A imagem de que o DEM assistirá impassível à fuga de parlamentares para o PSD, de Gilberto Kassab, não passa de ledo engano, segundo o presidente da sigla, José Agripino (foto). Até aqui, os atuais dissidentes tiveram os movimentos pautados pela lei, o que dificultaria a ação do antigo PFL.
Mas o senador antecipa que, em caso de fusão futura com outra sigla, seja ela o PMDB ou o PSB, o contra-ataque será rápido. “Essa é uma infidelidade programada, uma infidelidade anunciada. Se houver a fusão, não tenha dúvida de que cobraremos os mandatos, um a um”, ameaça.
Em entrevista ao Correio Braziliense, o senador afirma que o partido perdeu a guerra da comunicação em momentos-chaves da recente democracia brasileira e, por isso, tem de lutar contra a pecha de ser a legenda herdeira da Arena, esteio da ditadura. Enquanto isso, a antiga Arena, que virou PDS e hoje é PP, se embala no colo governista.
Confira a entrevista de Agripino:
Como o senhor avalia a composição do PSD?
JA - A perda do prefeito é grande, mas nada que atrapalhe os planos do partido de crescer. O anunciado PSD está sendo criado a partir da presença de pessoas cujo relacionamento é recente, sem quaisquer afinidades ideológicas com Kassab. Querem criar um partido de claro viés governista. Temos de respeitar, as pessoas têm esse direito, estão amparadas pela lei.
O partido não pode pedir o mandato dos dissidentes?
JA - Isso já foi feito, mas esse caminho legal não existe. Agora, com esse partido novo criado, até que se assine a ata do partido, eles estão cobertos. Infelizmente, não tem como ir contra o que está escrito. Em caso de fusão, aí sim. A brecha é do tamanho do Congresso. Essa é uma infidelidade programada, anunciada. Se houver a fusão, não tenha dúvida de que cobraremos os mandatos, um a um. A possível fusão com o PSB é tão propagada que os órgão judiciais já estão antenados. Dentro do partido, a guerra não está ganha, ainda há muito o que harmonizar, mas minha disposição é de estabelecer o diálogo e chamar as pessoas à racionalidade.
Até que ponto o partido se enfraqueceu depois do racha?
JA - Demos uma demonstração de maturidade e capacidade de entendimento entre nossos líderes quando conseguimos eleger uma nova executiva nacional, unindo os dois grupos mais fortes do partido. Estão contidos jovens e veteranos. Ambos me pediram que eu fosse candidato a presidente. Mesmo os dois grupos estando com claro desentendimento, entendi que o pedido era uma clara intenção de promover a unidade. Agora, nosso compromisso é com nós mesmos. Pretendemos manter a aliança com o PSDB, mas antes de qualquer coisa está a preservação da identidade e interesse do Democratas.
O estado atual aproxima o partido de uma fusão?
JA - Não passa pela nossa cabeça a necessidade de uma fusão. Não é uma tese que ocupe lugar prioritário nas discussões. Caminharemos com PSDB e PPS sem dificuldade, mesmo nas alianças, eleições municipais. O segundo turno serve exatamente para quando não tivermos acordo. No segundo turno, o que lograr melhor êxito terá aliança com o outro. Há um direito partidário de apresentar candidaturas que tem de ser respeitado, incluindo a Presidência da República.
Em que momento o DEM deixou-se engolir pela imagem de único partido herdeiro da ditadura, sendo que o antigo PDS, hoje PP, está na base do governo?
JA - Perdemos a guerra da comunicação. Eu admito que sim, nos deixamos engolir. A massificação das ideias do partido que defendo coloca claramente que fomos o partido que viabilizou a transição democrática. Eu era governador, rasgamos na própria carne e rompemos com o PDS para viabilizar a eleição de Tancredo Neves, que era quem tinha compromisso com a transição democrática, não Paulo Maluf. Isso motivou a criação do PFL, mas essa ação histórica não foi massificada. Foi um erro de comunicação, mas a eleição, a morte de Tancredo e a posse de Sarney acabaram sendo mais fortes do que nosso gesto. E não cuidamos de oxigenar essa informação ao longo do tempo. Hoje se fala de Mensalão do DEM, uma ideia massificada. Mas ninguém fala que nós fomos o único partido que promoveu a expulsão de um quadro importante acusado pela prática de um ato ilícito.
Qual é a estratégia para reverter esse jogo?
JA - As ideias liberais modernas do partido têm de ser o carro-chefe. Vou visitar os estados, acompanhado de quantos companheiros possam ir. Quantos brasileiros não entendem que o Estado brasileiro está inchado e é esse inchaço que leva a um gasto público de má qualidade, incapaz de gerar recursos para investimentos. Precisamos valorizar o capital privado para que ele supra o público, quando este não for suficiente para promover o desenvolvimento necessário, como portos, aeroportos, estradas. Estamos a serviço do agronegócio produtivo e sustentável. Em outra vertente, não se pode abrir mão da preservação do meio ambiente, mas não se pode colocar isso na frente do desenvolvimento econômico. Há formas de se compatibilizar as duas coisas.
Se o PFL tivesse feito isso em 2003 não teria evitado essa crise de identidade, de fazer oposição sem um ideário?
JA - Talvez tenha havido descuido. Fizemos oposição ao que precisávamos, como o mensalão e a CPMF. Mas também descuidamos da oposição no sentido de aperfeiçoar a proposta legislativa. Na proposição, perdemos a guerra da comunicação, mas há sempre tempo de voltar.
Como se constrói hoje esse nome de unanimidade nacional que possa ser candidato à Presidência pelo DEM?
JA - Se fizermos uma avaliação, quem era Barack Obama há cinco anos? Não era figura conhecida. Se fez conhecer por ideias, posturas e circunstâncias. Temos três anos para colocar ideias e talentos em campo. Aécio Neves é um grande quadro do PSDB, grande senador, mas não sabemos sequer se é pré-candidato à Presidência. E eles sabem que o DEM, pelo seu tamanho, tem o direito de aspirar ter candidatos à governador e à Presidência. Ninguém pode tirar de nós esse direito.
Há a necessidade de uma nova oposição?
JA - A oposição que meu partido faz é uma oposição aos erros do governo. Se o governo erra, estaremos presentes. Temos de dar ênfase à questão programática, massificar nossas ideias.
Como aproximar esse ideal da Reforma Política?
JA - Nossa formulação programática fica no campo das ideias. Na Reforma Política, você não pode colocar dogmas como forma geral. Se você perguntar se o partido é a favor do fim das coligações nas eleições proporcionais, diremos que sim porque somos favoráveis ao fortalecimento dos partidos. Somos a favor da cláusula de barreira? Somos, porque defendemos a redução do número de siglas para que os partidos defendam segmentos de pensamentos. Somos favoráveis ao financiamento público? Sim, desde que com listas fechadas partidárias para votação. Mas isso são apenas ideias que o presidente está colocando, porque reforma política é a praia dos parlamentares.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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