Derrotado em 2007, Peter Siemsen foi eleito nesta segunda-feira novo presidente do Fluminense, ao vencer o secretário estadual Julio Bueno. Após seis anos sob gestão do cardiologista Roberto Horcades, o novo presidente — um advogado de 43 anos — tomará posse no dia 15 de dezembro (para o triênio 2011-2013), talvez com um título brasileiro ‘no colo’. O presidente eleito tem como principais metas sanear a dívida do clube — estimada em mais de R$ 320 milhões —, fortalecer o time, através de uma relação ainda maior com a patrocinadora (o presidente da Unimed, Celso Barros, apoiou Peter) e dobrar a renda tricolor, além de ampliar o quadro de sócios.
Depois de passar o dia no clube, de terno e gravata, cumprimentado eleitores, Peter reapareceu, às 21h, de calça jeans e com a camisa tricolor, para delírio dos sócios que cantavam “olê, olê, Peter, Peter”. Encabeçando a chapa “Novo Fluminense”, o novo presidente é o primeiro a vencer as eleições como candidato da oposição desde 1996. E prometeu arregaçar as mangas após a posse.
A primeira medida que vou tomar será organizar uma auditoria. Ela será o marco zero da minha gestão. Quero ter a noção de como está o clube financeiramente, qual o tamanho da dívida e em quais setores do clube ela está”, prometeu Siemsen, acrescentando: “Sei que não terei problemas com o futebol do clube, pois temos um bom time e um patrocinador muito forte. O que me preocupa no Fluminense é a administração. Na minha opinião, esse será o grande problema (quitar as dívidas)”, frisou.
Para Celso Barros, a mudança será positiva. “O Fluminense estava precisando de uma nova gestão e se estruturar novamente. O Muricy mesmo sempre pede um CT”, disse o presidente da Unimed, que deu um abraço emocionado no novo presidente bem antes do anúncio oficial. A expectativa de eleição tensa, com troca de acusações dos dois lados, não se confirmou (a presença de um procurador de Justiça do Ministério Público foi suficiente para fiscalizar o pleito).
Embora adotasse o jargão político “eleição e mineração só depois da apuração”, o secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Julio Bueno, admitiu a derrota no início da noite, quando Peter já tinha quase o triplo de votos na pesquisa de boca de urna. Antes do fim da apuração, por volta de 20h, Julio foi embora sorrateiramente.
LEIA ENTREVISTA DE PETER AO BLOG
Apesar dos bons resultados em campo, a gestão do Fluminense não é unânime. O candidato da oposição à presidência Peter Siemsen aponta falta de transparência e uma grande ‘bagunça’ no clube, o que contribuiu para o aumento da dívida.
Em sua visão, o episódio marcado pelas críticas de Fred ao então médico Michael Simoni é prova disso. Siemsen, que é advogado e dono de um dos maiores escritórios de advocacia do Rio de Janeiro, defende uma auditoria para traçar o perfil da dívida do clube e sanar os problemas mais graves.
Por outro lado, Siemsen não vê apenas pontos ruins na atual gestão. O candidato defende a manutenção da parceria com a Unimed que, segundo ele, trouxe ‘ótimos resultados’. Em entrevista ao BLOG, o ex-vice-presidente jurídico do Fluminense fala sobre as propostas de reformas na sede do clube, o aumento do número de sócios e promete um novo CT.
BLOG: Concorda com a renovação de patrocínio da Unimed? O que acha do modelo de patrocínio? Pretende mudar algum ponto do contrato ou mantê-lo da forma como está?
Peter Siemsen: A relação do Fluminense com a Unimed tem dado ótimos resultados para o clube pelos investimentos elevados. Por isso, é incompreensível a polêmica que gira em torno do assunto, com histórias do tipo “passar a operar o patrocínio por dentro” e outras bobagens. É preciso aprimorar? Claro. O objetivo da minha gestão é ter uma relação sadia e moderna com os patrocinadores. De nossa parte, vamos não só estender o contrato, como também melhorar bastante a parceria. Já conversamos algumas vezes com o Celso Barros sobre isso. Passada a eleição, sentaremos com a empresa para estabelecer as regras da renovação. A intenção é que a Unimed foque somente no futebol profissional.
