A primeira tentativa de transplantar uma cabeça humana será anunciada em junho deste ano em uma conferência de cirurgiões nos Estados Unidos. A tentativa será uma estratégia para unir e instigar profissionais que possam se interessar pelo trabalho. Segundo o cirurgião idealizador do procedimento, ainda é preciso superar alguns obstáculos, mas a cirurgia deve acontecer em 2017. É previsto que ao acordar, as pessoas sejam capazes de se mover, sentir a face e falar com a mesma voz de antes. De acordo com o News Scientist, muitos já se prontificaram a participar do transplante.
A ideia da cirurgia foi proposta pela primeira vez em 2013 pelo médico Sergio Canavero, que faz parte de um grupo de estudos avançados em neurologia da Universidade de Turim, na Itália. Segundo Canavero, o procedimento foi pensando para prolongar a vida de pessoas que sofrem de problemas degenerativos nos músculos e nervos ou aqueles cujos órgãos sofreram com câncer.
O médico afirma que os maiores
obstáculos para o sucesso da cirurgia concentram-se na fusão da medula
espinhal com a cabeça transplantada e na prevenção do sistema
imunológico do corpo para não rejeitar a nova cabeça.
O projeto cirúrgico vai ser apresentado na conferência
anual da Academia Americana de Cirurgiões Neurológicos e Ortopédicos
(AANOS, em inglês), em Annapolis, Maryland, em junho. O artigo do News
Scientist questiona se a sociedade e até mesmo a comunidade médica estão
prontos para tamanho avanço.
A cirurgia
Neste mês, o cirurgião publicou um material com técnicas diferenciadas que ele acredita que irão permitir a realização do transplante. As técnicas envolvem o resfriamento das partes do transplante para estender o tempo que as células do corpo podem sobreviver sem oxigênio. Antes da medula espinhal de cada pessoa ser cortada, o tecido que envolve o pescoço é dissecado e a maior parte dos vasos sanguíneos são conectados através de pequenos tubos. Segundo o cirurgião, o corte das medulas é a chave para o procedimento.
A cirurgia conecta a medula da cabeça do doada ao novo corpo e sutura os músculos. O plano cirúrgico consiste em manter pessoa que recebeu a cabeça em coma induzido por três ou quatro semanas para evitar que ela se mova. Nesse tempo, eletrodos implantados no corpo irão estimular a medula — de acordo com uma pesquisa divulgada recentemente, esse estímulo pode fortalecer as novas conexões nervosas.
A respeito da possibilidade de rejeição do sistema imunológico ao transplante, o médico diz não pensar que seja um grande problema atualmente. Segundo ele, isso se deve ao uso de substâncias capazes de controlar a aceitação de grandes partes de tecido nervoso, assim como ocorre em transplantes de coração e fígado.
Testes em animais
O primeiro transplante de cabeça foi feito em um cachorro, em 1954, pelo cirurgião soviético Vladimir Demikhov. A cabeça e patas do animal foram transplantadas no corpo de outro cão de tamanho maior. O cirurgião fez diversas tentativas, mas os cães sobreviveram apenas de dois a seis dias.
Em 1970, a primeira cirurgia do tipo teve sucesso. Um grupo da escola de medicina da Universidade Case Western, em Cleaveland, Ohio, transplantou a cabeça de um macaco no corpo de outro. O animal viveu nove dias até seu sistema imunológico rejeitar o transplante. No entanto, nenhuma tentativa de unir a medula espinha foi feita, deixando o animal paralisado.
Algumas tentativas de transplantes de cabeça foram feitas desde então e os procedimentos cirúrgicos envolvidos no processo evoluíram. "Penso que estamos no ponto em que todos os aspectos técnicos são possíveis", declarou Canavero.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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