A desigualdade entre negros e brancos não se limita à maior taxa de incidência de homicídios para os primeiros, conforme a série Zumbi do Brasil, quinta-feira: quando se compara a média de rendimentos entre eles, que junta salário, aposentadoria e pensão, ela espanta. De acordo com pesquisa do Laeser (Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e das Relações Raciais, da UFRJ), com base em dados do IBGE apurados em outubro deste ano, homens brancos que moram na Região Metropolitana do Rio têm rendimento 85,3% maior que o dos negros e pardos. “Isso produz subdesenvolvimento e leva à desigualdade”, afirma o economista Marcelo Paixão, coordenador do Laeser e defensor de políticas que promovam a inclusão, inclusive através da educação de qualidade.
Os números não desmentem sua tese. Enquanto a renda média
mensal do negro é de R$ 1,8 mil, a do branco está em R$ 3,4 mil. Quando a
pesquisa aufere apenas salário, a diferença entre as raças, de ambos os
gêneros, é de 30%. Ou seja: a cor da pele motiva menor rendimento.
A diferença também demarca o
trabalho. Segundo o IBGE, o desemprego entre as mulheres brancas, na
Região Metropolitana, é de 2,5% — contra 4,3% para as negras, numa
diferença de 72%. Mulheres brancas tiveram renda média de R$ 2,5 mil e
as negras, de R$ 1,4 mil (56% a menos). Portanto, em outubro deste ano
os homens brancos tinham ganhos 32,7% a mais que as mulheres brancas e
144,8% em relação às negras e pardas.
“A taxa de desemprego das negras ainda é
costumeiramente mais que o dobro da dos homens brancos. Os indicadores
saltam aos olhos porque neles estão o maior percentual de desemprego, de
emprego informal, do emprego doméstico e da baixa remuneração”, aponta
Paixão.
Segundo o economista, no Brasil, a cada cinco mulheres negras no mercado de trabalho, uma atua como empregada doméstica. “São 20%. É um percentual interessante, porque é mais ou menos o mesmo percentual coletado no Censo de 1872, antes da Lei Áurea: 25% das escravas trabalhavam como domésticas.”
Democracia racial na PM
Se nas empresas privadas o negro não chega ao topo da hierarquia, como afirma Marcelo, na Polícia Militar a realidade é outra. Dados da própria instituição mostram que lá a cor da pele não atrapalha a ascensão profissional.
“Em 1930, apenas 42 anos após a Abolição, já havia negros estudando para ser oficiais”, orgulha-se o comandante-geral, coronel Ibis Pereira da Silva.
Para ele, a democracia racial da Polícia Militar é motivo de muito orgulho para a instituição. “Mesmo que algumas vezes a polícia seja acusada de racismo nas suas práticas, na maneira como muitas vezes ela atua na sociedade, somos uma corporação formada majoritariamente por negros e pobres”, garante o coronel, filho de negro e nordestino.
Segundo o comandante-geral interino,
que deve deixar o cargo em janeiro, a maioria dos praças é negra e parda
e não há qualquer discriminação de cor no quadro de oficiais. “Tivemos
pelo menos cinco comandantes-gerais negros, o maior posto da corporação,
nos últimos 30 anos . E todos eles são de origem pobre. Acho que esse é
o grande trunfo da PM”, ressaltou.
Corporação terá ainda mais oficiais negros em 2015
Estatística sobre a quantidade de negros e brancos na Polícia Militar, levando em conta apenas o número de declarações dos policiais sobre a cor da pele, mostra que, do iniciante tenente ao veterano coronel, o corpo de oficiais da instituição tem 63,3% de brancos e 36,7% de negros, pardos e morenos, de um total de 3.584 oficiais.
São 1.432 brancos e 831 negros, pardos e morenos. Os números, no entanto, não refletem a verdadeira face da PM, uma vez que 1.320 oficiais não declararam a cor da cútis — mais de 1/3.
Na Academia Dom João VI, onde jovens estudam para se tornar oficiais em três anos, o número de negros, pardos e morenos aumenta percentualmente: 42,6% (72 alunos distribuídos nas três séries de ensino). Do total de 197 cadetes, 97 são brancos (57,4%).
Mas, a exemplo do que ocorre no corpo de oficiais, 18 alunos não declararam a cor da pele — quase 10% do total.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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