103 ANOS DE VIDA
Oscar Niemeyer
O homem que entrou para a História do País após desenhar Brasília, agora espera ser convidado a construir um estádio de futebol moderníssimo, para deixar marca na Copa do Mundo de 2014.Um dos maiores nomes da arquitetura mundial, o centenário diz que não tem “medo de desaparecer” — como define a morte — mas admite que a saudade dos que partiram é uma grande dificuldade. Como segredo da longevidade, ele aponta o amor ao trabalho. Mas dá a dica: sempre foi desapegado de bens materiais. Em entrevista exclusiva ao BLOG, Niemeyer faz balanço da carreira e relembra projetos não realizados. BLOG: — Qual projeto profissional deixou o senhor mais orgulhoso?NIEMEYER: — Evito sempre definir preferências sobre os meus trabalhos. É evidente que tenho orgulho de inúmeras obras por mim projetadas. Agrada-me citar umas cinco ou seis: o conjunto da Pampulha — marco inaugural da arquitetura mais livre que busco realizar —, o Palácio do Congresso, a sede do Partido Comunista Francês, a Universidade de Constantine na Argélia, o Centro Administrativo por mim desenhado para o governo do estado de Minas Gerais, projetos a que seria possível acrescentar o Centro Cultural Internacional, criado bem recentemente para a cidade de Avilés, na Espanha.Algum projeto inédito ainda não realizado? Qual?Um estádio de futebol moderníssimo que espero que me seja encomendado...Existe algum trabalho que gostaria de ter feito e não fez (porque impediram o senhor ou porque desistiu)? Além disso, há algum feito profissional do qual se arrepende?O projeto que queria ter feito e não fiz é a mesquita por mim desenhada para Argel. Mas entre os projetos que realizei, não me arrependo de nada. (Niemeyer projetou a Mesquita de Argel, na Argélia, em 1968. Ele elaborou uma mesquita colocada sobre o mar, para surpresa de todos, e ligada à costa por um pontilhão que a circunda e protege dos inconvenientes das ondas. Com essa solução, propôs-se a introduzir na Argélia uma arquitetura diferente e mais audaciosa. O projeto, porém, não saiu do papel).O senhor continua se considerando comunista? O que mudou na sua visão política ao longo de seus 103 anos?
É claro, não mudou. A perspectiva de se promover a derrocada do capitalismo e de chegarmos a um modelo de uma sociedade mais justa e solidária ainda me entusiasma.Como é ser um centenário? De que sente mais saudade? O que teme?
Ter cem anos não é uma situação tranquila. Não é o medo de desaparecer que mais me aflige. O que me aperta o peito, em especial, é a saudade dos que partiram — meus pais, todos os meus cinco irmãos, meus amigos tão queridos, incluindo os meus companheiros de luta política.Que personalidade brasileira admira? Por que?Luís Carlos Prestes. Afinal, Prestes sacrificou muito de sua vida pelo Brasil.Qual a sua principal qualidade e defeito? Qual sua marca profissional?Meus amigos reconhecem que a minha principal qualidade é a persistência em me fazer sempre solidário com eles. É provável que o meu defeito mais sério deva ser avaliado à luz de minhas alegadas qualidades — ou seja, o meu desprendimento em relação a dinheiro. Uma posição que talvez tenha herdado de meu avô materno, Ribeiro de Almeida. Em sua casa passei toda a infância e grande parte de minha mocidade. Quanto a minha marca profissional, é possível afirmar que esta reside no zelo com que procuro a forma mais inventiva, com que tento promover a surpresa arquitetural.O que acha das mudanças no Sambódromo?Trata-se de um projeto meu voltado para a ampliação do Sambódromo, uma ampliação que se impunha há bastante tempo. Tudo está aprovado por mim e será desenvolvido sob a minha supervisão por dois arquitetos de minha inteira confiança, Jair Valera e João Niemeyer.Qual o segredo da longevidade?Acredito que não haja, a esse propósito, segredo simples de desvendar. É claro que sempre gozei de boa saúde, e o entusiasmo pelo trabalho — o de arquiteto, o de editor da revista ‘Nosso Caminho’ — comparece como um estimulante fundamental.Postado Por:Daniel Filho de Jesus
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