Ídolo do Fluminense, o meio-campo argentino Darío Conca está de volta ao clube das Laranjeiras depois de três anos jogando na China. Ele voltou mais falante e ávido por disputar partidas contra adversários mais fortes. Durante o papo com a reportagem do Esporte Espetacular, o craque tricolor mostrou sua nova casa, revelou a felicidade com o seu filho que já dá os primeiros chutes, afirmou ainda sonhar em defender a seleção argentina na Copa do Mundo e contou as aventuras que viveu na China.
Entre as diferenças culturais que os brasileiros enfrentam no Oriente, a alimentação muitas vezes é um ponto de choque. Conca dá risadas ao lembrar o dia em que estava na concentração do Guangzhou Evergrande e descobriu que o prato principal do almoço era cobra.
- Eu pensei que era mentira. Aí eu falei: o quê? Ele (colega de time) me mostrou e estava coberto, não dava para ver muito. Meu colega falou: come aí. Eu disse que não e perguntei para o tradutor se era isso mesmo, aí ele me disse: come que é cobra, aqui é muito caro. Eu falei: o quê? (risos) Tá louco... – lembra o argentino.Quando o meio-campo chegou à China, o Guangzhou acabara de ser comprado pela empresa Evergrande, uma das maiores construtoras da China, que resolveu injetar dinheiro no clube. Mas a infra-estrutura do clube ainda não estava totalmente ajustada ao futebol profissional. Conca descobriu isso logo depois do primeiro treino, quando disseram a ele que precisava levar seu material de treino para lavar em casa.
- Cheguei lá no primeiro dia do treino e me deram uma caixa cheia de roupa. Pensei que era para a concentração, mas era para o treino. Quando acabou o treino fui devolver a roupa e me disseram que não. Eu perguntei para ele assim: onde toma banho? Não tinha vestiário! Onde tomo banho? E tenho que te devolver a roupa... Ele falou: não, não... Você toma banho em casa. Cada um tem que tomar banho em casa e tem que levar a roupa para lavar em casa... Tudo que você tem nessa caixa é o que a gente vai usar durante o ano. Então, você leva toda essa caixa para casa e lava lá – explicou o jogador.Depois, esse problema foi sanado, só que outra questão permaneceu um mistério para Conca. Sem falar uma palavra de mandarim ou cantonês, limitando-se a alguma poucas palavras, ele ficava sempre colado a seu tradutor e às vezes sofria dentro de campo tentando entender o que seus companheiros estavam dizendo.
- Eles ficavam falando, gritando um para o outro
se dando força. Chegavam, tentavam falar e eu não conseguia entender nada. É
estranho e muito diferente. Umas vezes o jogo parava e você não sabe por que,
falava com o capitão e não conseguia explicar – conta o craque.
Agora tudo isso ficou
para trás. De volta ao Brasil, Conca curte a felicidade do seu sucesso, a casa
espaçosa e o conforto que o suor de seu trabalho pôde proporcionar à sua
família.
- Meu pai é falecido há
dez anos, ele era mecânico. Minha infância foi difícil, somos quatro irmãos, a
casa era bem pequena. Tinha um quarto para seis pessoas. Meu pai dormia com
minha mãe. Na outra cama, eu dormia com meu irmão mais velho. Em cima dormiam
os outros dois irmãos. Era uma casa de madeira bem pequenininha. Era um
quarto e depois tinha uma cozinha. Hoje eu posso curtir um pouquinho da piscina
na casa, tenho churrasqueira também. Algumas vezes eu não consigo acreditar,
fecho os olhos e penso que tenho que agradecer muito a Deus. Na situação que eu
estava e hoje mudou tanto minha vida, sou agradecido por tudo - recorda ele. Uma das maiores alegrias
do argentino atende hoje pelo nome de Benjamim, seu filho com a brasileira
Paula. O pequeno já adora chutar uma bola e, quem sabe, pode ser mais um Conca
a brilhar nos gramados.
- O Benjamim nasceu em
2011 e é pé quente. Lá na China, a tradutora falava a mesma coisa. Ele trouxe
muita sorte e adora ficar jogando bola o dia todo, acorda e já me chama para
chutar, antes de dormir fica chutando mais um pouquinho também, já é viciado. A
professora fala que na escola só quer chutar bola e jogar futebol.
Hoje contra o Vasco, o
Fluminense briga por uma vaga na final do Campeonato Carioca. Será um jogos
disputado, e Conca revela que, além das belezas da cidade do Rio de Janeiro, a
disputa com adversários difíceis é uma coisa que sentiu falta quando estava na China.
- Lá senti muita falta de você saber que do
outro lado vai ter um time que vai te atacar, que vai ser difícil driblar um
jogador, tirar a bola de alguém. Lá na China, nosso time era bem superior ao
resto. Aqui é bem diferente. Eu sentia muita falta dessa pressão pelo
resultado, do Maracanã lotado. E também
da praia. Por Guanghzou ser uma cidade com muita poluição, é difícil você ver o
sol. Todo dia eu acordava para ver se eu podia ver o sol e era um pouco complicado.
Aqui algumas vezes a gente não dá valor, só que lá longe você começa a dar
valor a muitas coisas – ensina o argentino.
Conca já é um argentino
bastante carioca. Mais comunicativo, já fala português sem muitas dificuldades. E até poderia atuar pela seleção brasileira,
já que jogou apenas pelas categorias de base com a camisa argentina. Mesmo sem
nunca ter disputado uma partida com a camisa do time principal argentino, ele
ainda sonha com uma chance, quem sabe na Copa.
- Sou 51% argentino e 49% brasileiro (risos).
Fico triste por não ter defendido a seleção do meu país, eu esperava um dia ter
a oportunidade e não aconteceu, os treinadores devem ter suas razões. Acho que
qualquer jogador quer defender a seleção do seu país e comigo não é diferente.
Uma mínima chance eu esperava, mas não aconteceu. Ainda tenho esperança de
defender a Argentina na Copa, eu sei que é bem menor do que antes, mas eu não
posso perder a esperança.A mágoa por nunca ter
recebido uma chance não diminui a torcida pela Argentina e a admiração pelo
ídolo Lionel Messi.
- Messi é o melhor da
história. Eu falo para todo mundo, eu fico feliz de ter a oportunidade de ver o
Messi jogar em seu melhor momento. Eu não vi o Pelé, o Maradona eu vi, mas não
lembro do melhor momento dele. Então, de todos que eu vi, para mim, o Messi é o
melhor. Na Copa, a Argentina tem grande chance e, hoje, tendo o Messi, a chance
aumenta, sem dúvida – finaliza ele.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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