Enquanto o foco da discussão política atual está no segundo turno da campanha presidencial, cresce o apelo aos eleitores cristãos. Tanto Serra quanto Dilma modificaram algumas de suas posições e se pronunciam contra questões controversas como aborto e reconhecimento da união homossexual. O que muita gente ignora é que esse tipo de mudança de legislação precisa ser discutido e aprovado na Câmera e no Senado, não é atribuição do novo presidente, seja ele ou ela quem for.
O novo Congresso terá uma bancada de, pelo menos, 154 deputados e 24 senadores defensores dos direitos dos homossexuais. A Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) considera esse levantamento ainda preliminar. A partir de agora, a entidade começará os contatos com os deputados e senadores eleitos em busca de mais adesões para a causa.Foram definidos como “aliados”, os parlamentares que já integram a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT, os candidatos que assinaram o Termo de Compromisso da ABGLT nas eleições de 2010, Voto contra a homofobia, defendo a cidadania, e os deputados e senadores que já fizeram declarações públicas e atuaram a favor dos direitos humanos de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais.
“Aumentou muito (a bancada). Estão citadas as pessoas que temos certeza que são aliadas. Essas pessoas já se posicionaram publicamente e ainda vamos conversar com as outras que foram eleitas”, afirmou o presidente da associação, Toni Reis. Ele considera que, depois dos contatos com os novos parlamentares, não será difícil ultrapassar a bancada deste mandato de 220 parlamentares aliados.
Embora a concentração de aliados esteja entre os partidos chamados de esquerda, os apoiadores da causa LGBT estão em várias legendas. “Nós temos estabelecido muitas pontes com pessoas que não são fundamentalistas evangélicas e que concordam conversar. Não queremos fazer uma guerra santa e ficar batendo boca com os fundamentalistas que não nos respeitam”, disse Reis. “Não queremos destruir a família de ninguém nem afrontar os dogmas da igreja. O que nós queremos é um País em que não haja discriminação.” A associação considera relevante o fato de parlamentares apoiadores da causa estarem entre os eleitos em primeiro lugar. “Em dez Estados pessoas que nos defenderam como aliados ou como integrantes da Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT foram campeãs de voto nas eleições para deputado federal. Isso mostra que não é uma maldição”. Entre eles estão Manuela D”Ávila (PC do B-RS), ACM Neto (DEM-BA), Gastão Vieira (PMDB-MA) e Reguffe (PDT-DF).
Na nova bancada parlamentar, estará o Ex-BBB Jean Wyllys (deputado federal-PSOL-RJ), considerado o primeiro gay ativista eleito para a Câmara. O ex-deputado Clodovil Hernandes, morto em março do ano passado, apesar de ser homossexual assumido não era considerado ativista da causa pela associação. O levantamento da associação mostra que dez governadores, entre os 18 já eleitos, também são aliados da causa.
Entre as principais reivindicações do movimento LGBT estão a aprovação do projeto de união civil entre pessoas do mesmo sexo, a aprovação de leis que combatam a violência e a discriminação contra a comunidade LGBT e a adoção do nome social para as pessoas transexuais. Os evangélicos ganharam peso nas eleições deste ano. A bancada de deputados federais saltou de 39 deputados eleitos em 2006 para 64 e já representa 12,5% da Câmara. Por outro lado, a bancada católica encolheu para 21 representantes. “Um dos fatores é o crescimento do número de fiéis evangélicos pelo país”, diz o deputado João Campos(PSDB-GO), presidente da Frente Parlamentar Evangélica e pastor da Assembleia de Deus.
O pastor estima que os evangélicos já correspondam a 25% da população brasileira. No último Censo feito no país, em 2000, os evangélicos eram 15,4% da população. Os católicos correspondiam a 73,6%. “Houve crescimento forte com grande renovação dos deputados eleitos com o voto da igreja”, diz a pesquisadora do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) Viviane Sena.
Os partidos que mais representarão os evangélicos na Câmara serão PSC, PR e PRB. O PSC é quase todo ligado à Assembleia de Deus. O partido ganhou força nas eleições de 2002 ao apoiar o então candidato a presidente da República do PSB, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, da Igreja Presbiteriana, campeão de votos no Rio como deputado federal pelo PR. Todos os oito deputados do PRB são da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
Outros partidos pouco associados à religião fizeram alguns de deputados entre os religiosos. É o caso de Gabriel Chalita, carismático da Igreja Canção Nova, do PSB de São Paulo. Chalita foi o segundo deputado mais votado do país, com 550 mil votos, perdendo apenas para o comediante Tiririca (PP-SP).
Outro caso de sucesso eleitoral é Bruna Furlan (PSDB-SP), da Igreja Cristã do Brasil, da ala pentecostal dos evangélicos. Filha do prefeito de Barueri (SP), Rubens Furlan, Bruna foi a terceira deputada mais votada no Brasil. Recebeu 269 mil votos. Os evangélicos elegeram ainda cantores gospel, como Marcelo Aguiar (PSC-SP), da Igreja Renascer, e Lauriete Almeida (PSC-ES), da
O PT tem cinco representantes dos católicos. Três deles são ordenados – padre Luiz Couto, reeleito na Paraíba; padre João, de Minas Gerais e padre Tom, de Roraima. Outro que já faz parte da Frente Católica é o padre José Linhares (PP-CE), reeleito.
De diferentes partidos, a Frente Evangélica se une contra questões como aborto, eutanásia, infanticídio em áreas indígenas, casamento gay e legalização das drogas. Para outras questões além da discussão de temas ligados ao que chamam de valorização da vida e de valores da família, cada parlamentar segue a orientação de seu partido na hora de votar no plenário. “Os evangélicos estão presentes em diversos partidos. Não há interesse em ter alinhamentos partidários”, diz o pastor João Campos.
Entre os católicos, a divisão política é mais nítida. O candidato a deputado derrotado Paulo Fernando Costa, do PTB do Distrito Federal, assessor da Frente Católica e do movimento pró-vida, diz haver um viés “contra Dilma, contra o PT” na bancada católica. “Fomos contra o presidente Lula”, diz. Os deputados do PT, no entanto, não fazem oposição em questões fora do espectro dos valores defendidos pela frente.
Postado Por:Daniel Filho de Jesus