Quando o trio Sombrinha, Arlindo Cruz e Luiz Carlos da Vila escreveu os versos de “O show tem que continuar”, há 25 anos, não imaginou que eles cairiam como uma folha seca na vida de Beth Carvalho. Aos 67 anos, mais magra e sorridente, a sambista volta hoje aos palcos, no Vivo Rio, depois de passar 11 meses internada com um problema de artrose para seguir com “Nosso samba tá na rua”. Ainda sentindo dores e locomovendo-se com auxílio de andador, ela manda um recado: “para o hospital não volto!”.
Blog: Ansiosa ?
Beth Carvalho: Sim. É minha volta, né?
E o que esperar desse show?
Vou apresentar oito músicas do novo disco, com grandes sucessos, e também convidar a minha sobrinha, Lu Carvalho.
Mas você ainda sente dor?
Tenho a da artrose no fêmur. Esse é meu maior problema e tenho que operar, mas não quero mais isso. Vou ver até onde aguento. Faço fisioterapia e tomo remédio. Fico esperando a chegada da célula tronco.
Mas por que você ficou tanto tempo no hospital? Chegaram a falar que você tinha câncer.
Nada disso! Tinha colocado dois pinos que não seguraram a onda. Voltei para colocar mais dez . Aí esperei para fazer calo ósseo. Fora os três meses tomando antibiótico na veia. Formado o calo, ainda tirei os parafusos e fiquei mais três meses tratando com antibiótico.
Mas se você tivesse com câncer, contaria?
Não teria problema de falar. Só não gosto de me fazer de vítima. Temos que falar de coisas positivas.
Muita tristeza nesse período?
Só quando já estava perto de ir embora e tive infecção no cateter. Fiquei sem ar e fui para o CTI. Ali tive medo. É a sensação da morte. Mas nunca pensei que não voltaria ou que não cantaria mais.
Essa experiência te deixou mais chorosa, mais emotiva?
Sempre fui emotiva. Não sou de ficar chorando, mas de vez em quando não aguentava. Em geral, as pessoas ficam impressionadas com meu humor. Elas achavam que me encontrariam para baixo e saiam envergonhadas. Gosto da vida e por isso estou viva. O samba cura, a fisioterapia faz milagre e a psicanálise é fundamental.
E qual o primeiro pensamento que teve ao chegar em casa?
Não volto mais para o hospital!
Já rolou convite da Mangueira para desfilar no carnaval?
Já. O novo presidente (Chiquinho da Mangueira) mandou flores lindíssimas, rosas e verdes, falando que a casa é minha, mas não sei se vou desfilar.
E se fizessem uma homenagem a você?
Aí podemos pensar. Já me senti tão homenageada pela escola. Vários enredos tinham um pouco de mim.
E se você fosse o enredo?
É o sonho. Tomara.
O que você achou dessa nova presidência?
Ainda não sei. É muito recente para dizer.
Mas você gostou da passagem do Ivo Meirelles pela escola?
Sim. O Ivo pegou a Mangueira muito mal e o primeiro ato foi vir aqui pedir me desculpas por aquela expulsão (em 2007, a sambista foi retirada do desfile por um membro da direção da escola).
Mas você é de guardar mágoas de alguém? Tem desafetos?
Não guardo. Só às vezes acontece de não gostar da pessoa de cara. Tenho algumas desavenças, sim.
Como a Alcione? Dizem que vocês não se falam.
Claro que falo com ela. Foi muito minha amiga, frequentava minha casa, mas a vida foi nos afastando.
Você é conhecida por ter um gênio difícil...
Tenho não. Sou esporrenta, sincera, mas não tem nada disso.
E como está o coração?
Ótimo! Aposentado. Tive muitos amores, casei três vezes. E acho difícil encontrar um companheiro nessa fase.
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