“Eu ficava feliz quando servia um companheiro. Não havia
coisa melhor quando Reinaldo comemorava um gol com aquele gesto
(estático e braço direito erguido), quando Serginho vibrava, ou Baltazar
agradecia a Deus quando marcava. Ficava orgulhoso de participar daquele
momento”, diz Paulo Isidoro, com a humildade que sempre lhe foi
peculiar.
Humildade e simplicidade que ele tenta repassar
hoje aos alunos de sua escolinha de futebol, no Bairro Nova Pampulha,
em Belo Horizonte.“Depois de muitas jornadas pelos gramados, resolvi montar o Centro de Formação Paulo Isidoro, onde procuro passar aquilo que aprendi na vida e no futebol”, revela o professor, que ensina os segredos da bola para 120 alunos, com idade entre 5 e 16 anos.
“Procuro passar o que é a vida do futebol. Oriento, ensino. Adoro fazer isso. Quem me dera tivesse condição de aumentar o CT e abrir as portas para mais gente”, diz.Experiência para ensinar não lhe falta. Os 19 anos de carreira foram coroados com a conquista do Brasileiro de 81, pelo Grêmio; do Paulista, pelo Santos, em 84; e de cinco Mineiros pelo Galo, onde se tornou ídolo. Foram 399 jogos e 98 gols com a camisa alvinegra. Curiosamente, Paulo Isidoro encerrou a carreira no arquirrival Cruzeiro, aos 39 anos - clube em que o filho Fabrício, de 21 anos, tenta seguir seus passos no futebol.
Apesar de orgulhoso com o momento do futebol mineiro
(campeão brasileiro e da Libertadores), Paulo Isidoro demonstra
pessimismo quando o assunto é o Mundial de Clubes, no Marrocos.
“Acho difícil o Atlético ganhar. Mas
como a torcida montou o slogan ‘Eu acredito’, eu também quero acreditar.
Mas sei que é uma missão difícil”, avisa, ciente de que o Bayern de
Munique, possível adversário na final, é o favorito.
Barbatana leva culpa por 77
Um dos maiores traumas de Paulo Isidoro foi ver, do banco de reservas, o Atlético-MG perder nos pênaltis o Brasileiro de 77 para o São Paulo, no Mineirão. Apesar de ser um dos melhores do time, ele foi sacado pelo técnico Barbatana, por ter lavado o carro na véspera da decisão.
“Como Reinaldo não ia jogar, o técnico ficou nervoso. Acho que ele ficou até sem acreditar em nosso time. Quando me viu limpando o carro se irritou e me sacou do time”, diz.
O jogo terminou 0 a 0 e o Atlético, invicto, perdeu o título nos pênaltis, por 3 a 2.
“Foi um dos maiores erros da vida dele. Custou a mim e à nação atleticana um título importantíssimo”, lamenta.
Copa de 1982 quase causou aposentadoria
Orgulhoso por ter feito parte da Seleção que encantou o mundo em 1982, Paulo Isidoro nunca entendeu o motivo de ter sido sacado por Telê Santana no início da Copa da Espanha. Titular nas Eliminatórias, ele entrou apenas no segundo tempo dos jogos contra União Soviética, Escócia e Itália, quando o Brasil foi eliminado ao perder por 3 a 2. Após o jogo, Paulo Isidoro pensou até em abandonar o futebol.
“Eu queria que o mundo desabasse. Tive vontade de parar de
jogar. Fui o último a sair por causa do exame antidoping e ainda ouvi a
festa dos italianos”, relembrou.
A ferida foi tão grande que ele recusou proposta de jogar na Udinese:“Fiquei revoltado e com raiva dos italianos. Depois ouvi o Zico dizer que se eu tivesse jogado desde o início, a história poderia ter sido outra.”
Ele tinha apelido de passarinho, "Tiziu", e futebol de gente grande. Graças às passadas largas, velocidade e dribles curtos, o ex-ponta-de-lança Paulo Isidoro é considerado um dos melhores garçons do futebol brasileiro. Foi assim no Atlético-MG, onde fazia tabelas fenomenais com Reinaldo. No Grêmio, clube no qual fez dupla de sucesso com Baltazar. No Santos, onde cansou de deixar Serginho Chulapa na cara do gol. Praticante do futebol solidário, Paulo Isidoro tinha prazer em servir.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
Nenhum comentário:
Postar um comentário