BLOG: A renovação do contrato de Darío Conca, que já reclamou da demora, é uma prioridade?
Peter Siemsen: Sem dúvida é uma prioridade, tanto para o Fluminense, quanto para a Unimed. Conca, além de ser o grande jogador do atual Campeonato Brasileiro, tem uma excelente imagem. É querido por crianças, mulheres, enfim, por todas as faixas etárias e perfis de tricolores, mas a sua visibilidade positiva quase não é explorada pelo atual departamento de marketing do Fluminense. Vamos mudar isso.
BLOG: Muricy Ramalho tinha contrato de um ano e renovou por mais dois. O clube pretende mantê-lo para um projeto vitorioso de longo prazo?
Peter Siemsen: Claro. Muricy Ramalho tem exatamente o perfil de profissional que tanto almejo para a minha gestão. É uma pessoa séria, honesta, transparente, trabalhadora. Felizmente, mesmo com o forte assédio da CBF, a Unimed conseguiu segurá-lo no Fluminense e o objetivo é que ele fique no clube por toda a minha gestão, até porque queremos sempre focar trabalhos de longo prazo.
BLOG: Recentemente, Fred criticou publicamente o então médico do clube Michael Simoni. Se eleito, permitirá comportamentos como o de Fred?
Peter Siemsen: O caso Fred só mostra como o clube é uma bagunça hoje, sem transparência, com um vácuo no poder e má definição de responsabilidades. Em uma estrutura séria e profissional, o problema poderia ter sido resolvido internamente, sem precisar todo esse desgaste. O papel de um atleta profissional nunca pode ser o de dirigente da instituição. Um diretor executivo forte pode ser um porta-voz, não deixando o departamento de futebol sem comando.
BLOG: Qual a sua visão sobre o centro de treinamento? O atual presidente Roberto Horcades disse que o sonho dele era retirar o futebol das Laranjeiras. Se eleito, também pensa levar o futebol para longe da sede? Pretende levar adiante o projeto da atual administração, de construir um CT na Zona Oeste?
Peter Siemsen: O CT é uma demanda antiga, inclusive do atual treinador, e vai ser encarada como prioridade. Estamos estruturando um modelo para construir o centro de treinamento do Fluminense. Temos uma estrutura para atletas profissionais muito aquém do que demanda o mercado. É emergencial atacar o problema. Estamos criando um projeto de fundo imobiliário, atrelando o investimento a um fundo de pensão. Nesse modelo, o fundo de pensão fica proprietário das cotas do fundo imobiliário, que é proprietário do terreno e da construção a ser feita. A ideia é captar cerca de R$ 20 milhões, usando também projetos incentivados, adquirir um terreno de 50 mil metros quadrados e iniciar a construção. Já estamos analisando três terrenos, todos na zona oeste, para avaliar qual a alternativa mais viável, considerando também o deslocamento dos atletas e da comissão técnica.
BLOG: Quais são os seus projetos para os esportes olímpicos? Pretende investir maciçamente no futebol ou reservará verba para outros esportes?
Peter Siemsen: Há a lei de incentivo ao esporte que é extraordinária. O Fluminense precisa criar seus próprios projetos e ter foco na formação dos atletas. O clube já tem escolinhas boas, mas está faltando capacidade de obter receitas para equipes olímpicas. Isso tem que ser trabalhado com projeto incentivado, que precisa de certidão e captação de recursos. Nada impede que a própria Unimed se interesse em investir em determinados atletas ou equipes de outros esportes. Já tive conversas com Celso Barros. Estou trabalhando em projetos para trazer atletas de ponta para o clube, como fizemos recentemente com o Flávio Canto. Queremos ter ao menos um time forte no basquete masculino para disputar o próximo NBB e já viabilizamos um patrocínio. O objetivo é ter o máximo possível de atletas tricolores já disputando as Olimpíadas de Londres em 2012.
BLOG: Como pagar as dívidas do Fluminense, atualmente uma das mais altas entre os clubes da divisão de elite?
