Cerca de três meses depois, a PEC sequer foi enviada ao Congresso Nacional. E não há pressa para isto. Interlocutores de Temer dizem que a ideia é usar a medida para também determinar autonomia técnica para o Banco Central. Mas, com a agenda legislativa cheia, o envio da PEC ainda pode demorar para além do julgamento final do impeachment. Quando chegar, terá de passar pelo crivo de três quintos dos senadores e deputados, em dois turnos.
O anúncio de que a AGU e o Banco Central deixariam de ser ministérios foi uma manobra para inaugurar o governo interino mostrando um número mais enxuto de pastas, passando a imagem de austeridade na máquina pública. No entanto, além de mantê-los, Temer ainda devolveu o status de ministério ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e recriou o Ministério da Cultura, depois de sofrer pressões por tê-lo extinto. No final das contas, após idas e vindas, o saldo foi uma redução bem menor que o previsto e mais espaço para acomodar aliados do amplo espectro de partidos que decidiu apoiar o impeachment de Dilma.
A recriação do Ministério do Desenvolvimento Agrário ocorre para atender um dos partidos da base de Temer, o Solidariedade. Desde maio, o governo anunciou que a pasta seria recriada e comandada pelo Solidariedade que, entre outros serviços, teve seu presidente, Paulinho da Força, escalado para negociar a desocupação da fazenda que pertence a um empresário ligado a Temer. Ao lado dos sucessivos reajustes salariais concedidos a servidores públicos nesses dois meses de governo interino, o número de ministérios é mais um sinal de que a prometida austeridade com as contas públicas não saiu do papel. O governo contesta.
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