No mesmo depoimento em que o senador Aécio Neves (PSDB-MG) foi mencionado por suposto recebimento de R$ 300 mil a mando do doleiro Alberto Youssef – o senador nega –, o delator Carlos Alexandre de Souza Rocha, o "Ceará", citou supostos valores repassados ao senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) – veja ao final desta reportagem a explicação dada por cada um dos citados no depoimento.
O depoimento, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), foi dado em julho. Nele, Rocha disse que fazia para Youssef serviço de entrega de dinheiro para políticos. Mais cedo, o G1 confirmou o teor do depoimento do delator, revelado em reportagem do jornal "Folha de S.Paulo".
O delator também informou que, entre 2009 e 2014, ouviu Alberto Youssef dizer que iria disponibilizar R$ 2 milhões para Renan Calheiros a fim de evitar a instalação de uma CPI para investigar a Petrobras. Ele não informou, no entanto, se o repasse de fato ocorreu. A assessoria de imprensa de Renan negou as acusações.
Em relação ao senador Randolfe Rodrigues, Rocha disse que Youssef afirmou, em referência ao senador socialista: “Para esse aí já foram pagos R$ 200 mil”. Ele disse ter questionado o doleiro se ele tinha certeza, e Yousseff teria respondido ter certeza “absoluta”. Rocha, porém, disse não saber se o valor foi efetivamente pago e nem como, Randolfe classificou a citação como “descabida”.
Trecho de depoimento em que delator menciona o senador Renan Calheiros (PMDB-AL)
Propina no PPAo tratar do pagamento de propina a deputados do PP, Rocha afirmou que Yousseff usava a expressão "mensalão do PP" e dizia que os valores eram repassados para manter o partido na base do governo. No depoimento, ele cita pagamentos ao deputado Nelson Meurer (PP-PR) e ao ex-ministro Mário Negromonte.
Rocha disse que Youssef comentava que, entre os políticos, Negromonte era "o mais achacador" e que teria perdido o cargo de ministro das Cidades, em 2012, "porque não estava 'fazendo caixa' para o Partido Progressista [PP], uma vez que estaria 'roubando apenas para ele próprio'". Segundo Rocha, Youssef disse ter repassado R$ 5 milhões a Mário Negromonte na campanha de 2010.
Trecho do depoimento em que o delator cita o senador Aécio Neves (PSDB-MG)
Ele declarou, ainda, que, em 2010, fez "umas quatro" entregas de
dinheiro em espécie, no valor de R$ 300 mil, em um apartamento funcional
na quadra 311 Sul, em Brasília, mas que não sabia quem era o morador.
Nas vezes em que esteve lá, estavam presentes os ex-deputados João
Pizzolatti, Mário Negromonte, Pedro Corrêa e outros parlamentares que
disse não ter reconhecido.Dinheiro em meias e calças
Rocha relatou que o dinheiro era transportado no corpo, escondido em meias de futebol e calças mais folgadas. Ao chegar ao apartamento, "ia ao banheiro para retirar o dinheiro das pernas, que estava embalado em filmes plásticos, e retornava com uma sacola de dinheiro e apresentava a todos que estavam à espera, na sala do apartamento".
Trecho de depoimento em que o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP)
No trecho em que relata pagamentos ao deputado Nelson Meurer, Rocha
disse que entregou duas vezes, em um hotel em Curitiba, dinheiro
destinado ao parlamentar. Segundo ele, uma entrega foi no valor de R$
300 mil e a outra, entre R$ 150 mil e R$ 300 mil. Youssef dizia, segundo
Rocha, que Meurer era um dos líderes do PP que recebia a "mesada
gorda".De acordo com o relato de Rocha, quem recebeu o dinheiro foi o filho do parlamentar – o delator disse, no entanto, que não se recorda do nome dele. Ao ver fotos de Nelson Meurer Junior, o delator não o reconheceu como sendo a pessoa para quem entregava o dinheiro, mas disse que não descarta essa possibilidade.
Rocha contou, ainda, que viu o deputado no escritório de Youssef em São Paulo, mas não recebendo dinheiro. No entanto, afirmou que "ninguém ia ao escritório de Alberto Youssef para rezar".
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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