Peter Siemsen: Se houvesse transparência e austeridade, não teríamos a maior dívida do país. Deve haver uma mudança profunda. A gestão Roberto Horcades transformou a dívida em velocidade estratosférica porque fez acordos e não cumpriu. A raiz do problema está na decisão de nunca pagar ou pagar sob pressão. Precisamos interromper o costume de empurrar as dívidas com a barriga e para baixo do tapete. Vamos fazer uma auditoria para descobrir o verdadeiro valor e perfil da dívida. No balanço do ano passado, a dívida chegou a R$ 320 milhões. Como vai fechar esse ano? Será que não há outras dívidas? Elas não serão liquidadas em três ou seis anos, mas equacionadas com um planejamento. A dívida fiscal está locada no Timemania, mas o clube precisa ajudar a liderar algo além dela. Pagar Fundo de Garantia, INSS, repassar o Imposto de Renda retido na fonte à União. É possível ter controle sobre as despesas. Para isso, vamos trabalhar com o aumento de receitas no marketing, que hoje tem um nível baixo.
BLOG: Como fazer para fortalecer e internacionalizar a marca Fluminense?
Peter Siemsen: Quando vou ao mercado e discuto o valor do Fluminense, vejo o quão pouco estamos ganhando. Por que historicamente recebemos um valor tão pequeno do fornecedor de material esportivo? Muito porque o clube sempre negocia com pires na mão. O valor de mercado do Fluminense é imenso. Vamos revolucionar por meio de ações conjuntas de marketing. Alguns clubes brasileiros sabem explorar muito bem os seus ídolos. Nós temos Conca, Fred, e não conseguimos nada. Buscaremos a internacionalização do Fluminense, ainda mais sabendo que disputaremos a próxima Libertadores. Com o resultado esportivo aliado à parceria comercial, ao nível dos atletas que o clube hoje dispõe, além dos que ele pode produzir na base, temos todas as condições de levá-lo a um patamar de receita muito maior do que o atual.
BLOG: Como aumentar o quadro de sócios? Quais os tipos de melhorias fará para atrair mais associados? Quais melhorias pretende fazer na parte social do Fluminense?
Peter Siemsen: Com um departamento de marketing forte, podemos aumentar a arrecadação do Fluminense e trazer mais tricolores para o clube. Sem apoio institucional, a campanha de apelo à Cidadania Tricolor conseguiu mais de mil novos sócios. Hoje existe a necessidade do Fluminense se reciclar, tornando-se novamente uma referência de lazer para a sociedade carioca, com a criação de um Centro Cultural de Lazer. Devemos melhorar o sistema na entrada do clube, com a reforma dos acessos, com uma ampla e necessária revisão nas instalações dos vestiários, piscinas, parquinho e dos restaurantes, além da criação de novas opções de lazer. O Museu do Fluminense é uma vontade enorme que tenho. Mas resgate da história dá-se também através da construção de restaurante temático, sala multimídia com cinema, acesso à Internet... Precisamos criar um centro de entretenimento do tricolor, um local para venda de camisas, para conhecer ídolos do passado e assistir aos jogos do Flu.
BLOG: É notório que dirigentes têm um tipo questionável de relação com as torcidas organizadas. Elas entram no clube com a concordância dos dirigentes, ameaçam jogadores... O que fazer para coibir este tipo de ação? A sua gestão financiará ingressos e viagens para as organizadas?
Peter Siemsen: Para coibir determinadas ações, especialmente dentro da sede, o principal é garantir que o uso do clube social seja para o associado. Hoje, com tanta falta de controle, não se vê muito isso. Em nossa gestão, teremos um canal exclusivo de relacionamento com as torcidas organizadas. Tive reuniões com representantes de todas elas, passei meus projetos e as ideias foram bem aceitas. Quanto aos ingressos, o clube não pode ter prejuízo. Pretendemos ter um diretor que tenha diálogo com as torcidas e cadastre cada integrante. Queremos criar uma agência para facilitar as viagens não só das torcidas organizadas, como também de todos os torcedores.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus