O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reagiu nesta quinta-feira à acusação do delator Júlio Camargo. Segundo o consultor, Cunha o pressionou para que o deputado recebesse um pagamento de US$ 10 milhões em propina em troca da continuidade de um contrato de navios-sonda da Petrobras. Cunha atacou o Executivo e, objetivamente, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a quem acusa de “obrigar” Camargo a mentir em seu depoimento.
– O delator foi obrigado a mentir e acho muito estranho ser na véspera do meu pronunciamento e na semana em que a parte do Poder Executivo envolvida no cumprimento dos mandatos judiciais tenha agido com aquela fanfarronice toda. Há um objetivo claro de constranger o Legislativo e que pode ter o Executivo por trás em uma articulação do procurador-geral da República – afirmou Cunha, logo após reunião com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
A Procuradoria-Geral da República, por sua vez, diz que o depoimento prestado por Júlio Camargo à Justiça Federal do Paraná "não tem qualquer relação com as investigações (inquéritos) em trâmite no âmbito do Supremo Tribunal Federal".
"A audiência referente à ação penal da primeira instância - que tem réu preso, ou seja, tem prioridade de julgamento - foi marcada pelo juiz federal Sergio Moro há semanas (em 19 de junho), a pedido da defesa de Fernando Soares, e a PGR não tem qualquer ingerência sobre a pauta de audiências do Poder Judiciário, tampouco sobre o teor dos depoimentos prestados perante o juiz", diz a Procuradoria, em nota.
Visivelmente abalado, Cunha leu a nota que havia divulgado minutos antes para se defender das novas revelações feitas por Júlio Camargo à Justiça Federal. O deputado disse que seus advogados tomarão providências a respeito do caso e creditou o fato a uma suposta tentativa de constrangimento por parte do Executivo devido às discussões na Câmara sobre pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. – No momento em que tem um aprofundamento da discussão sobre eventual decisão de pedido de impeachment, de repente quererem constranger o Poder Legislativo? Eu acho isso um absurdo e não vou aceitar ser constrangido – disse Cunha.
O presidente da Câmara afirmou se tratar de uma “ilação” e um “fato falso” e defendeu que a delação de Júlio Camargo deve ser considerada “nula”, pois ele teria apresentado versões contraditórias em seus depoimentos e também porque deveria ter sido enviada ao Supremo Tribunal Federal (STF), já que Cunha, citado no caso, tem foro privilegiado.
O peemedebista disse ainda que irá manter seu pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, marcado para a noite desta sexta-feira, em que irá fazer um balanço de seus primeiros seis meses de gestão no comando da Câmara. O deputado disse que não irá alterar o conteúdo do que já foi gravado diante dos fatos novos.
– Não vou regravar nada. Não estou me pronunciando para fazer defesa de fatos pessoais, mas uma prestação de contas do trabalho na Câmara – disse.
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