
Nascida em Urucuzal, extremo norte do Maranhão, Francisca Pinheiro foi alfabetizada em casa. Só aos 19 anos pôs os os pés pela primeira vez em uma escola de verdade. Hoje, aos 42 anos de idade, a ex-agricultora está prestes a ser formar em Direito e, o melhor, por seu bom desempenho garantiu bolsa integral no curso de pós-graduação de uma instituição privada de ensino.
A ex-moradora da Zona Rural maranhense quer mais agora, ela sonha com um futuro nos tribunais. “Essa é a minha vez. Quero a magistratura. Vou me tornar juíza”, diz.
Francisca é um dos 8.285 filhos de famílias da classe D (com renda familiar mensal de R$ 805 a R$ 1.114) que hoje estão conseguindo chegar às universidades do País. O dado é da PNAD 2009 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A pesquisa revelou ainda que 58% da população universitária no País (32.038 alunos) são da classe C e tem renda familiar mensal entre R$ 1.115 a R$ 4.807. RIO DE JANEIRONo Rio, 957 mil pessoas que estão na graduação em instituições particulares são das classes C e D. De acordo com Rodrigo Capelato, pesquisador do Sindicato das Entidades de Ensino Superior do Estado de São Paulo (Semesp), o aquecimento da economia brasileira atrelado aos programas assistenciais do governo, como o ProUni, e o novo posicionamento das instituições particulares de ensino superior na briga por novos alunos têm levado os filhos de famílias da classe D a sonhar, pela primeira vez, com um futuro melhor.
“Nas universidades públicas a concorrência afasta os alunos que não passaram por uma boa formação básica, como os da classe C e D. Já a guerra de preços nas entidades privadas tem contribuído com a redução das mensalidades e possibilitando a ascensão de uma nova classe no Nível Superior. Sem falar nos programas assistenciais como o ProUni e o Fies que ajudaram no ingresso da classe D à faculdade”, avalia Capelato.
DIFERENÇA SALARIAL DE R$ 2.075
Pesquisa divulgada na última semana pelo IBGE comprovou que a diferença salarial entre trabalhadores com Nível Superior e os demais chega a 225%. No Rio, o precipício que separa graduados de não graduados equivale em dinheiro a R$ 2.075, isto é, quatro salários e meio — levando em consideração o valor do mínimo de R$ 461 no ano de 2009, data dos dados coletados.
Pesquisador do Cadastro Central das Empresas (Cempre), Juarez Silva destaca que os profissionais com melhores salários estão inseridos em atividades financeiras, na Educação e Administração Pública. Por pagarem melhor, tais setores também captam profissionais de maior nível de escolarização. No extremo oposto se encontram as áreas da Construção Civil, Alimentação e Serviços, que concentram mais profissionais com níveis Médio e Fundamental.
Quando se compara as regiões do Brasil, o Sudeste se destaca. A parcela de assalariados com Nível Superior completo chega à faixa dos 63,8%. A região Sul foi a segunda colocada, com 15 % do pessoal assalariado com Nível Superior. No Nordeste, a participação de assalariados com graduação foi de 11,7%. Atrás vem no Centro-Oeste ( 6,8%) e Norte ( 2,7%). A pesquisa foi feita com 40,2 milhões de trabalhadores.
“Instituições estão aprendendo a lidar com esse público”
A inclusão da classe D nas universidades é ainda um fenômeno típico das regiões metropolitanas, como Rio e São Paulo. Segundo o pesquisador Rodrigo Capelato, o grande desafio para as instituições é encontrar mecanismos para conter a evasão escolar de estudantes nesse perfil.
“As curvas de evasão e ingresso coincidem ainda. Como esse é um novo perfil de público, é uma questão de tempo para que essa diferença se reduza. As universidades estão aprendendo a lidar com esses alunos: 90% delas já estão dando aula de nivelamento”, afirma .
Na Universidade Estácio de Sá, os estudantes que chegam do ensino básico com alguma defasagem podem contar com a ajuda do projeto Gabaritando. O reforço gratuito conta com aulas extras em 20 disciplinas e já beneficiou 80 mil.
“A Estácio sempre procurou democratizar o ensino superior e continua nessa linha. Com o passar do tempo descobrimos como acolher os alunos com deficiência educativa” diz Pedro Graça, diretor de mercado da universidade.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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