Quando o vendedor Luiz Miguel, 27 anos, parou de fumar, passou a se sentir bem mais disposto e a perceber com mais facilidade o mau cheiro dos fumantes. Ele, que até o começo deste ano fazia parte dos cerca de 25 milhões de brasileiros usuários de cigarro — 14% da população —, serve de exemplo para aqueles que, aproveitando o Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado amanhã, querem deixar o vício para trás. Luiz Miguel faz parte dos 3% de ex-fumantes que conseguem, anualmente, parar por conta própria. O mais indicado por especialistas, porém, é procurar auxílio médico a fim de reduzir a abstinência e aumentar as chances de recuperação. Além disso, recomendam-se mudanças de hábitos. É indicado evitar, por exemplo, frequentar lugares ou consumir outros produtos que deem vontade de ter o cigarro como acompanhamento. Miguel sabe bem como é isso. “Eu tive que parar com o café e com a cerveja, porque sempre tinha vontade de acender um cigarro quando bebia”, comenta.
De acordo com o cardiologista Marcel Coloma, responsável pela clínica PararFumar, a principal doença causada pelo cigarro é o câncer de pulmão. Dos casos, 90% são causados pela droga, que também pode provocar os cânceres de boca, laringe, estômago, bexiga, entre outros. “Toda a região percorrida pela fumaça está em risco”, alerta.
A Aliança de Controle do Tabagismo e Saúde (ACT) e a Fundação do Câncer lançaram, semana passada, um vídeo nas mídias sociais para divulgar uma petição online que pede a adoção de embalagens padronizadas para cigarros. Com isso, alegam, a atratividade dos produtos diminuiria, o que poderia resultar numa menor adesão por parte dos jovens. A petição está no site change.org.
No vídeo, a médica epidemiologista Veronica Hughes, 56 anos, fala sobre como os maços dos primeiros cigarros que fumou, ainda jovem, eram atraentes. Filha do escritor uruguaio Eduardo Galeano, morto ano passado por câncer de pulmão, ela relembra outras mortes que impactaram sua vida recentemente pela mesma doença: a do jogador Johan Cruijff e a de um de seus escritores preferidos, Henning Mankell.
“Achávamos que estávamos fora de perigo, porque o câncer demora pra matar”, desabafa Veronica, ela mesma vítima do câncer, há 12 anos. Sua mãe também morreu com a doença. “Padronizar ajuda a diminuir a propaganda tira a atração do produto”, opina o especialista Marcel Coloma.
Doença pulmonar pode matar mais até 2020, diz OMC
São muitas as doenças provocadas pelo cigarro. Como afirma o cardiologista Marcel Coloma, as principais vilãs são as cardiovasculares, as pulmonares e os cânceres. Entre as pulmonares, além de problemas como asma e bronquite, uma doença tem despertado a atenção de especialistas. É a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), que em 2020 deve ser a terceira principal causa de mortes no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nos últimos dez anos, ela foi a quinta maior causa de internações no Sistema Único de Saúde (SUS).
A DPOC dificulta progressivamente o fluxo de ar para os pulmões. Causada pela inspiração de partículas nocivas encontradas em fumaças, especialmente a do cigarro. De acordo com o pneumologista José Jardim, professor de Medicina da Unifesp, em 70% e 80% dos casos o cigarro aparece como algoz. Mesmo incurável, é possível viver com a DPOC. Para isso, o indivíduo precisa parar de fumar, tomar remédios e adotar medidas que melhorem o estilo de vida.
Vontade de parar é o mais importante
Para a psicóloga da área de Prevenção e Promoção da Saúde da Fundação do Câncer, Cristina Perez, o importante é a vontade e a crença de que viver sem cigarro é muito melhor e saudável. Ela recomenda que o fumante se planeje para o dia que ele vai parar de fumar e, por pelo menos, pelos próximos 15 dias. “É importante que no dia em que for parar, ele não tenha cigarro em casa, nem isqueiros, nenhum cinzeiro sujo. E que peça às pessoas com quem convive para que não fumem na presença dele pelo menos no primeiro mês”, aponta.
Segundo Cristina, em apenas 20 minutos após a parada, a pressão arterial volta ao normal; em 24 horas, a capacidade respiratória melhora e a continuidade da abstenção do fumo reduz o risco de morte. “As recaídas fazem parte do processo para chegar ao sucesso: o importante é continuar tentando”.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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