Imagine a seguinte situação: em janeiro de 2012, a primeira fatura do cartão de crédito que você acabou de fazer chega à sua casa. O valor: R$ 1 mil. Como você não tem condições de pagar a conta inteira, resolve quitar somente o mínimo exigido: 15%, correspondente a R$ 150. Além disso, assustado com o valor, decide por não utilizar mais o cartão de crédito e continua, todos os meses, pagando somente o mínimo, até ficar "em dia" com a operadora.
Levando em consideração que a taxa de juros anual cobrada pelas administradoras de cartões de crédito varia de 90% a 600%, em janeiro de 2013, um ano depois, você terá que desembolsar R$ 1,9 mil (com a menor taxa) ou R$ 7 mil (com a maior taxa). Dói no bolso só de pensar, não é mesmo? Mas é o que acontece, se não houver prudência. O levantamento é resultado de cálculos feitos pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), em dezembro do ano passado.
Para que isto não aconteça, a coordenadora da entidade, Maria Inês Dolci, recomenda que os consumidores só procurem comprar com cartão de crédito quando tiverem condições de pagá-lo totalmente. "Se não, isto acabará virando uma bola de neve", alerta. "Além disso, é importante que se use apenas um cartão. Quanto mais cartões houver, maiores serão as dívidas e as dificuldades de solucioná-las", diz.
O maior vilão
A julgar pelas caríssimas consequências que o mau uso do cartão de crédito pode gerar, percebe-se que não é a toa que a ferramenta foi apontada, em dezembro, como a líder absoluta do ranking dos meios de pagamentos que mais levaram os brasileiros à inadimplência, segundo pesquisa da Boa Vista SCPC.
O levantamento indica que 64% dos entrevistados responderam que estão endividados por conta dos cartões de crédito. Em setembro, essa parcela era de apenas 37%.
Em Fortaleza, o Procon da cidade registrou, também em dezembro, que o setor foi o que mais recebeu reclamações de consumidores durante todo o ano de 2011, à frente dos bancos, da marcas de telefonia e das operadoras de celulares. E, segundo o coordenador da Comissão de Processos Administrativos e Julgamentos do Procon, Aírton Melo, a maioria das queixas é de clientes que não conseguem pagar as faturas e acabam sofrendo com juros abusivos.
"Muitos ficam pagando somente o mínimo, se endividam e procuram o Procon para tentar uma renegociação com as operadoras", revelou.
A situação tornou-se ainda mais preocupante quando o Banco Central anunciou, na semana passada, que, em dezembro de 2010, o País possuía 175,4 milhões de cartões de crédito, 11,7% superior ao registrado no mesmo mês de 2009, mostrando que a ferramenta vem ganhando cada vez mais a preferência dos consumidores brasileiros, mesmo com resultados não tão vantajosos para o bolso.
Juros
Nesta semana, a Proteste divulgou estudo dos países da América Latina onde mais há incidência de juros sobre o cartão de crédito. O Brasil ficou em primeiro lugar, conforme a pesquisa.
Como acontece
"Muitos ficam pagando somente o mínimo, se endividam e procuram o Procon para tentar uma renegociação"
Maria Inês DolciCoordenadora da Proteste.
"Bola de neve"
600 por cento é quanto pode chegar a taxa de juros acumulada em um ano, que vem sendo cobrada pelas administradoras de cartões de crédito
Periferia jovem: mais consultas no setor financeiro
São Paulo.
Um estudo da empresa de consultoria Serasa Experian indica que, do conjunto do cadastros de Pessoas Físicas (CPFs) consultados pelo sistema financeiro em 2011, 18,3% pertencem ao grupo chamado periferia jovem. Conforme a empresa, esse grupo representa 20,92% da população e é formado por jovens de baixa renda e com pouca qualificação, trabalhadores na informalidade e estudantes da periferia. Em 2010, essa parcela dos consumidores respondeu por 16% das consultas do setor financeiro.
Segundo a pesquisa, também aumentaram as consultas referentes aos grupos Brasil rural, de 11,8% em 2010 para 14,9% em 2011; envelhecendo no interior, de 3,4% para 3,8%; e assalariados urbanos, de 9% para 9,2%. No sentido contrário, aparecem empreendedores e comerciantes, cujo percentual passou de 13,3% para 12,7%; e aspirantes sociais, de 18,1% para 17,8%.
Mais consultas
O grupo periferia jovem, no período de 2008 a 2011, foi o grupo social mais consultado pelas empresas de financiamento de veículos e leasing (25,9%), pelos segmento de cartões de crédito (25,6%) e pelos bancos e financeiras com foco em empréstimos para pessoas físicas (21,3%). No segmento de consórcios, ficou em segundo lugar, com 23,6% das consultas, perdendo apenas para o grupo Brasil Rural (31,5%).
Segundo os dados, as mulheres são menos consultadas pelo segmento financeiro do que os homens (41,6% contra 58,4%). O único segmento que consulta mais CPFs de pessoas do sexo feminino é o de cartões de crédito (57). Por idade, a participação das pessoas com até 30 anos subiu de 30,5% para 33,1% do total de consultas entre 2008 e 2011, com destaque para a faixa de 19 a 25 anos. Já a participação das pessoas com mais de 40 anos de idade diminuiu nesse mesmo período (de 43,7% em 2008 para 41,1% em 2011).
Os jovens com até 30 anos de idade têm mais representatividade nos segmentos de consórcio (44,1%), financiamento de veículos e leasing (40,7%) e cartão de crédito (38,5%). No caso das pessoas com mais de 40 anos, a concentração é maior em bancos e financeiras com foco em empréstimos para pessoa jurídica (53,9%) e em bancos e financeiras de montadoras (49,7%).
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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