendo para as lojas.
É verdade que você pensou em ser policial?
Sim. Eu cheguei a fazer concurso para a Polícia Federal.
Você usa arma?
Só se o porte estiver legal.
Hoje você está armado?
Não, porque o porte de arma venceu.
E você anda com o vidro do carro aberto?
Ando. E com a mão pra fora. Mas agora não tô mais fazendo isso porque estou sem arma. Normalmente, eu saio assim no carro aos sábados e domingos, com anel, braço com relógio pro lado de fora... Aliás, é uma dica que eu tô dando aqui, hein! Mas eu vou renovar esses dias o porte, então, atenção, hein!
Mas alguém teria coragem de te assaltar?
Não sou mais homem que ninguém, mas não levo nem nunca levei desaforo pra casa.
Você foi boa pinta quando era mais novo...
Já fui flor do campo, hoje sou tiririca do brejo (risos).
Mas você já pegou muita mulher... Quem é o campeão? Você, Fábio Jr., Romário, Renato Gaúcho ou Roberto Carlos?
Acredito que fica entre mim e o Renato Gaúcho. Mas a desculpa é que tenho mais idade que o Romário.
E quem ganha?
Acho que eu ganho. Comecei cedo nessa vida de namoradas, de sair.
Você vê seu filho na TV?
Vejo. Fiz bem, né? O Diego é ator, está em 'Rebelde' e é muito bonito. O Wagner Júnior, que é subsecretário de Trabalho do Estado, também é muito bonito. A mãe (Sonia Lima) também é linda. Eu acho que colaborei bem.
Como seria se você tivesse um filho gay?
Ué, qual é o problema?!? Não vou deixar de amá-lo por isso. O que eu digo desde quando eles são pequenos é que não me escondam nada, porque eu quero ser amigo dos dois.
Mas você sempre foi muito ligado à masculinidade...
Eu sou ligado à masculinidade, não sou ligado ao machismo. Acho machismo um erro, um absurdo. O homem quando casa não é dono da mulher. Esse país é hipócrita: o homem que sai com duas é garanhão, a mulher que sai com dois não presta. Alguns homens, quando casam, querem manter a mulher como se fosse um patrimônio. Sou contra! Vou fazer 25 anos de casado e nunca mexi na bolsa da minha mulher, nunca mexi nos contatos. O telefone dela toca e eu nem atendo, a ligação é pra ela.
O acidente que você sofreu em 1981, quando perdeu uma perna, foi um baque na sua vida, né?
Não me emociono por causa do acidente, nunca perguntei a Deus por que aquilo foi acontecer comigo. Minha cirurgia durou 10 horas e quando recobrei os sentidos, tinha um psiquiatra, um psicólogo, eu perguntei: "Vocês estão aqui só pra dizer que eu perdi a perna?". Meu pai ficou impressionado com a minha força, mas essa força vem dele, que sempre foi muito forte física e espiritualmente.
O Silvio Santos teve uma participação importante nesse episódio?
Muito. Em meados de 1981, com o programa 'O Povo na TV', eu ficava uma semana no Rio e outra em São Paulo. Eu vim para o Rio pra cobrir o caso Doca Street. O acidente aconteceu no dia 5 de novembro. Quando o Silvio soube, ligou para o hospital e se identificou. A atendente disse pra ele: "Tá bom, eu sou a Hebe Camargo" e bateu o telefone (risos).
E depois?
Ele conseguiu falar com meu pai, disse que não podia me dar uma perna de carne e osso, mas que eu teria a perna mais moderna do mundo. Ele pagou a minha primeira perna mecânica. Independentemente do valor, o que me emociona foi a atitude dele. Silvio é tudo de bom ponto com.
Ele te chamou pra trabalhar com ele?
Há um tempo houve um papo meu com o Guilherme Stoliar, que era presidente do SBT, mas foi só uma conversa mesmo. Estou há nove anos na Record, sou feliz da vida lá.
Você não tem vontade de apresentar um programa em rede nacional?
Já fiz jornal policial, almoço das estrelas, apresentei show de calouros e outras coisas. Estou muito bem no Rio de Janeiro, mas tenho, sim, o sonho de fazer um programa nacional como o 'Perdidos na Noite' que o Faustão fazia. Mas seria só um por semana. Faria com muito prazer.
Com aquela irreverência que o Faustão tinha, né?
Com a irreverência que eu tenho. Mas não tenho loucura por querer sair do local para o nacional. Tenho 33 anos de televisão, é uma vida
.Postado Por:Daniel Filho de Jesus