Quinze meses após três pessoas serem executadas no apartamento 601/602 do Bloco C 113 Sul a Polícia Civil do Distrito Federal dá sinais de ter encontrado o rumo na investigação do caso. Depois de tantas idas e vindas, prisões de inocentes, prova plantada, mudanças de delegados e até consultoria de uma vidente, apareceu alguém assumindo envolvimento nas mortes do ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) José Guilherme Villela, 73 anos, da mulher dele, Maria Carvalho Mendes Villela, 69, e da empregada Francisca Nascimento da Silva, 58. Nas duas últimas semanas, dois homens confessaram a participação no triplo assassinato e um terceiro foi preso. Mas os depoimentos também não são claros. Os acusados mudaram as versões em interrogatórios realizados por unidades diferentes. E ainda faltam provas periciais. Nem as armas do crime apareceram.
A investigação teve uma reviravolta no ultimo dia 15, quando policiais da 8ª Delegacia Polícia (SIA) surpreenderam até a direção da Polícia Civil ao prender um ex-zelador do Bloco C da 113 Sul, Leonardo Campos Alves, 44 anos, em Montalvânia (MG), a 640km de Brasília. Até então, o caso estava sob restrita responsabilidade da Coordenação de Investigação de Crimes Contra a Vida (Corvida). Em depoimento na cidade mineira, Leonardo confessou a participação no triplo assassinato e apontou outro morador de Montalvânia como comparsa, seu sobrinho Paulo Mota Cardoso, 23 anos. Ele estava preso na cadeia do município desde agosto, acusado de ter roubado e matado a pedradas o cozinheiro da empreiteira responsável pelo recapeamento da rodovia que liga Montalvânia a Manga. Ambos foram transferidos para o DF, onde prestaram depoimento na Corvida e mudaram suas versões, sem alegar inocência.
Bens levadosAinda em Montalvânia, Leonardo apontou dois receptadores das joias levadas do apartamento dos Villela. Donos de lojas no Shopping Popular de Montes Claros (MG) — a 340km de Montalvânia e 560km de Brasília —, ambos admitiram ter comprado as peças e vendido celulares em troca de dólares, mas alegaram não saber a procedência das joias e das notas. Derreteram quase todos os itens de ouro, restando apenas um pingente que os filhos de Maria Villela reconheceram ser dela. Por não haver flagrante, os comerciantes respondem a processo por receptação em liberdade. Apuração da Polícia Civil do DF estima em mais de R$ 700 mil o valor das joias e dólares levados do apartamento 601/602. Ainda não se sabe a quantidade certa.
Após a prisão, a delegada Deborah Menezes, chefe da 8ª DP, anunciou a elucidação do caso da 113 Sul, tendo apenas Leonardo Alves e Paulo Cardoso como autores de um latrocínio. Era a terceira versão apresentada pela Polícia Civil do DF para o crime ocorrido em 28 de agosto de 2009. Nas outras duas vezes em que anunciou a solução do caso, a corporação prendeu 10 acusados de participação direta ou indireta. A versão anterior até virou processo na Justiça, tendo a filha do casal assassinado, Adriana Villela, 46 anos, como principal ré. Apontada como a mandante das mortes dos pais e da principal empregada da família, ela ainda poderá ir a júri popular. O juiz-presidente do Tribunal do Júri de Brasília, Sandoval Gomes de Oliveira, recebeu em 1º de outubro a denúncia do Ministério Público do Distrito Federal (MPDF) contra Adriana.
MaterialidadeNa decisão em que acatou a denúncia contra a ré e outros cinco acusados, o juiz Sandoval de Oliveira afirmou haver indícios da participação deles: “A materialidade dos crimes de homicídio encontra-se devidamente respaldada nos Laudos de Exame de Corpo de Delito, dando conta de que o perecimento das vítimas se deu em face dos ferimentos provocados pelos golpes de arma branca descritos. Pertinente ao furto, malgrado não se tenha colacionado a necessária prova da valoração econômica das joias desaparecidas, nada impede que isso ocorra durante a instrução”.
BARBÁRIEO casal Villela e a principal empregada da família foram mortos a facadas em 28 de agosto de 2009, mas os corpos foram encontrados somente três dias depois. As vítimas levaram, ao todo, 73 facadas, segundo laudo pericial da Polícia Civil do Distrito Federal.
Depois de uma batalha pública pelo inquérito da 113 Sul, travada entre as delegadas Deborah Menezes, da 8ª DP, e Mabel de Faria, da Corvida, o caso ganhou a quarta e atual versão oficial. Leonardo Alves e Paulo Cardoso foram trazidos para o DF, onde já estava preso o terceiro acusado, Francisco Mairlon Aguiar, 22 anos, morador do Pedregal, bairro do Novo Gama (GO). O chefe da unidade, delegado Luiz Julião Ribeiro, assumiu todos os interrogatórios. Na Corvida, o ex-zelador do Bloco C mudou parte do depoimento anterior, apontando uma mandante, a arquiteta Adriana Villela, fillha de José Guilherme e Maria Carvalho. Luiz Julião não dá entrevista. Promotor do caso, Maurício Miranda dá total apoio à Corvida e diz que coordenação tem provas contra Adriana. Já a arquiteta e seus advogados rechaçam a acusação e afirmam não haver provas do envolvimento dela no crime.
Para Rodrigo Alencastro, um dos defensores de Adriana, é surpreendente que, mesmo após a guinada nas investigações, a polícia insista em “conclusões precipitadas que não fazem qualquer sentido porque já foram exaustivamente esclarecidas”. Ele destacou que a filha dos Villela sempre foi coerente em seus depoimentos. “É preciso aprofundar com cuidado as investigações e checar, principalmente, os aspectos que podem trazer alguma certeza para o que realmente aconteceu”, observou.
Alencastro lembrou que Adriana Villela sempre apontou a necessidade de se aprofundar as investigações sobre o ex-porteiro Leonardo Alves e que, apesar a disso, “a Corvida não achou necessário nem sequer ouvi-lo formalmente”. O advogado defende que a análise do inquérito policial aponta que a possibilidade de ter havido um latrocínio (roubo com morte) em 28 de agosto é muito mais coerente. (RA)
PRÓXIMOS PASSOSNa próxima semana, o promotor do caso, Maurício Miranda, deve pedir segredo de Justiça no caso que ganhou repercussão nacional. A acareação e a reconstituição do crime devem ocorrer também nos próximos dias.
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