'Eu esperei 60 anos para ser chamado de presidente. E você, nesta idade, já é chamado assim?’. Num amplo salão de leitura do Copacabana Palace, sentado no colo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o garoto de 7 anos, que tem na certidão de nascimento o nome do operário que chegou ao cargo mais importante do País, faz cara de envergonhado, mas confirma: “Sou sim, presidente”. O momento não poderia ser mais especial para ambos. É o encontro de dois personagens de uma história brasileira, baseada em fatos reais e com final feliz.
“Acho que esse é o grande legado que vai ficar no Brasil depois que eu deixar a Presidência: as pessoas vão perceber que elas podem. Não existe limite para o ser humano quando ele quer as coisas. E obviamente que um menino como esse, criado no Rio, com o pai e a mãe com uma condição certinha, vai ter muito mais condições do que eu tive, estudar muito mais do que eu estudei e chegar aonde cheguei. E só não pode ser mais (risos) porque não tem cargo mais importante que o do presidente”, disse Lula.
‘EU ERA MAIS FEIO DO QUE VOCÊ’
As lembranças do passado do presidente pareciam recontar a história da família Silva. Emocionado, Lula disse que foi uma opção corajosa a que Francisco tomou ao tentar a vida na capital carioca. “É uma decisão difícil sair da sua terra natal e entrar dentro do ônibus e falar: ‘Vou embora para o Rio de Janeiro para tentar a vida’. Chegar aqui, neste mundaréu de coisas, sem conhecer ninguém... Uma das coisas que admiro muito da minha mãe é como uma mulher coloca oito filhos dentro de um pau-de-arara para ir para São Paulo tentar a sorte. E acho que isso é uma aventura de quem tem coragem: não ficar esperando a sorte passar. Ela está por aí, em algum lugar. E, se a gente teimar, consegue chegar nela e vencer na vida”.
A mudança do Rio Grande do Norte, feita há nove anos, foi contada por Itônia a pedido de Lula, que queria saber detalhes de como eles fizeram a viagem de ônibus. “Vieram quantos no seu colo?”, perguntou ele, indicando que já sabia que a mãe tinha dinheiro apenas para uma única passagem. “Três: Fernando, Juvenal e Jaíne” — o mais velho, Felipe, ficou com os avós e só veio para o Rio, de avião, este ano. “Quantas horas de viagem?”, emendou o presidente. “Trinta e seis”, respondeu a mãe de Lulinha. Francisco, então, provocou: “Pouca coisa. O senhor passou 15 dias para chegar aqui, amigo. Ela chegou em 36 horas”. Lula olhou para o pai dos meninos e devolveu: “Mas eu vim sentado no banco. Não vieram três no colo”.
A franqueza não surpreendeu, muito menos criou saia-justa. Lula arrancou risadas em muitos momentos da conversa, que durou quase uma hora. Um deles foi quando soube o time de Lulinha. “Flamenguista, ‘presidente’? Quando você ficar bom de bola vai para o Corinthians. Nada de Flamengo, São Paulo, Fluminense... E ainda dá para você jogar perto do Ronaldão. Ele, com aquele corpão todo... Imagina você magrinho assim...”
Antes de deixar o salão, Lula abraçou o menino do Camarista Méier e desejou sorte: “Acho que Deus foi muito generoso comigo. Não era normal acontecer comigo o que está acontecendo. Nós provamos que é possível fazer muita coisa. E esse menino pode fazer muita coisa. O importante é que ele seja um homem de bem. Uma pessoa que respeita o pai e a mãe, goste dos seus irmãos e estude para depois trabalhar e ganhar a vida dignamente. Acho que é isso que está reservado para ele”. Na despedida, avisou: “O seu pai, a sua mãe e, agora, o Lulão vão ficar de olho em você. Então, estude e seja um bom aluno”.
Postsdo Por:Daniel Filho de Jesus
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