
O presidente da CPI do BNDES, Marcos Rotta (PMDB-AM), fez um trabalho minucioso na comissão que investiga o banco estatal. Levantou os contratos sigilosos do BNDES com grandes companhias e países da América Latina e da África. Quebrou o sigilo de pessoas ligadas ao governo e de empresas que receberam recursos do BNDES. A CPI, porém, acabou terminando antes de aprofundar as investigações, segundo a avaliação de seus próprios membros. Apesar disso, Rotta acredita que os trabalhos apontam para uma conclusão assustadora: “O BNDES sofre tráfico de influência”. De acordo com o parlamentar, os empréstimos concedidos pelo banco para Angola, Cuba e Venezuela tiveram pouca transparência e um critério de seleção questionável. “A questão do tráfico de influência é uma coisa latente e visível”, diz Rotta. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
Época: Qual a principal conclusão da CPI do BNDES?
Marcos Rotta: Nós não conseguimos detectar no BNDES desvios de recursos, como é o caso da Petrobras, que é patente. O que a gente identificou é que o BNDES sofre tráfico de influência. E isso é muito claro. O BNDES esconde os critérios para financiar obras em países como Angola, Cuba e Venezuela -- e não deixa transparecer a motivação desses créditos. Enquanto isso, o Brasil enfrente problemas de portos, de metrô e de infraestrutura. É uma situação extremamente complicada, porque você não sabe quais foram os critérios utilizados pelo banco para liberar crédito para a exportação. O BNDES é um banco nacional de desenvolvimento. Não é um banco internacional. Como se chegaram a essa decisão política de fazer o porto de Mariel? Como se chegou ao ponto de financiar o metrô da Venezuela? Por que Angola recebeu tantos bilhões de dólares? Isso também não sabemos. Por exemplo: na minha cidade, Manaus, há problemas terríveis de mobilidade urbana. Não temos metrô e nem monotrilho. Essa falta de critério nos leva a acreditar que as empresas e os financiamentos são motivados por escolhas políticas. Isso também é evidente nos chamados campeões nacionais, empresas como a JBS que receberam uma enxurrada de dinheiro do BNDES. Algumas deram lucros. Mas outras deram prejuízos terríveis. A questão do tráfico de influência é uma coisa latente e visível. O BNDES precisa equacionar essa questão. Esses grandes financiamentos, principalmente os internacionais, tinham que passar pelo crivo do Congresso, para que possamos fiscalizar e ver um novo grau de transparência nas operações do banco.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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